Opinião

Método de anotação para produtividade e eficiência na aprendizagem

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30 de agosto de 2022, 9h06

Anotar é uma habilidade essencial para quem trabalha com textos. Quando não adotamos uma técnica eficiente de anotação, desperdiçamos tempo procurando a informação em uma consulta futura e deixamos de processar na memória a informação recebida. Assim, um bom método de anotação proporciona mais produtividade e mais eficiência no processo de assimilação do conhecimento, além de garantir um banco de ideias para uso futuro. Isso vale tanto para anotação de livros quanto de artigos e até mesmo processos judiciais.

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Imagine, por exemplo, ter que entender todos os detalhes de um processo judicial complexo com milhares de páginas. Ou passar cinco anos em pesquisas acadêmicas para escrever uma tese de doutorado. Ou estudar vários livros e aulas ao mesmo tempo para passar em um concurso público. Sem um sistema inteligente de anotação, é impossível ter sucesso.

Não há uma técnica universal de anotação. A opção depende muito do tempo disponível, do estilo pessoal e da importância do texto para o seu propósito. Um princípio básico é o seguinte: quanto mais importante for o texto, mais detalhado e sofisticado deve ser o sistema de anotação. Assim, nada impede que você misture alguns métodos de anotação, mesclando informações textuais, visuais e auditivas, seja durante a leitura, seja após a leitura.

Ao longo de vários anos produzindo textos acadêmicos, preparando-me para concursos, solucionando processos de alta complexidade e escrevendo dissertação de mestrado e tese de doutorado, elaborei um método eficaz de anotação que se divide em três fases.

Na primeira fase, procuro fazer anotações no próprio material durante a leitura (marginalia). É um processo simples em que costumo colocar setas indicando um parágrafo importante, um colchete no trecho relevante e um círculo nas palavras-chaves do referido trecho. Na margem, anoto um comentário ou um símbolo (ver a seguir), geralmente com um comentário meu na margem contrária.

Os símbolos que costumo usar são dinâmicos e variam conforme a necessidade. Apenas para ilustrar, eis alguns exemplos mais comuns que usualmente utilizo:

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Ao contrário do que possa parecer, não há tanta sofisticação nesse processo, pois minha leitura costuma ser bem passional e, frequentemente, as emoções são transferidas para as notas e para os símbolos.

Para ter uma ideia, eis um exemplo de um trecho de um livro anotado a partir desse método:

Reprodução

Portanto, a primeira fase consiste simplesmente em adotar alguma técnica de anotação no próprio material de leitura.

Em uma segunda fase, tento organizar as notas em um sistema mais sofisticado, sobretudo quando se trata de uma leitura em que vale a pena investir o tempo. Não uso o sistema de fichamentos, nem de flashcards, nem o método Cornell, que são os mais populares.

O método mais sofisticado de anotação chama-se Zettelkasten, que funciona como uma rede conectada de ideias. Se você quiser conhecer esse método e aprender a fazer anotação de altíssimo nível, vale muito a pena ler o livro How to Take Smart Notes: One Simple Technique to Boost Writing, Learning and Thinking, de Sönke Ahrens.

De minha parte, prefiro métodos mais visuais e baseados em associações ou categorizações de ideias, como a elaboração de mapas mentais, sketchnotes ou organogramas.

Quando usamos o mapa mental como método de anotação, o propósito é tentar estruturar as principais ideias do texto em tópicos e subtópicos. Não se trata simplesmente de sumarizar o texto, pois é preciso detalhar cada linha de raciocínio com as palavras-chave para visualizar a conexão entre as ideias e possibilitar a compreensão holística do texto.

Se você não tem qualquer familiaridade com mapas mentais, o livro do Tony Buzan pode ajudar. A lógica é organizar o pensamento como se fosse uma "árvore semântica". O tronco é o princípio fundamental. Esse tronco se ramifica em galhos maiores, que se dividem em galhos menores, até chegar às folhas, às flores e aos frutos. Comece pelo princípio e depois vá estreitando os detalhes.

Não é preciso perder muito tempo com o aspecto visual, mas apenas incluir algumas palavras-chave em modo hierarquizado para ter uma ideia mais sistemática do assunto. Eis um modelo básico usando o próprio conceito de mapa mental como baliza e um aplicativo chamado Xmind, que recomendo por ser gratuito, fácil de usar e bem prático:

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É preciso ter em mente que o grande valor do ato de anotar um texto está na própria compreensão da leitura e na adoção de mecanismos que proporcionem o processamento da informação. A elaboração criativa das notas e de mapas mentais pode, nesse contexto, consolidar a memória e atuar como output do processo de aprendizagem. A consulta futura é apenas um ganho adicional.

Na terceira e última fase, que utilizo apenas para as leituras mais importantes, procuro gravar um áudio ou vídeo expondo os pontos essenciais do texto, usando minhas próprias palavras. Durante a gravação, sempre indico em qual página as ideias podem ser encontradas, pois isso facilita uma citação futura. É o que chamo de audionota.

Em geral, gravo uma audionota logo após a elaboração do mapa mental, tentando explicar com minhas palavras e de modo simplificado o que entendi do texto (técnica Feynman).

O ideal é tentar se conectar intensamente com o texto, seja num nível intelectual, seja num nível emocional. Se formos capazes de construir imagens ou representações mentais, mapear pontos de concordância e discordância, associar as ideias do texto com outras do nosso acervo mental, desenvolver exemplos e analogias, reformular argumentos com nossas próprias palavras etc., atingimos quase um nível perfeito de leitura.

PS. Para entender como faço na prática, publiquei um passo a passo no YouTube. É só clicar aqui para assistir e se inscrever no canal Episteme.

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