"EUA, China e Índia ainda vão competir por petróleo"
23 de setembro de 2011, 12h55
A grande ponte que une o Ocidente às sociedades árabes em convulsão nos anos 10 do século XXI continua, como sempre, sendo negra e viscosa. Das dez maiores reservas mundiais de petróleo, sete se encontram na extensa região islâmica que se estende pela Ásia e o norte da África: Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait, Emirados Árabe Unidos e Líbia detêm juntos 75% do petróleo do planeta, cerca de 800 bilhões de barris de petróleo. Para se ter uma ideia, o Brasil tem atualmente uma reserva de 14 bilhões de barris, e num cálculo otimista, poderá chegar a 30 bilhões com as recentes descobertas de petróleo na camada do pré-sal. Apenas 4% do volume sob o solo destas economias petroleiras. Os Estados Unidos são o país consumidor mais voraz de petróleo do mundo. Em 2007, ele produzia cinco dos 20 milhões de barris por dia necessários para manter sua economia funcionando. Ainda que comprem petróleo de vários países, inclusive o Canadá e a Venezuela, os americanos são cada vez mais dependentes das reservas do chamado grande Oriente Médio. O Milênio desta semana encerra a série de reflexões sobre as causas, as consequências e os desdobramentos de 11 de setembro de 2001 discutindo o papel do petróleo nas disputas do século 20, e também nestes 10 anos que separam os atentados das torres gêmeas das rebeliões árabes atuais. Nosso entrevistado é o historiador da Universidade de Michigan Juan Cole. Cole escreveu vários livros sobre Oriente Médio e publicou recentemente Engaging the Muslim World, que ainda não chegou ao Brasil.
Elizabeth Carvalho — Qual é a importância do petróleo nos acontecimentos recentes que se seguiram às revoltas no Norte da África e no Oriente Médio, em especial a intervenção da Otan na Líbia?
Juan Cole — O petróleo tem orientado fortemente a política americana para o Oriente Médio: a aliança com a Arábia Saudita e a invasão do Kuwait em 1991, para expulsar Saddam Hussein, têm muita relação com o desejo de não deixar que um só país controlasse o petróleo do Iraque e do Kuwait, se tornando uma superpotência. Acho que o petróleo é muito importante na política americana para o Irã. Eu não acho que o petróleo exerceu muito influência nos acontecimentos da Primavera Árabe.
Elizabeth Carvalho — Nós temos que lembrar que a Líbia tem uma das maiores reservas.
Juan Cole — Na África.
Elizabeth Carvalho — Na África.
Juan Cole — Mas é relativamente pequena em termos mundiais. Então, a Líbia produz cerca de 1,7 milhão de barris por dia.
Elizabeth Carvalho — Mas estamos falando de reservas que, como li no seu livro, chegam a 40 bilhões de barris.
Juan Cole — Exato. A Líbia tem sua importância.
Elizabeth Carvalho — É potencialmente importante.
Juan Cole — Mas não é tão importante quanto outros países. Além do mais, seu petróleo já era explorado por empresas ocidentais. As sanções contra investimentos na Líbia vinham da Europa e dos EUA. Em 1998, os europeus suspenderam as sanções, e os americanos as suspenderam em 2004. Depois disso, as companhias de petróleo italianas, espanholas, francesas e britânicas chegaram e fizeram propostas de bilhões de dólares para operar lá. Eu acho que a Europa temia que, se Kadafi esmagasse o movimento reformista, a população acabaria se radicalizando, como aconteceu na Argélia após 1991. Se a Líbia se radicalizasse, a Al-Qaeda poderia se estabelecer lá e estender suas operações à Itália, à França e daí por diante. Eu acho que as questões de segurança foram o principal fator norteador da intervenção europeia.
Elizabeth Carvalho — Há na Líbia alguma força fundamentalista significativa?
Juan Cole — Não havia. Mas temia-se que, se Kadafi reprimisse os reformistas, eles seriam levados ao radicalismo.
Elizabeth Carvalho — Vamos voltar ao petróleo. Lendo seu livro, parece claro que o envolvimento americano nessa região passou por diferentes etapas desde a Segunda Guerra Mundial. Eu gostaria que você nos desse uma abordagem cronológica. Fase 1, se é que posso chamar assim: durante a Guerra Fria, a questão era garantir que o petróleo do Golfo fluísse livremente para o Japão e a Europa Ocidental. Fale sobre aquela época.
