LIVRO ABERTO

Os livros da vida do juiz Carlos Henrique Abrão

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15 de dezembro de 2010, 17h13

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"A gente só compreende o momento presente se entendemos como a sociedade evoluiu ao longo dos anos. E isso só é possível por meio da leitura." A afirmativa é de Carlos Henrique Abrão, juiz convocado do Tribunal de Justiça de São Paulo, ao falar de livros, literatura e poesia. Dos três irmãos, ele foi o único que decidiu abraçar a carreira do pai, o jurista Nelson Abrão, e seguir adiante com os conhecimentos repassados pelo patriarca.

Segundo Abrão, seu primeiro contato com a leitura foi através do livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Mas foi na juventude que o gosto pela leitura se tornou mais acentuado. "O gosto pela leitura nasce na fase da juventude, quando passei a frequentar o colégio arquidiocesano de São Paulo. E esse sonho foi sendo ao longo dos anos mais incorporado fortemente a partir dos livros da faculdade da área jurídica", ressaltou.

"Na adolescência li muito Shakespeare e Carlos Drumond de Andrade, este é imperdível, ele nos coloca de frente com a realidade de forma sutil, é impossível não o ler. Acredito que a literatura brasileira é riquíssima de informação, e talvez o que falta ao Brasil é um Nobel de Literatura", sugeriu ao comentar sobre os vários escritores brasileiros.

Abrão disse que procura aproximar sua leitura à sua área de atuação profissional. "Atualmente faço uma leitura mais plena, é importante para o magistrado, que lida com todos os tipos de tema, levar para o seu dia a dia tudo o que puder de suas leituras. Seja um livro literário ou jurídico", argumentou. E completa dizendo que somente através da "leitura é que é possível amadurecer o comportamento e verificar o que vem sendo modificado na sociedade, as doutrinas do Direito e como o mundo jurídico se transforma. É preciso uma diversidade de leitura para poder, principalmente nós que trabalhamos no mundo jurídico, conhecer um pouco de cada coisa."

Fazem parte da sua leitura diária, revistas internacionais e nacionais. Mas Carlos Henrique Abrão não se limita a ler, ele também é autor de livros. Ao todo, tem 25 obras editadas e 350 artigos publicados.

Abrão concorre à cadeira do ministro Eros Grau no Supremo Tribunal Federal. Ele tem doutorado pela Universidade de São Paulo (com orientaçao do professor Fábio Konder Comparato), especialização em Paris, foi bolsista em Coimbra e convidado para ser pesquisador em Heidelberg, na Alemanha. Na gradução, no Largo São Francisco, teve como colega de classe o ministro da Justiça escolhido pela presidente Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo.


Primeiro livro

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O Pequeno Príncipe - DivulgaçãoO Pequeno Príncipe, "é um livro rico em informações que nos da uma visão de mundo, o li quando criança e o leio ainda hoje, é um livro que serve pra vida toda", disse Carlos Abrão. Ele completa dizendo que a obra é "aparentemente para crianças, mas tem um grande teor poético e filosófico". É o livro francês mais vendido no mundo, cerca de 80 milhões de exemplares, e entre 400 a 500 edições. Também se trata da terceira obra literária mais traduzida no mundo, tendo sido publicado em 160 línguas ou dialetos.


Literatura

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Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis - DivulgaçãoMemórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é um romance desenvolvido em princípio como folhetim, de março a dezembro de 1880, na Revista Brasileira, para, no ano seguinte, ser publicado como livro, pela então Tipografia Nacional. O livro marca um tom cáustico e novo estilo na obra de Machado de Assis, bem como audácia e inovação temática no cenário literário nacional, que o fez receber, à época, resenhas estranhadas.

"A obra, retrata a escravidão, as classes sociais, o cientificismo e o positivismo da época, chegando a criar, inclusive, uma nova filosofia, melhor desenvolvida posteriormente em Quincas Borba (1891) — o Humanitismo, sátira à lei do mais forte", recorda Carlos Abrão.

"A literatura brasileira é muita rica em informações. E é através dela que podemos reconhecer os dias atuais da sociedade brasileira", disse relembrando as obras Grandes Sertões Veredas, de Graciliano Ramos; Os Sertões, de Euclides da Cunha; Shakespeare e Jean Paul Sartre.


Gênero literário
Poesia faz a cabeça do juiz Carlos Henrique Abrão, e uma obra que é muito significativa é Canção do Exílio, de Gonçalves Dias. "O poema, que abre o livro Contos Literários, é uma mescla de nostalgia e nacionalismo", disse ele.

Gonçalves Dias compôs o poema cinco anos depois de partir para Portugal, onde foi cursar Direito na Universidade de Coimbra. A Canção do exílio teria surgido por inspiração após a leitura da balada Mignon, de Wolfgang Goethe, poema do qual Gonçalves Dias usa alguns versos como epígrafe.

Além de Dias, o livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Marques, "também é maravilhoso", completa.


Livro Jurídico

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Direitos dos Acionistas - Jorge Lobo - ReproduçãoDireito dos Acionistas, de Jorge Lobo, é uma leitura crítica da Lei 6.404/1976. De acordo com Abrão, a obra nos leva à conclusão de que a Lei de Sociedades Anônimas brasileiras se alinha entre as mais abrangentes, complexas, inovadoras e avançadas do mundo, quer quanto à estrutura e à sistemática interna, quer quanto à forma e ao conteúdo. O livro demonstra que são incontáveis as hipóteses de fraude à lei e aos direitos e interesses de minoritários e preferencialistas.

Reprodução
Teoria Tridimensional do Direito - Miguel Reale - Reprodução

Teoria Tridimensional do Direito, de Miguel Reale. Segundo o juiz, essa obra é sempre atual e nela o Direito se compõe de três dimensões. Primeiramente, há o aspecto normativo, em que se entende o Direito como ordenamento e sua respectiva ciência. Em segundo lugar, há o aspecto fático, em que o Direito se atenta para sua efetividade social e histórica. Por fim, em seu lado axiológico, o Direito cuida de um valor, no caso, a Justiça.

"Nesta obra, o fenômeno jurídico se compõe, sempre e necessariamente, de um fato subjacente (econômico, geográfico, demográfico, de ordem técnica etc.)", disse Abrão.

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