Opinião

O metaverso e o mundo das ideias de Platão

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18 de abril de 2022, 19h01

Voltando à nossa Antiguidade, entre 428 e 347 a.C., Platão já dizia que existiam dois mundos, o mundo das ideias, onde tudo era perfeito e imutável, era o mundo das formas, dos conceitos (eidos em grego); e o outro sensível, que se caracterizava por ser imperfeito, mutável, inconstante, também chamado de mundo sensível, posto que era por nós percebido por meio dos nossos cinco sentidos.

O mundo sensível era, na verdade, uma cópia imperfeita do mundo das ideias, plasmado pelo ser supremo denominado Demiurgo.

Quase dois milênios depois de Platão e a sua Teoria das Ideias, deparamo-nos com o metaverso, que nos promete agora não apenas dois mundos, mas três, que serão concomitantes e interligados entre si: o mundo físico, o mundo virtual e o mundo híbrido.

Como definição de metaverso, podemos dizer que se trata de um espaço virtual compartilhado, forjado pelo amálgama da internet, da realidade aumentada e a realidade virtual.

Esse termo nos foi apresentado de forma inédita em 1992, no filme "Snow Crash". Depois vários outros filmes, séries, jogos e sites trataram do mesmo tema: "Matrix" (1999), "Vanilla Sky" (2002), "Upload" (2020), "Second Life" (criado em 1999 e lançado em 2003), "Jogador nº 1" (2011), "Fortnite", "Grand Theft Auto" (GTA), entre tantos outros.

Partindo de uma analogia entre o mundo ideal de Platão e o metaverso, temos que no mundo platônico o mundo das ideias é copiado de forma imperfeita para o mundo físico. Já no metaverso, temos que o mundo físico é copiado para o mundo virtual, igualmente, de maneira imperfeita, à medida em que este carece de emoção e de olfato.

A ideia central no metaverso é recriar o mundo dentro de uma outra dimensão, em 3D, que não encontraria as barreiras intrínsecas do mundo físico.

Os grandes gigantes da tecnologia estão se unindo para recriar esse outro universo de infinitas possibilidades.

No entanto, como tudo o que é novo, nos traz uma série de incertezas e angústias. Um dos fatores que mais trazem ansiedade nos seres humanos é a chegada de uma nova tecnologia. Basta dizer que o telégrafo já nos causou esse espanto e incômodo. Com o metaverso, não seria diferente.

Como seria esse outro universo recriado no mundo virtual? Haveria apenas um Metaverso ou vários? Como, por exemplo, temos atualmente o metaverso do Facebook (Meta), da Microsoft (Mesh), Decentraland, Roblox, Epic Games, Nvidia, entre tantos outros.

Como seriam as negociações dentro do metaverso? É bem verdade que os videogames estão liderando a tecnologia neste aspecto, pois há muitos anos apoiaram-se no conceito da economia in game. Ou seja, os produtos que são negociados no game não têm nenhum valor fora do jogo.

Entretanto, a todo momento, vemos negociações que nascem no Metaverso e produzem efeito no mundo real.

De que forma podemos conciliar esses mundos?

Obviamente, se a compra e a venda acontecerem dentro do metaverso, não teríamos uma questão.

A dúvida emerge quando compro, por exemplo, um imóvel no metaverso que terá eficácia no mundo físico. A situação é a seguinte: fui a uma imobiliária no metaverso, escolhi o imóvel e agora pretendo efetivar a compra no mundo físico.

Sem dúvida, na hipótese acima, o cenário será outro.

A primeira grande questão é saber se aquele avatar que compareceu à imobiliária no metaverso é aquela pessoa que se nos apresenta como proprietária daquele bem imóvel. Além disso, temos outra dúvida intransponível: essa pessoa, que se diz proprietária daquele bem, teria capacidade jurídica para praticar os atos da vida civil?

Para que essas questões sejam ultrapassadas, precisaríamos checar a identidade do avatar e a sua capacidade para a prática daquela venda. Isso tudo já nos afastaria da essência do mundo do metaverso.

Por outro lado, essa checagem da verdadeira identidade de determinada pessoa está, a cada dia que passa, mais difícil, em razão do desenvolvimento de novas tecnologias (biometria facial, app deepfake) e da fragilidade de um método (biometria digital, luva de silicone).

Diante desses revezes, o empreendedor Elon Musk vem desenvolvendo um revolucionário chip, por meio da sua empresa Neuralink, que promete solucionar essas questões, mas, certamente, trazer outras.

Por fim, temos que trazer à baila outra incerteza: a população mundial, em 2021, era estimada em 7,8 bilhões de pessoas. Se toda a população do mundo entrasse no metaverso, teríamos infraestrutura suficiente (internet, energia…) para atender a essa demanda?

Como toda novidade, o metaverso ainda traz mais dúvidas do que respostas. Mas, no mundo dos negócios, sai à frente quem não teme o novo e se abre com humildade e curiosidade para conhecer o que está por vir. E você? Já entrou no metaverso?

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