Circo Richthofen

Faltou assessoria de imprensa aos advogados no caso Suzane

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12 de abril de 2006, 11h58

Os advogados de Suzane von Richthofen, ré confessa do assassinato dos pais, não levaram em conta que a atriz principal da encenação não estava preparada para um papel tão dramático quando a orientaram a chorar e a simular arrependimento durante a entrevista ao Fantástico (9/4) e à revista Veja (nº 1951, de 12/4/2006).

Ela poderia ter mostrado o arrependimento — se é que existe — de forma mais convincente. Mas faltou o fundamental nessa situação de exposição de imagem: a eficiência de uma assessoria de imprensa. O que era para ser o golpe de mestre dos advogados se transformou no pandemônio que a levou de volta para a prisão. A defesa de Suzane cometeu erros básicos por falta de orientação de uma assessoria eficiente.

Os irmãos Christian e Daniel Cravinhos, responsáveis pelo assassinato do casal com a ajuda de Suzane, voltaram para a cadeia por amadorismos próprios na entrevista concedida à rádio Jovem Pan. A filha do casal assassinado voltou à prisão por amadorismo de sua defesa no tratamento com a imprensa.

Causar comoção depende de habilidades e técnicas de teatro. Ela não as tem. A orientação de uma assessoria de imprensa eficiente poderia fazer os advogados entenderem que até seria possível mostrar um arrependimento da ré confessa, mas sem exagerar na dose. E também aprenderiam a não comentar segredos quando já se está com o microfone de lapela. Com o cuidado, o sigilo profissional entre advogados e cliente estaria garantido.

Fatos e interpretações

Se a atitude dos advogados é eticamente questionável, cabe a Ordem dos Advogados do Brasil analisar o caso e dar o veredicto. O comportamento da imprensa — que pode ter contribuído com a farsa ao divulgar as imagens e as reportagens — não é nem vai ser objeto de discussão. Afinal, o que importa no jornalismo é o interesse público a qualquer custo. Atualmente, não haveria espaço para se refletir sobre a relevância da divulgação do caso na vida da população.

Nesse cenário, o julgamento marcado para junho já conta com capítulos que poderiam ter sido evitados com simples cuidados de comunicação. E não conta com outros que jamais foram levados para frente, como bem escreveu o colunista Luís Nassif (“Os segredos de Suzane”), na Folha de S.Paulo (11/4). O colunista defendeu que a cobertura da imprensa foi incompleta por que não aprofundou no relacionamento que Suzane tinha com os pais. Segundo ele, “trata-se de entender as razões objetivas, mas, principalmente, as emocionais e psicológicas que levaram ao crime”, o que não ocorreu até o momento.

Mas agora o que vai contar mesmo para o júri são as cenas e reportagens mostradas. Os fatos já não importam. Como dizia o filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “Não há fatos; só interpretações”. E são nessas interpretações que o júri irá se basear para tomar uma decisão.

*Artigo originalmente publicado no site Observatório da Imprensa.

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