Juan Cole — Depois da Segunda Guerra Mundial, o mundo se dividiu gradualmente em países que apoiavam os EUA ou apoiavam a União Soviética. As duas potências se enfrentavam como num jogo de xadrez, e uma das desvantagens dos EUA e de seus aliados era a falta de fontes de energia na Europa Ocidental e no Japão. Os EUA, naquela época, durante a grande parte da Guerra Fria, era um grande produtor de petróleo. Mas os EUA queriam garantir que a Europa e o Japão tivessem petróleo. Assim, os EUA gradualmente se tornaram uma potência no Oriente Médio, firmando logo no início uma aliança duradoura com a Arábia Saudita, principalmente porque ela é o maior exportador de petróleo do mundo.
Elizabeth Carvalho — Mas os EUA eram bem ativos na região nessa época. Como você diz no livro: eles apoiaram o golpe de Estado no Irã em 1953. Apoiaram as eleições fraudulentas no Líbano que levaram ao poder o líder pró-EUA Camille Chamoun, em 1957. Os EUA apoiaram o partido Baath, que derrubou o nacionalista iraquiano, general Qasim, 1963. Portanto, sempre houve intervenções dos Estados Unidos e seus aliados nos governos locais.
Juan Cole — Exato. Após a Segunda Guerra Mundial, durante a Guerra Fria, os EUA se tornaram uma espécie de império. Quando o parlamento iraniano, eleito democraticamente, nacionalizou o petróleo, e elegeu Mohammad Mosaddegh como primeiro-ministro, em 1951, os Estados Unidos e o Reino Unido anunciaram um boicote ao petróleo iraniano. E houve pressão por parte das grandes companhias de petróleo. A British Petroleum, BP, chamava-se “Anglo-Iranian Oil Company”. É daí que vem a BP. Ela tinha a concessão de exploração do petróleo iraniano. E as grandes empresas americanas também ficaram muito irritadas com a tentativa iraniana de nacionalizar seu petróleo. Os EUA acabaram mandando a CIA para ajudar os políticos de direita a dar um golpe de Estado. Isso foi em 1953. Como você disse, houve uma intervenção sigilosa no Líbano em 1957, para ajudar o presidente cristão de direita contra seus inimigos no governo. Mas é verdade: os EUA intervieram intensamente para tentar moldar o Oriente Médio, e, em muitos casos, os EUA também perderam. Na década de 50, o líder nacionalista Gamal Abdel Nasser governava o Egito, e o presidente Eisenhower interveio em favor dele em 1956, fazendo o Reino Unido, a França e Israel se retirarem do Egito, na esperança de ganhar a amizade de Abdel Nasser e garantir que o Egito não passasse para o lado soviético. Mas as tensões entre os EUA e o Egito só aumentaram, e, finalmente, na década de 60, o Egito se aliou à União Soviética, tendo recebido a visita do premier russo Kruschev em 1964. Uma década depois, Anwar Al Sadat aproximou o Egito dos EUA. Era uma situação instável.
Elizabeth Carvalho — Então vieram as crises da década de 70 quando ocorreu uma nova onda de nacionalizações por parte dos membros da Opep. A retirada das tropas britânicas da região na época criou uma espécie de vácuo de segurança política para o Ocidente na região. O que aconteceu?
Juan Cole — Os britânicos eram responsáveis pelo Golfo Pérsico desde o século XIX e o moldaram fortemente. Mas o Reino Unido se retirou e acabou com a colonização da década de 60 e, em 1971, praticamente todos os países do Golfo Pérsico eram independentes. Mas muitos deles eram pequenos. Havia emirados que firmaram tratados com o Reino Unido e tinham a proteção naval da marinha britânica. Com a retirada, não havia mais quem garantisse a segurança deles. Os EUA, na época, não estavam interessados em se tornar uma potência na região do Golfo Pérsico. O Oriente Médio era uma arena secundária para os EUA. Os EUA se interessavam muito mais pela Europa Central, onde os tanques americanos e soviéticos ficaram frente a frente entre as Alemanhas Ocidental e Oriental, e pelo Sudeste Asiático, por causa do envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã. E a primeira coisa que Henry Kissinger e Richard Nixon tentaram foi pedir que o xá do Irã garantisse a segurança da região. E o xá realmente enviou tropas a Omã, agindo como um poder regional, e comprou vários equipamentos militares americanos para desempenhar esse papel. Mas, em 1979, o xá foi derrubado pela Revolução Islâmica e esse plano foi por água abaixo.
