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Busca da PF contra pessoas ligadas a Bolsonaro mira venda ilegal de presentes

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11 de agosto de 2023, 12h56

Por ordem do Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal promoveu busca e apreensão contra quatro pessoas ligadas a Jair Bolsonaro (PL) por suspeitas de que vendiam ilegalmente no exterior presentes oficiais dados ao ex-presidente. 

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Relógios doados teriam sido vendidos no exterior
Reprodução/PF

A operação foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes e mira Mauro Cesar Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid; Frederick Wassef, advogado que já defendeu o ex-presidente e familiares em diversos processos; e Osmar Crivelatti, tenente do exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. 

Alexandre autorizou a apreensão de computadores, tablets, mídias externas de armazenamento, como pendrives, CDs e DVDs, máquinas fotográficas e arquivos relacionados à venda de presentes oficiais.

A apuração tocada pela PF mira a venda de presentes oficiais dados a Bolsonaro e que foram ilegalmente vendidos. Em muitos casos, o desvio envolve relógios Rolex que o ex-presidente ganhou durante seu mandato. 

Presidentes só podem manter em seu acervo pessoal presentes de até R$ 100. Itens de valor elevado são considerados patrimônio da União.

A operação foi solicitada após a PF ter acesso a diversas conversas envolvendo a negociação dos presentes. Uma delas, assim como extratos, dão conta de que um dos relógios chegou a ser vendido por R$ 346 mil. 

"A análise de dados armazenados na nuvem de Mauro revelou uma fotografia que registra um comprovante de depósito no valor total de US$ 68.000,00, realizado na data de 13 de junho de 2022, mesmo dia em que Mauro Cid se deslocou para a sede da empresa Precision Watches. Este valor correspondia, na data do pagamento, ao montante de R$ 346,983,60", diz trecho da decisão de Alexandre. 

Além de relógios, os supostos desvios envolvem esculturas, canetas, aneis e abotoaduras. A PF também encontrou um kit de joias em um site de leilão. O valor esperado pela arrecadação dos itens era de R$ 586 mil. 

"A análise dos dados armazenados no telefone celular aprendido em poder de Mauro Cesar Barbosa Cid revelou indícios de que houve desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao Presidente da República ou agentes públicos a seu serviço, e posterior ocultação da origem, localização e propriedade dos valores provenientes", diz Alexandre na decisão. 

Segundo a investigação, parte dos valores foi depositado na conta bancária de Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid. Em alguns casos, os bens não eram submetidos à catalogação pelo Gabinete Adjunto de Documentação Histórica e teriam sido desviados, "de forma direta, ao patrimônio do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro", diz Alexandre. 

"Em conclusão, as investigações da Polícia Federal apontaram que o
eixo relativo ao desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por
autoridades estrangeiras está diretamente ligado ao eixo de 'uso da
estrutura do Estado para obtenção de vantagens'", conclui a decisão. 

Após o TCU decidir que Bolsonaro deveria devolver uma série de presentes, teria sido iniciada uma espécie de "operação resgate", segundo Alexandre. A partir da decisão, pessoas ligadas ao ex-presidente, entre elas o advogado Frederick Wassef,  passaram a tentar reaver itens vendidos para esconder a venda ilegal. 

"Há robustos elementos de prova no sentido que os bens extraviados, provavelmente com o uso do avião presidencial em 30/12/2022, foram objeto de verdadeira Operação resgate, com objetivo de esconder o fato de que haviam sido alienados", diz a decisão. 

Mauro Cid
Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro foi preso por ordem de Moraes em maio. A investigação sobre a venda ilegal de presentes tem como base conversas encontradas em aparelhos de Cid. 

A prisão, no entanto, foi por outro motivo: a inserção de dados falsos de vacinação contra a covid no sistema do Ministério da Saúde. 

Clique aqui para ler a decisão
Pet 11.645

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