Perda no Direito

Morreu Washington Albino Peluso de Souza

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20 de junho de 2011, 12h41

Morreu na sexta-feira (19/6), às 23h, o professor e jurista Washington Albino Peluso de Souza. Ele tinha 94 anos e era diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele estava à frente da Revista da Faculdade de Direito até sua hospitalização, há duas semanas.

Albino foi o criador, em 1972, da cadeira de Direito Econômico no Brasil, na UFMG, da qual também foi o primeiro professor. Sua última contribuição acadêmica para o tema, que tratava da “juridicização do planejamento econômico”, foi escrita 30 anos antes de os primeiros estudos terem sido publicados nos Estados Unidos e na Europa.

Ele foi secretário da Fazenda de Belo Horizonte no governo de Américo Gianetti (1951-53) e presidente da Fundação Brasileira de Direito Econômico, sendo um de seus fundadores, em 1972.

Mineiro de Ubá, entrou na Faculdade de Direito da UFGM em 1933 e, em 38, já era professor de Economia Política na Universidade. Em 1942, obteve os títulos de Livre Docente, Doutor e Titular. Após o golpe de 1964, que instaurou Ditadura Militar no Brasil, Souza passou a sofrer perseguições e ameaças, o que o obrigou a se mudar para a França e se tornar professor de diferentes universidades locais.

Como jornalista, Washington Albino trabalhou nos Diários e Emissoras Associados de Belo Horizonte, na Rádio Inconfidência e no jornal Diário do Comércio.

O advogado Eros Grau afirmou: "Seu modo ser, barroco, diluiu-se. Já não se vê o horionte que Washigton ensinou-nos ao nos trazer, há quarenta anos, a Tiradentes". E ainda: "Ensinou-me o Direito Econômico, que um professor da Faculdade de Direito da UFMG dizia ser "o Direito do Washington". Mais importante para a nossa existência, ensinou-nos a fraternidade mineira".

Veja a íntegra da declaração de Eros Grau:

Washington Albino se foi

Contemplo a linha do horizonte de repente reta, discreta. Como se estivesse em mar alto. Não existe mais, no horizonte, a serra de São José. Seu modo ser, barroco, diluiu-se. Já não se vê o horionte que Washigton ensinou-nos ao nos trazer, há quarenta anos, a Tiradentes. Sua ausência transtorna o horizonte.
Ensinou-me o Direito Econômico, que um professor da Faculdade de Direito da UFMG dizia ser "o Direito do Washington". Mais importante para a nossa existência, ensinou-nos a fraternidade mineira. Amigos como o professor Orlando de Carvalho e dona Lourdes. Ronaldo Cunha Campos, Ariosvaldo.

Apresentou-nos a Minas. O "chinesismo", dizia, de Sabará. Congonhas. O velho Caraça. Vinha a Tiradentes com o neto, Ricardo, e um cachorro amarrado em uma corda. Um dia corremos todo São João del Rei à procura de bolinhos de feijão. As viagens com ele eram sempre longas, todos os arredores dos caminhos de Minas visitados, cada pequena estória e cada desvio da Historia palmilhados. Sua casa, na serra de BH, um mundo que Washington inventou, no qual não alcançávamos os livros, os livros nos alcançavam.

Foi-se o nosso Amigo. Contemplo a linha do horizonte de repente reta, vazia na sua ausência, um momento depois, contudo, recomposta. À imagem e semelhança da que os emboabas e os inconfidentes divisavam, tal como ele nos ensinou. Desde o momento da sua partida, no entanto, a serra parecia ter mudado ou não haver mais, qual na Poesia. Foi-se o Amigo que nos deu Tiradentes e Minas de presente. Há de ter sido recebido com sorrisos de carinho pelos anjos, os anjos barrocos do Washington.

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