Defesa da democracia

Chefes dos Poderes se reúnem e avaliam estragos após vandalismo no STF

Autor

10 de janeiro de 2023, 10h49

Os chefes dos três Poderes e os governadores dos 27 etados da federação se reuniram na noite desta segunda-feira (9/1) para condenar os atos de terrorismo em Brasília e reforçar a defesa da democracia. Após o encontro no Palácio do Planalto, as autoridades caminharam juntas até o Supremo Tribunal Federal, onde avaliaram os estragos.

STF
STFPresidente Lula e ministros do STF avaliam danos após vandalismo no Supremo

A reunião foi conduzida pelo presidente Lula e contou com a presença dos presidentes do STF, ministra Rosa Weber, da Câmara, deputado Arthur Lira, e o interino do Senado, senador Veneziano Vital do Rêgo. Os ministros da Suprema Corte Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski também participaram do encontro no Planalto.

Bastante emocionada, Rosa Weber lamentou a destruição na sede do STF, mas garantiu que o Judiciário vai se reerguer. "O Supremo foi duramente atacado. Mas vamos reconstruir tudo e, em 1º de fevereiro, abriremos o ano judiciário", afirmou a ministra. 

Ela também agradeceu a iniciativa do fórum dos governadores de convocar a reunião e de "testemunhar a unidade nacional, de um Brasil que todos nós queremos, no sentido da defesa da nossa democracia e do Estado Democrático de Direito". 

O procurador-geral da República, Augusto Aras, também participou da reunião e reafirmou o compromisso do Ministério Público com a defesa do regime democrático e com a responsabilização de todas as pessoas envolvidas nos atos violentos. Segundo Aras, há pelo menos dois anos o MPF vem adotando medidas para monitorar, controlar e fiscalizar atos que possam resultar em violência social.

"Temos que apenas, neste momento, não só hipotecar a nossa solidariedade aos poderes constituídos, mas também declarar o nosso amor à democracia, única opção de regime político que temos. O único regime político do Brasil e que está na Constituição Federal, mais nenhum", afirmou o PGR.

Em busca dos financiadores
Em discurso aos governadores, o presidente Lula agradeceu pela solidariedade prestada e fez duras críticas aos grupos envolvidos nos atos de vandalismo.   

"Vocês vieram prestar solidariedade ao país e à democracia. O que nós vimos no domingo foi uma coisa que já estava prevista. Isso tinha sido anunciado há algum tempo. As pessoas não tinham pautam de reivindicação. Eles estavam reivindicando golpe, era a única coisa que se ouvia falar. E golpe não vai ter", disse.

O presidente também criticou a ação das forças policiais e disse que é preciso apurar e encontrar os financiadores dos atos. "A polícia de Brasília negligenciou. A inteligência de Brasília negligenciou. É fácil a gente ver os policiais conversando com os invasores. Não vamos ser autoritários com ninguém, mas não seremos mornos com ninguém. Nós vamos encontrar quem financiou".

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que as investigações em curso devem resultar em novos pedidos de prisão preventiva e temporária, principalmente contra os financiadores.

Governadores com a palavra
Um governador de cada região usou a palavra para prestar solidariedade aos chefes dos Poderes. Pela região norte, falou o governador do Pará Hélder Barbalho, que articulou o encontro em nome do fórum de governadores: "O fórum respeita as diversas matizes políticas que compõem a pluralidade ideológica e partidária do nosso país, mas todos têm uma causa inegociável, que nos une: a democracia."

"Essa reunião significa que a democracia brasileira vai se tornar ainda mais forte", disse o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, em nome da região sudeste. A governadora Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, falou da indignação com as cenas de destruição dos maiores símbolos da democracia e pediu punição aos golpistas.

Fábio Pozzebom/Agência Brasil
Fábio Pozzebom/Agência BrasilGovernadores e chefes dos três Poderes se reuniram em defesa da democracia

"Foi muito doloroso ver as cenas em Brasília, a violência atingindo o coração da República. Diante de um episódio tão grave, não poderia ser outra a atitude dos governadores do Brasil, de estarem aqui. Esses atos não podem ficar impunes", afirmou Fátima Bezerra, em nome da região nordeste.

Pela região sul, coube ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, destacar algumas das ações conjuntas deflagradas pelos estados, como a disponibilização de efetivos policiais para manter a ordem no Distrito Federal e a desmobilização de acampamentos golpistas em frente a quartéis militares.

"Além de estar disponibilizando efetivo policial, estamos atuando de forma sinérgica em sintonia para a manutenção da ordem nos nossos estados", disse Leite. 

A governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão, disse que o governo da capital "coaduna com a democracia" e lembrou da prisão, até o momento, de mais de 1,5 mil pessoas por envolvimento nos atos de vandalismo.

Celina Leão substitui o governador Ibaneis Rocha, afastado na madrugada desta segunda, por decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes. Ela aproveitou para dizer que o governador afastado "é um democrata", mas que, "por infelicidade, recebeu várias informações equivocadas durante a crise".

Caminhada até o STF
Após a reunião, os chefes dos Poderes e os governadores desceram juntos a rampa do Palácio do Planalto e caminharam até o STF, o prédio mais danificado pelos golpistas, para verificar os danos no local. Além de Rosa, Barroso, Toffoli e Lewandowski, o ministro Alexandre de Moraes também acompanhou a visita.

Ao final da visita, o ministro Barroso lembrou que os estragos foram provocados por um pequeno grupo minoritário que não representa o Brasil e que o momento deve ser de união nacional. Para o ministro, os fatos devem ser apurados com rigor e punidos de acordo com a lei e o devido processo legal.

"Não são patriotas, são pessoas que envergonham a pátria. Até o Cristo essa gente que fala em Deus arrancou da parede e jogou no chão. O terrorismo não é a cara do Brasil. Essa gente será empurrada para a margem da história. O que precisamos é da volta da civilidade ao país", afirmou Barroso.

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!