Elizabeth Carvalho — Os EUA e seus aliados também estimularam a ideia de transformar a Arábia Saudita em uma espécie de liderança religiosa na região. Poderíamos dizer que essa foi a semente do fundamentalismo islâmico?
Juan Cole — Eu acho que é uma das raízes. Os EUA, em vários momentos durante a Guerra Fria, tentaram promover o islamismo. Hoje isso parece irônico, mas foi o que aconteceu. O governo Eisenhower fornecia capital para melhorar as ferrovias, para que os peregrinos pudessem chegar a Meca. E Eisenhower queria que o rei da Arábia Saudita fosse não apenas um monarca, mas também uma figura religiosa, que pudesse atrair a lealdade dos muçulmanos do mundo todo. E a ideia era que o islã, a devoção à religião, poderiam combater o comunismo, que é um sistema ateu. E, além disso, a lei islâmica tem uma longa tradição de respeito à propriedade privada e aos direitos de propriedade, o que poderia servir ao capitalismo. Na década de 80, bilhões de dólares eram enviados a radicais muçulmanos, desde que lutassem contra os comunistas. Então, há uma história no estilo de “O Flautista de Hamelin”: se você promover o islamismo de direita por bastante tempo, terá vários fundamentalistas islâmicos, e alguns podem se voltar contra o Ocidente.
Elizabeth Carvalho — Então podemos dizer que uma nova fase teve início quando os EUA finalmente decidiram explicitar seu poderia militar na região, após a Guerra do Golfo?
Juan Cole — Podemos. A tentativa de delegar a função fracassou.
Elizabeth Carvalho — Eles tinham dois inimigos. Os aliados tornaram-se inimigos.
Juan Cole — Eles primeiro tentaram com o Irã, e não deu certo. Então se aliaram a Saddam Hussein, na década de 80, mas ele invadiu o Kuwait e os decepcionou. Assim, no começo dos anos 90, não havia a quem delegar a segurança do Golfo Pérsico. E a Guerra do Golfo foi o anúncio disso, de que os EUA seriam então a grande potência. Mas, em 1991, a União Soviética já tinha se dissolvido. Portanto, a verdadeira pergunta sobre o Oriente Médio após 1991 era: quem vai dar segurança ao petróleo? Os britânicos já estavam longe, o Irã se voltaram contra o Ocidente, Saddam Hussein havia entrado em guerra com os EUA. Assim, os EUA, em 1991, expulsaram o Iraque do Kuwait e ficaram na região. Há bases no Kuwait, uma base no Qatar, há uma grande base naval, quartel-general da 5ª Frota, em Manama, no Bahrein. Portanto, os EUA hoje são uma potência no Golfo.
Elizabeth Carvalho — Mas a recente intervenção na Líbia foi delegada, substancialmente, às grandes potências da Otan: Reino Unido e França, que estavam presentes na região há bastante tempo. Isso indicaria, de certo modo, uma nova tendência americana de adotar uma posição mais distante e arbitral? Quanto dessa política arbitral tem relação com a crise americana?
Juan Cole — Com certeza, os recursos americanos estão restritos desde o colapso financeiro de 2008 e a crise da dívida, os gastos de guerra no Afeganistão e no Iraque, que continuam até hoje. Eu acho que o presidente Obama se importa com a opinião pública, ele quer ser reeleito para um segundo mandato, e acho que, por isso, ele não gostou da ideia de outra guerra no Oriente Médio. Também não podemos esquecer que, quando o conflito na Líbia eclodiu, o presidente Obama sabia que era bem provável que tivessem localizado Osama Bin Laden, que era possível eliminá-lo e abalar a organização da Al-Qaeda.
Elizabeth Carvalho — Francamente, que poder Osama bin Laden tinha quando foi morto? A Al-Qaeda não tinha mais a força política de antes.
