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Levantamento alemão coloca cientista brasileiro como referência

Autor

  • Marcos Carlson

    é jornalista webdesigner mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina e pesquisador do Ijuris.

16 de abril de 2004, 14h55

A Ciência brasileira começa se aproximar dos padrões praticados nos países de Primeiro Mundo. Pelo menos em número de publicação de trabalhos na área de Governo Eletrônico, Sociedade da Informação e Informática Jurídica, isso já ocorre.

Esta constatação provém de dados levantados por um grupo de pesquisadores da Universidade de Trier, na Alemanha. Sob a coordenação do professor Dr. Michael Ley, eles são os responsáveis pelo Digital Bibliography & Library Project – DBLP/Uni-Trier.

Trata-se de um servidor de referências bibliográficas que faz levantamento constante dos principais jornais, proceeedings e demais publicações científicas na esfera da Tecnonologia da Informação em todo o mundo. Como pesquisadores de diversas áreas trabalham com aplicações em TI, o projeto soma atualmente quase meio milhão de artigos indexados, sem contar os muitos milhares de links para sites científicos relacionados ao assunto.

Está-se diante de um levantamento de alta credibilidade, dado o caráter independente e sem qualquer envolvimento governamental. O DBLP garante a isenção dos resultados principalmente por utilizar os mesmos critérios para a avaliação – que é constante – independente do país de origem dos pesquisadores. E aí os dados se apresentam favoráveis ao Brasil.

Eventos de impacto

O pesquisador do Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas – Ijuris, Hugo Cesar Hoeschl, também professor da Universidade Federal de Santa Catarina e procurador da Fazenda Nacional, surge como um dos cientistas brasileiros com maior número de referências no DBLP.

No levantamento, Hoeschl aparece com 15 referências consideradas relevantes. Isso porque o estudo considera somente eventos com forte respaldo da comunidade científica internacional e seleciona, dentro da produção de cada pesquisador, os trabalhos considerados de maior impacto.

A outra boa notícia é que, nos próximos dias, o DBLP computará mais dois trabalhos – apresentados esta semana na 6th International Conference on Enterprise Information Systems (ICEIS), em Portugal. Ou seja, o pesquisador catarinense fechará abril com um total de 17 referências. Uma quantidade bastante expressiva, principalmente ao se considerar que poucos cientistas do Brasil superam uma dezena de referências nesse ranking.

“Os números positivos se devem ao novo perfil do cientista brasileiro, que está aumentando as características de multidisciplinariedade e trabalho em equipe”, analisa Hoeschl. “Boa parte dos nossos trabalhos são fruto de pesquisas compartilhadas realizadas com a equipe de cientistas do Ijuris”.

“Coisa do Passado”

Não por coincidência, um importante padrão detectado pelo DBLP é que a grande maioria dos trabalhos selecionados conta com mais de um autor – o que evidencia a forte tendência mundial de realização e publicação por equipes. “Aquela história de pesquisadores trabalhando sozinhos e publicando isoladamente é coisa do passado”, decreta Hoeschl. “Pelo menos é o que se observa na Alemanha, Inglaterra, França, Estados Unidos, Espanha e também aqui no Brasil”.

De fato, uma significativa parcela da comunidade científica nacional não apenas aceita como incentiva esse tipo de atividade. Outro aspecto igualmente importante reside no fato de que as agências de fomento (principalmente CNPq e Finep) acertam na estratégia de aumentar a destinação de recursos para trabalhos com esse perfil. “Mas para que a pesquisa brasileira possa competir com mais força no cenário mundial”, alerta o catarinense, “os recursos ainda precisam aumentar bastante”.

Os dados da Universidade de Trier mostram um cenário que evolui positivamente a favor do Brasil, principalmente se analisados de modo comparativo com a produção de cientistas internacionais. Os números do professor Trevor Bench-Capon – PhD pela Universidade de Oxford, professor da Universidade de Liverpool, na Inglaterra e uma das mais importantes referências mundiais nas áreas de eGov e Informática Jurídica – servem de exemplo para a análise.

Bench-Capon publicou até o momento 8 livros e mais de 300 artigos, e aparece no DBLP com 87 itens. Já Hoeschl tem 13 livros e 80 artigos publicados, e está com 15 itens no ranking. O renomado cientista inglês, porém, publica trabalhos desde 1980, e obteve seu doutoramento em 1987. O brasileiro, de 36 anos, iniciou suas publicações em 1995, doutorou-se em 2001 e obteve o pós-doutoramento em 2003.

O dado mais importante deste comparativo – e que melhor indica o potencial evolutivo da ciência nacional – é a produtividade comparativa de 2003. Naquele ano o inglês teve 8 itens referenciados pela DBLP, contra 12 do brasileiro.

Comparativo surpreendente

Os números de outra referência mundial em Governo Eletrônico, o professor Ronald Traunmüller, PhD da Universidade de Linz (Áustria) e organizador da Dexa eGov Conference 2003: From E-Government to E-Governance, realizada em Praga, na República Theca, igualmente possibilitam um comparativo de produtividade bastante surpreendente.

O professor austríaco tem 41 referências no DBLP, sendo 3 delas incluídas em 2003. De onde se conclui que naquele ano, de acordo com os dados da universidade alemã, Hoeschl teve mais referências que o inglês e o austríaco somados. “Ganhamos dos gigantes na casa deles”, brinca.

Outros expoentes da nova geração da ciência nacional também aparecem no Digital Bibliography & Library Project. A prova de que o fenômeno não é isolado são os Drs. Alejandro Martins, Roberto Pacheco e Anna Reali Costa – respectivamente com 3, 5 e 8 ocorrências acumuladas entre 1995 e 2003.

Dentre os poucos cientistas brasileiros que possuem mais de dois dígitos de referências reunidas no levantamento da Universidade de Trier está o professor Ricardo Miranda Barcia, PhD pela Universidade de Watterloo (Canadá), com 12 ocorrências.

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