Opinião

A descabornização e a falácia da indústria de aço

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27 de dezembro de 2022, 13h11

A preservação do meio ambiente, por meio da descarbonização, uma alternativa sustentável aos combustíveis fósseis como fonte de energia, é hoje uma realidade em todo o mundo e vem sendo estimulada pelos governos, pelas empresas e pelas pessoas físicas. Com a redução da emissão de gás carbônico, espera-se diminuir o aquecimento do planeta, que vem aumentando de forma preocupante nas últimas décadas.

Yulia Grogoryeva
Yulia Grogoryeva

Na última reunião da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, a COP27, realizada em novembro deste ano no Egito, ficou claro que há uma necessidade urgente de evitar um aquecimento do planeta acima de 1,5 grau Celsius até 2030, sob o risco de uma grave ameaça à sobrevivência da humanidade. Todos os segmentos da sociedade, principalmente nos países ricos, os maiores poluidores, têm de buscar formas de contribuir para a preservação de nosso planeta.

Nada mais correto, portanto, do que buscar a descarbonização. Mas, em alguns setores da economia, particularmente na indústria de aço brasileira, tem se usado o meio ambiente como bandeira para ganhos econômicos, em uma prática condenável de greenwashing, com pouca efetividade prática na produção. Apesar das constantes divulgações de supostas ações das usinas siderúrgicas em favor da descabornização e sustentabilidade em suas operações, não é isso que se vê no dia a dia.

No Brasil, o aço está cada vez menos verde se comparado com a indústria do setor no resto do mundo. Aqui, ainda se utiliza menos de 30% de sucata metálica na produção do aço, comprovadamente uma das medidas que mais contribuem para tornar a fabricação mais sustentável e menos poluente pelas usinas siderúrgicas. A média mundial é acima de 32%; em algumas regiões do planeta uso da sucata na produção tem um percentual ainda maior.

Para a desabornização do aço, além disso, há uma série de tecnologias novas, já empregadas em outros países, mas ainda não utilizadas no Brasil, como, por exemplo, o hidrogênio verde e o gás natural, alternativas com ótimo potencial para auxiliar no processo de redução das emissões de CO2, o grande vilão do meio ambiente.

Apesar do papel essencial da sucata metálica em todo o mundo, a indústria de aço tenta, de todas as formas, inibir a exportação do insumo. A exportação passou a ser, nos últimos anos, uma das principais alternativas que as empresas de coleta, reciclagem e transformação da matéria-prima, mais de 5,6 mil espalhadas pelo Brasil, encontraram para sobreviver em um mercado interno hoje controlado pelas grandes siderúrgicas de aço, que determinam a demanda e preços, como um oligopólio. As usinas argumentam que a sucata é um novo pilar para a descarbonização da produção de aço, daí haveria a necessidade do controle nas vendas externas.

Essa é uma falácia da indústria de aço, muito difundida. Na verdade, as empresas de comercialização de sucata sempre deram prioridade ao mercado interno, só exportando o excedente de produção. O índice de reciclagem do aço no Brasil é atualmente acima de 98%, como demonstram estudos das empresas de aterro sanitário. Apenas 2% dos materiais encontrados nos aterros são metais, pois esses materiais têm valor de revenda e não ficam parados poluindo o ambiente como outros insumos.

Não se justifica tentar controlar a mercado de sucata no Brasil, com o argumento de que "exportar sucata é exportar oxigênio", de acordo com a indústria de aço brasileira.

O planeta é um só. A matéria-prima usada em outros países ajuda igualmente na descabornização e redução das emissões de gases de efeito estufa. A Amazônia é o maior exemplo da importância de preservação ambiental em todo o planeta. O controle do desmatamento e das queimadas no Brasil ajuda todas as nações, assim como a sucata pode contribuir para melhorar o nosso planeta de forma global.

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