Juan Cole — É verdade, é verdade. A ameaça da Al-Qaeda sempre foi exagerada. É claro que matar três mil pessoas de forma tão impactante criou uma reputação para ela, mas foi uma operação relativamente pequena de meio milhão de dólares, mas quero dizer que Obama estava relutante em se envolver na Líbia, pois sabia que tinha uma grande vitória política pela frente. Ele não queria estragar isso se arriscando na Líbia, pois ninguém sabia se daria certo. Então, sim, você tem razão. Obama prefere jogar um jogo multilateral, adotando apenas as iniciativas que têm apoio de seus aliados, e acho que o entusiasmo de Nicolas Sarkozy e David Cameron por essa aventura líbia, bem como o entusiasmo da Arábia Saudita, do Qatar e dos Emirados Árabes Unidos, foram peças-chaves.
Elizabeth Carvalho — Talvez este novo século esteja testemunhando uma mudança geopolítica. Há uma nova corrida por recursos naturais, que envolve novos países, os países emergentes continentais. E dois grandes consumidores de petróleo entraram em cena: a China e a Índia. Ambas investem pesadamente na Arábia Saudita, e a China tem investido pesadamente também no Irã. Você diria que estamos entrando em um estágio novo e mais complicado da disputa de influência nessa região?
Juan Cole — Estamos, pois não há muitos campos de petróleo sendo descobertos, e a demanda tem crescido mais rápido do que a oferta. Isso significa que haverá uma competição geopolítica entre os EUA, a China, a Índia… Os países que não são grandes produtores estão atrás de petróleo.
Elizabeth Carvalho — Estamos muito distantes de uma era pós-combustível fóssil?
Juan Cole — Essa mudança ocorrerá mais rápido do que imaginamos. Com certeza, daqui a 30 ou 40 anos. Mas o problema é que, se você precisa chegar ao trabalho amanhã, isso não adianta nada. Se o suprimento de petróleo não for garantido num futuro próximo, isso pode gerar conflitos. Até agora, a China não tem usado a força militar. Os chineses são especialistas em desenvolvimento harmônico.
Elizabeth Carvalho — É verdade, eles nunca foram imperialistas, no sentido extremo do termo.
Juan Cole — A China não se opôs à invasão americana ao Iraque. Os chineses a criticaram, mas não se opuseram. A China permitiu a intervenção na Líbia, não votou contra no Conselho de Segurança. A China não desempenha um papel agressivo no momento.
Elizabeth Carvalho — E virá a desempenhar?
Juan Cole — É possível. É possível que, se a competição por petróleo se tornar mais acirrada… Porque, apesar dos achados brasileiros, a quantidade de petróleo que precisa ser descoberta não está sendo descoberta, se quisermos continuar a usá-lo neste ritmo. Se todos os chineses e indianos resolverem comprar carros, teremos um grande problema. Por isso, a competição por esse recurso pode chegar a ensejar um conflito.
Elizabeth Carvalho — Eu gostaria de voltar às revoltas de 2011 no Egito, onde você morou por muito tempo e que, como você diz no livro, é o país árabe mais popular entre os americanos, embora os cidadãos egípcios deem aos EUA os menores índices de popularidade no mundo. Qual é a força dos EUA e de seus aliados para intervirem em uma era pós-Hosni Mubarak, para matar uma cooperação estreita com o novo governo?
Juan Cole — A Primavera Árabe é um grande desafio para a política americana no Oriente Médio. A política americana para a região tem dependido do apoio de Israel e da Arábia Saudita. Parece algo contraditório, mas são esses os dois pilares. O Egito era um país-chave…
Elizabeth Carvalho — Parece, mas não é contraditório.
Juan Cole — Realmente, não é. Mas o Egito era importante por ter um tratado de paz com Israel e cooperava com Israel em questões de segurança, e seu exército ajudava a garantir a segurança da Arábia Saudita e o fluxo livre de mercadorias pelo Canal de Suez, incluindo 10% do petróleo que passam pelo canal. Então, o Egito tem sido um aliado muito importante dos EUA, pois apoia esses dois pilares. E a queda do governo Mubarak após uma rebelião popular coloca em dúvida esse papel do Egito, que já está mostrando independência com relação à política americana. Eles anunciaram a abertura de uma embaixada no Irã e também a criação de voos da Egypt Air para Teerã. Eles então afirmaram que o bloqueio israelense às populações civis em Gaza é uma vergonha. E eles devem abrir a fronteira com a Faixa de Gaza em Rafah. Os sauditas apoiavam tanto Hosni Mubarak, que o nome deles está sujo no Cairo agora. Eu estive no Egito em julho, e as pessoas criticam muito o papel da Arábia Saudita. Assim, o Egito deixou de ser um grande defensor da política americana na região, e passou a ser bem mais moderado, os americanos estão temerosos.
