Receita do bolo

Fibe inaugura era dos congressos multidisciplinares em Lisboa

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13 de abril de 2022, 12h27

Bons eventos científicos, ou acadêmicos, são montados como um livro. Cada mesa é um capítulo e cada palestrante é um autor. Ao final, tenta-se esgotar um tema indicando as possíveis soluções para uma questão importante. Não por acaso, seminários dirigem-se a públicos específicos, como operadores do direito, economistas, administradores ou outros profissionais.

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Na próxima segunda-feira (18/4), em Lisboa e na Internet, começa um congresso diferente. Trata-se do Fórum de Integração Brasil-Europa (Fibe) que vai tratar de Direito, Economia, Política e, para quem achar pouco, LGPD, criptomoedas, música e futebol.

Os organizadores são juízes, economistas e administradores da FGV Conhecimento, do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), com o apoio da Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI). "Os Desafios do Desenvolvimento" é o título da série de encontros destinados a debater soluções para problemas que, isoladamente, nem o setor público nem a iniciativa privada conseguem solucionar sozinhos.

A montagem do fórum tem na retaguarda o professor de Direito de Portugal, Vitalino Canas, presidente do Fibe, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes; professores da FGV; o economista José Roberto Afonso. Para refletir sobre a complexidade de um evento — tarefa que tem desafiado tribunais, escolas, escritórios, entidades e empresas, a Consultor Jurídico procurou um dos executivos da montagem do Fórum, o juiz e professor do IDP, Atalá Correia.

Leia os principais trechos da entrevista:

ConJur — Como é a "arquitetura" de um evento? Qual é a "dosimetria" para escolher pessoas e temas. Como você faz para que, no conjunto da obra, todos os temas importantes sejam abordados de forma harmônica — e não como uma colcha de retalhos. A composição é como a de um livro, um filme ou desfile de escola de samba?
Atalá A pergunta sobre arquitetura é interessante. Em princípio, tende-se achar que o edifício é obra de um arquiteto, mas as obras têm autoria coletiva. Quando pessoas se dispõem a coordenar um evento acadêmico, com múltiplos aspectos a serem discutidos —, como é o tema da Regulação, que envolve economia e direito, estado e sociedade —, deparam-se com a constatação de que não há uma pessoa que saiba tudo.

A beleza da coordenação está justamente nisso, em poder contar com o apoio de inúmeras pessoas que fazem sugestões diversas, para que um debate ocorra de forma técnica e plural. Então, a bem da verdade, há um grupo de coordenadores, apoiado por um número ainda maior de professores e pesquisadores, de forma que este edifício é construído da base para o topo. Essa rede de professores e pesquisadores articula-se ordinariamente em torno das faculdades ou de organizações como o Fibe.

Então, a partir delas, os eventos surgem quase que espontaneamente, porque o diálogo, o ouvir o outro, faz parte do dia-a-dia, desses profissionais, que valorizam essa prática, a dialética. Naturalmente, o direito e a economia não são ciências puras, estão inseridas no mundo e têm uma pretensão de alterar a sociedade para melhor, com mais desenvolvimento, com mais igualdade e oportunidades para todos. Isso leva à necessidade de confronto do ideal com a realidade, do meu pensamento com o seu pensamento. E isso surge de forma muito vibrante em eventos como este evento liderado pelo Fibe.

ConJurComo o técnico escala o time? Como foi, por exemplo, a escolha dos "jogadores" no evento do semi-presidencialismo. Ali, vocês conseguiram projetar um modelo redondo de forma de governo. Com os pontos de vista jurídico, político, econômico e administrativo.
Atalá A formulação da pergunta está um pouco difusa, mas, em suma, a novidade do Fibe é justapor setores que, até aqui, só se reuniam setorialmente. Há um esforço para evitar o risco de ser um think tank genérico, mais voltado para a teoria.

Há várias formas de propor um diálogo. Então, iniciar os trabalhos a partir de uma proposta correta é, por assim dizer, o segredo da organização. A proposta vai orientar a sociedade e a rede de pesquisadores sobre o que estará sobre a mesa. O evento do Fibe organizou-se em torno da proposta “Desafios do Desenvolvimento: o Futuro da Regulação Estatal”. Daí podemos inferir que não estamos preocupados com elocubrações teóricas, mas com as práticas efetivas, com o fazer melhor e com o futuro. Todos temos opiniões. Isso está bastante claro no cenário contemporâneo, dada a grande amplitude que as redes sociais deram à voz do indivíduo. Mas o que chama a atenção das pessoas é a razão por trás das opiniões, bem como a vida e histórico de quem fala.

A organização do evento sempre está atrás de vozes relevantes para aquele debate, de pessoas que serão ouvidas e que, desse modo, podem transformar a realidade. Pessoas interessantes se reúnem em torno de questões interessantes. Surpreendentemente, quando você apresenta uma boa pergunta para alguém que você considera bom speaker, a pessoa logo se dispõe a participar. Para além de propor o diálogo, os coordenadores apenas zelam para que o debate seja plural. Foi assim que no ano passado, o Fórum de Lisboa promoveu um excelente diálogo sobre a forma de governo e o semi-presidencialismo, e que hoje ganha amplitude na opinião pública. É assim que surge um grande evento. Começamos com uma ideia e, no final, ela é discutida por toda a sociedade.

Talvez eu tenha sido algo abstrato na resposta. Deixe-me esclarecer. O tema da regulação, ou seja, das normas que cercam um determinado ramo da atividade econômica, tem uma feição mais teórica. No entanto, quando se discute a melhoria das normas relativas à saúde, educação, petróleo, energia, água, saneamento, bancos, seguros, inovação tecnológica, redes sociais, dentre tantos outros, o que estamos perguntando é: como a pessoa comum pode ter bens e serviços a melhor preço e com maior qualidade? No fundo, só há uma boa pergunta: como melhorar a vida das pessoas? É isso que nos move.

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