Acidente da Gol

Advogados disputam famílias de vítimas de acidente da Gol

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8 de outubro de 2006, 10h30

“Pessoal, muito prazer. Eu nunca vi este indivíduo antes.” A reunião da empresária Sandra Assali, 50, com os familiares de vítimas do vôo 1907, na última quinta-feira (5/10) em um hotel de Brasília, começou tensa.

O indivíduo apontado era um advogado. Com seu laptop, ele fazia uma apresentação em PowerPoint para as famílias e dizia estar recebendo mensagens de um escritório sediado em Londres. Seriam instruções sobre as ações indenizatórias cabíveis no caso do acidente da Gol. “Foi uma péssima surpresa entrar na reunião e esse advogado vir atrás e se sentar ao meu lado, como se estivesse comigo”, diz Assali. A informação é do jornal Folha de S. Paulo.

“Acidente aéreo você não perde. É inquestionável”, afirma Assali, presidente da Abrapavaa, Associação Brasileira de Parentes e Amigos das Vítimas de Acidentes Aéreos, e viúva de José Rahal Abu Assali, médico cardiologista morto aos 45 anos no acidente de 1996 com o Fokker 100 da TAM, que aconteceu em São Paulo.

No caso do acidente da TAM, as batalhas jurídicas resultaram em indenizações que giraram entre US$ 500 mil e US$ 1,5 milhão para cada uma das famílias de 99 vítimas (de R$ 1,1 milhão a R$ 3,3 milhões). “É por isso que tantos advogados inescrupulosos crescem os olhos”, diz Assali.

“Você encontra uma porção de advogados querendo enriquecer à custa da tragédia da gente. Antes de vir a esta reunião, eu mesma recebi telefonemas de uns 30 escritórios, querendo me acompanhar. Desautorizei-os todos.”

Camilo Moisés Barros, que perdeu o irmão de 39 anos em 2004 em um acidente com aeronave da empresa Rico, contou ter visto famílias que tiveram de destituir o advogado “por falta de sensibilidade”. “Tivemos problemas seríssimos com isso. Teve advogado que se recusou a assinar os acordos com as famílias, porque cismava que elas poderiam ganhar mais. E as famílias querendo o acordo. Aconteceu até o caso em que a parente estava com câncer, precisando da indenização, e o acordo não saía porque o advogado não queria.”

Na quinta-feira, as famílias que a Gol alojou no hotel Comfort Suites ainda reclamavam mais rapidez nos trabalhos de remoção e identificação das vítimas do vôo 1907 (até então, nenhum corpo havia sido identificado), mas a reunião com Sandra Assali começou pontualmente às 19h e só se encerrou às 22h, com a promessa de continuidade no dia seguinte, logo pela manhã. “Que bom que você veio”, agradeceu Bruno Maciel Marinho Silva, 24, que perdeu a mãe, a médica Ana Caminha Silva, 49.

“São muitas dúvidas sobre nossos direitos e como proceder para garanti-los. A gente tem muito medo de ser enganada”, diz uma familiar.

Na terça-feira (3/10) à noite, a professora Luciana Siqueira, irmã de Plínio Siqueira (presidente da empresa Bombardier em Campinas, SP) e uma das fundadoras da associação de parentes de vítimas do vôo da Gol, confirmava: “Vem vindo até um escritório da Flórida para falar com a gente”.

Formada no domingo passado, a associação reuniu-se pela primeira vez a partir de iniciativa do empresário Jorge André Cavalcante, que perdeu o sobrinho Carlos Cruz, 26. Cavalcante diz ter-se inspirado em Roberto Justus e seu programa Aprendiz: “O importante é ter uma grande idéia”.

“Foi uma grande idéia mesmo. O sofrimento envolvido nesse acidente é tão grande, que é muito importante estar junto. Quando um chora, o outro consola. Quando este se desespera, aquele acolhe”, diz.

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