Ascensão e queda

Especialistas ensinam como converter idealismo em dinheiro

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4 de fevereiro de 2021, 19h03

O panteão da glória da advocacia do Brasil não é pequeno. Não faltam grandes nomes. Claro: nem sempre sucesso e qualidade andam juntos. Mas a vida é assim. Exemplo extraordinário de sucesso é o do imortal Joaquim de Arruda Falcão. Nos últimos anos, ele emendou um cargo no outro: de diretor da FGV a conselheiro do CNJ, de diretor da Fundação Roberto Marinho a titular da Academia Brasileira de Letras. Nos julgamentos apelidados "mensalão" e "lava jato", Falcão foi promovido a constitucionalista. Seu currículo tem uma falha, porém: ele nunca advogou.

Leo Martins/Divulgação
Joaquim Falcão tornou-se titular da Academia Brasileira de Letras 
Leo Martins/Divulgação

A divulgação das conversas de Curitiba, hackeadas por Walter Delgatti, mostrou outro papel de Falcão. Ele, assim como Bruno Brandão da ONG Transparência Internacional, era membro honorário da "força-tarefa". A missão visível da dupla era dar respaldo acadêmico ao movimento lavajatista junto à imprensa. Mas tinha um pé no mundo dos negócios.

Com a expertise da FGV, arquitetou-se um negócio chamado "Lava Jato Global", destinado a ser algo como uma indústria internacional de compliance. Quase ao mesmo tempo em que se urdia em Curitiba a "Fundação Dallagnol" — um empreendimento que daria aos procuradores um orçamento de R$ 2,5 bilhões —, em Brasília, o procurador da República Anselmo Lopes com Falcão e Brandão planejaram outra forma de converter o prestígio da "lava jato" em dinheiro.

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Bruno Brandão, da TI Brasil
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O acordo de leniência da J&F previa que o grupo empresarial investiria algo como R$ 2 bilhões em projetos sociais. Mas quando os empresários souberam que Anselmo, Falcão e Brandão queriam tomar o lugar da J&F na administração financeira dos fundos, o acerto encalhou.

Pelas conversas hackeadas conhecidas até agora, não se sabe se em outros negócios o consórcio se deu melhor. Mas, aparentemente, ao menos para Joaquim Falcão a casa começou a cair. Ele foi afastado da Fundação Roberto Marinho e da Fundação Getulio Vargas.

O "projeto" criado por Falcão para enfraquecer os ministros do STF ("Supremo em Números") foi encerrado pela FGV. Os pesquisadores, sem respaldo técnico ou científico, fabricavam conclusões absurdas para tolher ministros que ousavam desobedecer a Curitiba. Uma das lorotas criadas foi a de que mais de 90% das decisões da Corte são monocráticas.

Deliberadamente, omitiu-se que ministro só pode reproduzir monocraticamente decisões sacramentadas e ratificadas pelo Plenário. Sempre com dados quantitativos, os eméritos pesquisadores chegavam a resultados qualitativos. Em uma das conclusões mais hilárias, a FGV concluiu que o ministro mais produtivo do STF era Joaquim Barbosa e o menos produtivo, Celso de Mello. Os pesquisadores expelidos da FGV agora foram alocados no Insper, onde voltaram a fabricar suas pesquisas lavajatistas.

Eis algumas trocas de mensagens hackeadas:

4 May 17
Bruno BrandãoDa Folha hoje.
Michael MohallemHehe otimo. Vamos ver se levando o caso do Palocci pró plenário é possível construir uma maioria que se imponha a dá turma.
Bruno BrandãoEmail que acabei de enviar pra vcs dois:
Bruno BrandãoPrezados, Vejam o documento base que a coalizão liderada pelo Ethos está discutindo. Foi desenvolvido através de uma consultoria do Hage. Achei um trabalho muito bom e alinhado com o nosso. Não estou cometendo nenhuma inconfidência, pois já havíamos acordado que compartilharíamos informações para evitar trabalhar o re-trabalho. Acho que deveríamos considerar isto. Em outo tema, gostaria de já começar a desenvolver nossa estratégia de campanha para a 2a etapa. É importantíssimo o trabalho técnico de construção da plataforma, mas é importante chegar ao final do ano com uma estratégia muito boa de campanha já concluída. Se possível, seria bom começar a reservar algum tempo das reuniões também para isto. Abs,
DeltanCaros, vou atrasar uma meia hora hoje. Podem ir começando sem mim e me uno depois. Desculpem, mas estou com uma emergenziacinha aqui para resolver….
Deltanmeu skype name é deltanmd
Bruno Brandãook
Bruno BrandãoAcabei de receber um telefonema do gabinete da Carmen Lucia, quer retomar a proposta do ano passado de assinar um termo de cooperação TI e CNJ. Pode ser uma grande oportunidade para construir e fazer avançar o pilar Judiciário das 10M+
Bruno BrandãoVamos tomar um tempo hoje para falar sobre isso?
DeltanCaros desculpem, estou chegando agora
DeltanJá vou me conectar
Bruno BrandãoA TI, principal organização global dedicada à luta contra a corrupção, se uniu à FGV, o principal think thank do Brasil, para construir o maior pacote de medidas anticorrupção do mundo. Juntas estão desenvolvendo mais de 80 medidas legislativas, baseadas no que há de mais efetivo na experiência internacional de enfrentamento à corrupção, somado a sugestões coletadas em um processo de consulta com mais de 300 instituições brasileiras.
Bruno Brandão(já que nosso acordo de cooperação é com a FGV mesmo)
Michael MohallemFalei com Joaquim, que voltou de Portugal. Ele insistiu demais para repensarmos o nome. Acha que novas medidas remete ao passado e nao ao futuro. Sugeriu nomes com a ideia de futuro, de mudança… Brasil sem corrupção, Brasil de amanhã, Brasil do futuro, etc. Ele insiste que temos que ter uma marca, um nome marca…

15 May 18
Michael Mohallem — Gente, boa notícia. Joaquim vai no programa do Bial no dia 23. Me pediu o resumo de 5 medidas consensuais. O que vcs acham?
Michael Mohallem1. Integridade partidária
Michael Mohallem2. whistleblower
Michael Mohallem3. Regulamentação do Lobby
Michael Mohallemou 3. Corrupção Privada
Michael Mohallem4. Rastreamento e recuperação de bens
Michael Mohallem5. Redução do Foro Privilegiado para 55 mil autoridades
DeltanQue são 5 medidas consensuais?
Michael MohallemConsensuais é um termo que Joaquim usou. Mas acho que nada é consensual. Quem sabe sejam as medidas mais populares
Michael MohallemMas esses cinco pontos são minhas sugestões. diga aqui o que vc prefer
DeltanPode ser até amanhã ou ele quer pra hoje?
DeltanEscolheria as melhores de marketing

23 Jan 18
Michael MohallemDeltan, falei por telefone com o Bruno e chegamos ao entendimento que um bom encaminhamento sobre as datas e etapas de lançamento seria o seguinte: a gente segura para iniciar a consulta pública junto com o lançamento do ranking da TI. Bruno faria o elo e a gente pegaria carona para levar pessoas ao site. Depois de 1 mês de consulta pública, no meio de março, compilaremos as sugestões para fechar o pacote em um livro de projetos de lei. Então no dia 24, 25 ou 26 de abril (vc pode?) faríamos o evento de lançamento, com uma mesa de debate sobre a importância das reformas propostas. Bruno pensa em convidar nomes de peso, como Barroso, Hage. Vc tb debateria um dos temas.
Michael MohallemO que acha? Está de acordo?

24 Jan 18
DeltanOpa, super legal!

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