Importância da alfabetização cultural para o patrimônio
7 de julho de 2022, 15h12
Protestar ou multar turistas que não respeitam o patrimônio cultural das cidades europeias parece não ter mais efeito. Além de continuarem a jogar lixo nas ruas, comer, beber e dormir em monumentos históricos, como no cavalo de Vittorio Emanuele 2, na Piazza Duomo, em Milão, virou corriqueira a prática de atos de vandalismo.
Tanto é assim, que o verão europeu nem bem começou e já ocorreram dois episódios graves em Roma. Ambos na mais famosa escadaria italiana, situada na Piazza di Spagna, inaugurada pelo Papa Bento 13 e projetada entre 1723 e 1726 pelo arquiteto romano Francesco De Sanctis para ligar a praça à igreja da Trinità dei Monti. Em maio, um turista saindo de uma boate durante a madrugada, desceu e subiu as escadas em alta velocidade com o seu SUV de quase duas toneladas, causando enorme dano aos degraus da escadaria [1]. Uma semana depois, um casal de turistas americanos, deliberadamente, lançou um patinete elétrico alugado, destruindo outros degraus da escadaria feito de mármore travertino [2].
Muitos propõem como uma possível solução aumentar a quantidade de câmeras de vigilância ou mesmo de vigilantes. É claro que em alguns casos podem funcionar como dissuasores e ser úteis na identificação e na imputação de responsabilidade aos causadores dos danos. De fato, nos próximos meses, além da instalação de novas câmeras, a superintendente da cidade de Roma, Cinzia Esposito, anuncia a possível colocação de vigilantes permanentes como forma de evitar que esses atos de vandalismo ocorram [3].
Contudo, a visão de que se reduz o problema de vandalismo contra o patrimônio cultural com vigilância e punição já se mostrou ineficaz e simplista. Tanto é assim que a cada ano que passa os atos aumentam e estão se proliferando por outras partes do mundo, evidenciando a falta de atenção e desrespeito não somente com o patrimônio cultural, mas igualmente com todo o território: moradores, casas, praças e lugares de vida.
Revela-se desta forma um profundo desconhecimento civilizatório da maioria dos turistas. Não conseguem entender a importância e a necessidade da preservação desses monumentos como memória, como história e cultura coletiva da humanidade.
Diante desse cenário, uma discussão que se tem colocado em evidência seria a educação patrimonial como forma de proteção ao patrimônio cultural. Efetivamente, parece ser a melhor estratégia para uma solução eficaz do problema.
A alfabetização cultural possibilita ao indivíduo uma maior compreensão do mundo em que vive, tornando-o capaz de entender a sua trajetória sociocultural, histórico-temporal e, principalmente, de adquirir uma consciência civil, valorizando e respeitando a sociedade e o patrimônio cultural.
A educação patrimonial, infelizmente, ainda não parece ser prioridade nas escolas da maior parte do mundo. Casos de vandalismo, como demolição, mutilação de estátuas, fontes, artefatos, pinturas que desfiguram o patrimônio cultural e artístico continuam ocorrendo quase que diariamente em várias regiões.
A única maneira de lidar com esse terrível flagelo é investir na educação patrimonial e cívica, conscientizando o senso de responsabilidade das pessoas, ajudando-as a compreender a importância da cultura e o respeito ao legado da humanidade representada através do patrimônio artístico e histórico mundial.
Notas e referências:
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