Livro de Janot tem reunião com Dilma, petição blefe e elogios a Jucá
29 de setembro de 2019, 14h47
Depois que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot afirmou ter entrado armado no Supremo Tribunal Federal para matar o ministro Gilmar Mendes e depois se suicidar, aumentou a curiosidade em torno do livro de memórias de Janot, Nada menos que tudo. Esse episódio, porém, é tratado de forma genérica e sem citar nomes.
O livro, de 256 páginas, é um relato pessoal do ex-PGR com foco nos bastidores da “lava jato”. No terceiro capítulo, ele trata de sua nomeação à PGR pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2013. Primeiro colocado na lista tríplice do MPF, Janot foi chamado para uma reunião com Dilma no Palácio do Alvorada em uma tarde de sábado, em agosto de 2013.
Porém, tinha tomado umas taças de vinho e “tinha de chegar ao Alvorada sem qualquer vestígio de bebida alcóolica”. Foi um corre-corre, segundo Janot, para se arrumar para o encontro. Um amigo dele sugeriu que tomasse café com sal. Ele tomou, mas “foi um estrago”.
“Tive engulhos e corri para o banheiro. Vomitei o que bebera e algo mais. Para que eu me recuperasse, Dantas (o amigo que sugeriu o café com sal) e minha mulher me socorreram com alguns copos de água”, contou o ex-PGR. Ele disse que se recuperou a tempo do encontro, sua primeira vez no Alvorada.
Na chegada, mais um contratempo: Janot foi orientado a seguir com o carro até determinado ponto, mas passou da entrada e foi parar no meio do mato. Depois, foi conduzido à biblioteca do Alvorada. “Até então, não sabia o propósito da minha presença”, disse.
Foi a primeira vez que Janot esteve com Dilma. Segundo o ex-PGR, ela demonstrou bastante conhecimento sobre o Ministério Público e confirmou sua indicação, mesmo após criticar a lista elaborada pela ANPR. Dilma teria dito: “É melhor seguir a lista tríplice, apesar de ela estimular o corporativismo”.
Janot também revelou um conselho que recebeu de Dilma: “Ela disse que minha vida ia virar um inferno”. Na saída, mais um ato falho. O ex-PGR esqueceu o celular no Alvorada (era norma que os convidados deixassem o celular fora da sala antes de conversar com a presidente), mas logo conseguiu recuperar o aparelho com a ajuda dos seguranças.
Sabatina na CCJ
No livro, Janot demonstrou preocupação com sua sabatina na CCJ do Senado. Para ele, havia um clima de animosidade entre o Ministério Público e a classe política por causa do Mensalão, mas acredita que “algumas decisões de Roberto Gurgel (antecessor de Janot) também ajudaram a acirrar os ânimos”.
Janot relata ter tido uma “boa conversa” com o senador Vital do Rêgo Filho (MDB-PB), que presidia a CCJ na época. “Ele me sugeriu que procurasse alguns senadores para desarmar espíritos contra a minha indicação”, afirmou. Ele conversou, por exemplo, com caciques do MDB, tais como Renan Calheiros, Romero Jucá e Jader Barbalho. “Todos, posteriormente, vieram a ser investigados por mim na “lava jato””, completou.
O mais articulado do grupo, para o ex-PGR, era Romero Jucá, “que impressionava pelo profissionalismo e pela educação”. Janot se reuniu com o ex-senador algumas vezes para tratar do orçamento do MP. “Jucá nunca me hostilizou e sempre conduziu o assunto de forma institucional. Não resvalava para o ‘toma lá, da cá’, e respeitava os acordos cumpridos na base do fio do bigode”, disse.
Blefe contra Roseana Sarney
Janot narra um episódio envolvendo a ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney, após uma série de rebeliões no complexo prisional de Pedrinhas, com 60 presos mortos em 2013. Segundo o ex-PGR, uma inspeção determinada por ele constatou que o governo de Roseana havia perdido o controle do presídio. Ele relatou conversas ásperas ao telefone com a então governadora, “que adotou uma postura arrogante de questionar o relatório (da inspeção)”.
Diante disso, Janot redigiu uma petição de intervenção federal no Maranhão e deixou à mostra, bem em cima de sua mesa. A petição, porém, era um “blefe” do ex-PGR: “Joguei a carta da intervenção federal na mesa para pressionar o governo do Maranhão a tomar medidas fortes para melhorar as condições do presídio”. Com o “blefe”, ele alega ter conseguido, por exemplo, a troca da comida servida no presídio de Pedrinhas.
Depois desse episódio, Janot decidiu que focaria sua atuação como PGR na melhoria do sistema carcerário. Ele criou um plano de reformulação do sistema, batizado de “segurança sem violência”, que acabou ficando em segundo plano em razão da “lava jato”. A operação, segundo Janot”, mudou completamente sua atuação como chefe do MPF.
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