Figura histórica

OAB homenageia seu ex-presidente Raymundo Faoro

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5 de abril de 2004, 11h23

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil prestou homenagem ao jurista Raymundo Faoro, que o presidiu no período de abril de 1977 a abril de 1979. Ele morreu em 15 de março de 2003, no Rio de Janeiro, aos 78 anos.

Nascido no Rio Grande do Sul, Faoro era filho de imigrantes italianos, “gente simples, agricultores, procurando vencer a dureza da vida na roça”, conforme definição do orador da sessão, presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Ivan Alkmim. A filha do homenageado, Ângela Leal Faoro, representou os familiares.

Lembrando que o homenageado estudou com dificuldades financeiras e formou-se em Direito em 1948, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ivan Alkmim observou que “foi alicerçado naquela base familiar e contando com poucos recursos que o então jovem Faoro se fez homem e, com o passar do tempo se fez um homem especial, tornando-se um dos maiores vultos do País”.

Ele recordou que Faoro, como colega, era ameno no trato e sempre bem humorado. “Como intelectual e homem de estudos, nos deixou sólida herança consubstanciada nas obras que, com tenacidade e competência elaborou, pontilhadas de textos tão bem fundamentados que facilitam e incentivam os estudiosos da matéria a bem compreenderem a formação sócio-política do Brasil”, afirmou.

Dentre as obras de Faoro, destaca-se “Os Donos do Poder”, editada em 1958, em dois volumes e que hoje ultrapassa a 15ª edição. Ivan Alkmim lembra que o livro tornou-se leitura obrigatória para aqueles que se dedicam ao estudo critico da história social brasileira. O livro obteve o Prêmio José Veríssimo, da Academia Brasileira de Letras, “com parecer favorável de Barbosa Lima Sobrinho, o primeiro acadêmico a, desde logo, reconhecer o valor da contribuição de Raymundo Faoro à sociologia histórica brasileira”.

Nos idos de 1974, ano em que “Os Donos do Poder” seria refundido e ampliado, Faoro lançou uma segunda importante obra, sob o título “Machado de Assis – A pirâmide e o trapézio”. Com tal acervo cultural, Faoro, que além de advogado foi jornalista, cronista e escritor, foi convidado a integrar a Academia brasileira de Letras e, onde ocupou a cadeira deixada por Barbosa Lima Sobrinho.

“No desempenho de suas atividades político-profissionais, Raymundo Faoro, também neste campo, funcionou como sociólogo, historiador, cientista político etc.”, observou o presidente do IAB. “Só que, nesta atuação profissionais, isto é, no exercício pleno da advocacia, teve ele de adicionais às suas excepcionais qualidades, os ingredientes coragem, ousadia e, para Evandro Lins e Silva, teve ele de também adicionar certo dom profético”.

Ivan Alkmim afirmou que tais qualidades e virtudes de Faoro “lhe eram exigidas porque o seu mandato, como presidente do Conselho Federal da OAB, foi cumprido nos anos de chumbo – 1977/1979 -, quando ainda fervia o caldeirão do golpe militar de 1964”. E acrescentou:

“Além disso, seu mandato coincidiu com o mandato do general Ernesto Geisel, então na Presidência da República – 1974/1979”.

O orador lembrou também que, bem antes de sua eleição para a presidência da OAB, Raymundo Faoro “já se fazia presente na luta contra os chamados Atos Institucionais, absolutistas e ilegítimos, subordinados aos quais, cerceadas estavas as liberdades públicas; proibidas também as reuniões políticas daqueles que eram contrários à ditadura e, identicamente, foram suspensas as prerrogativas da Magistratura”.

Para Alkmim, a arma de Faoro “era a palavra, a intuição, os contatos pessoais com os homens do governo e a coragem, com a qual enfrentava os generais ditadores; por isso que foi ele elevado à condição de comandante das operações contra a violência, a ilegalidade e a afronta aos Direitos Humanos”.

Encerrando seu discurso de homenagem, o presidente do IAB lembrou o que sobre Raymundo Faoro, falou o professor Francisco Iglesias, por ocasião de seu desaparecimento: “Advogado e escritor, ganhou justa notoriedade com o exercício da presidência da OAB, transformou o órgão, erguendo-se à posição de força decisiva no impasse gerado pelo malogro da ditadura militar político, econômico e ético. Poucas vezes um homem se projetou tanto, pela inteligência e pela coragem”. (OAB)

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