Elizabeth Carvalho — Na Líbia, é o oposto.
Juan Cole — É. Bem, na Líbia, as pessoas são muito antiamericanas em locais como Benghazi, especialmente depois que Kadafi fez as pazes com Bush. Mas, no momento, os EUA estão em alta na opinião pública líbia, pois ajudaram a derrubar Kadafi. E é possível ver pessoas erguendo bandeiras americanas em Benghazi e Trípoli. Isso é impressionante. Eu estudo o Oriente Médio desde a década de 70 e nunca vi um árabe agitando uma bandeira americana. É uma grande mudança.
Elizabeth Carvalho — Muito obrigada, professor.
Juan Cole — De nada. Obrigado.
Elizabeth Carvalho — Foi um prazer conversar com você.
Juan Cole — Igualmente.
Extra
Elizabeth Carvalho — Eu não sei se estes números estão corretos, mas em 2007, os EUA já consumiam mais de 20 milhões de barris de petróleo por dia. Na verdade, eles só produzem 5 milhões, mais outros 3 milhões de barris de combustíveis liquefeitos, como o etanol. Quanto dessa dependência está relacionada às forças armadas americanas?
Juan Cole — Bem… Os EUA são os maiores importadores de petróleo do mundo. Sua economia depende fortemente do acesso ao petróleo, e ao petróleo barato. Então, eles empregam seu poderio militar para garantir esse acesso. Foi o caso da Guerra do Golfo, em 1991. A questão era evitar que Saddam Hussein controlasse o petróleo do Golfo Pérsico. A invasão do Iraque em 2003, acredito eu, tinha como objetivo abrir as reservas de petróleo iraquianas à exploração por parte de empresas americanas e ocidentais. Então, tem sido um grande norteador da política americana. Como eu disse, eu não creio que tenha sido importante na caso da Líbia, mas acho que é algo central na região do Golfo Pérsico. E eu acho que muito do que se ouve dos especialistas americanos e dos porta-vozes das grandes corporações sobre uma guerra contra o Irã também ter relação com o desejo de acabar com a república islâmica, para abrir o petróleo iraniano à exploração das empresas ocidentais. No momento, nenhuma empresa ocidental ganha dinheiro no Irã, e as pessoas gostariam muito de mudar isso.
Elizabeth Carvalho — Os novos campos descobertos no Brasil devem ter aproximadamente a mesma quantidade que as reservas líbias: cerca de 40 bilhões de barris de petróleo recuperável. O que essas novas descobertas podem significar em termos geopolíticos?
Juan Cole — Elas podem ser importantes para a economia brasileira, pode diminuir a pressão pela alta do preço do petróleo, pois a oferta irá aumentar. No entanto, a extração desse petróleo será cara, devido à profundidade. E, acima de tudo, para falar a verdade, não é tanto assim, em termos mundiais.
Elizabeth Carvalho — Como assim, não é tanto?
Juan Cole — Quarenta bilhões de barris não é tanto assim.
Elizabeth Carvalho — Foram os dois últimos a serem descobertos.
Juan Cole — Mas, se os EUA usassem apenas esse campo por sete anos, ele terminaria. À medida que aumenta a demanda da China, da Índia, da Ásia em geral, um campo de 40 bilhões poderia se esgotar rapidamente. Meu argumento é: o petróleo é uma rua sem saída. Pode haver conflitos internacionais por causa dele nas próximas décadas, mas não é uma solução de longo prazo. É impossível obter a quantidade de energia de que o mundo precisa a partir dos hidrocarbonetos. Não há combustível suficiente, e eles são ruins para o mundo, pois causa aquecimento global e as mudanças climáticas. Acho que o melhor para qualquer país é investir pesadamente em energia eólica e solar. A energia solar é a mais promissora, pois, com energia solar barata, teremos mais energia do que o mundo possa vir a precisar, já que ela virá do Sol. Mas eu reconheço que serão necessários 20, 50 anos antes que essa energia seja realmente difundida. Enquanto isso, haverá conflitos por causa do petróleo.
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