Juros baixos ou lucros altos? A redução dos compulsórios.
14 de setembro de 1999, 0h00
Enquanto a mídia em geral fica alardeando a baixa dos juros bancários por conta da redução do compulsório sobre depósitos à vista e à prazo – ao argumento de que sobrará mais dinheiro para os bancos emprestarem – o que se nota é uma tímida redução das taxas, muito inferior aos ganhos a eles proporcionados com a nova política monetária.
E a razão disso é simples: o dinheiro que passou a sobrar não está indo para os empréstimos mas sim para aplicações, principalmente em papéis do Governo.
Veja-se o que diz a Gazeta Mercantil (14.09.99):
“Na avaliação do analista do setor bancário do Banco Bozano, Simonsen, Pedro Guimarães, a redução do compulsório foi extremamente benéfica para os bancos, e a tendência é de que caiam (o percentual dos compulsórios) a 30% no final do próximo ano. Mas, para ele, por enquanto os recursos extras não serão liberados à empréstimos e sim à compra de títulos públicos federais, em que os ganhos são ainda muito bons e garantidos”.
De fato, as taxas de juros caíram muito menos do que poderiam cair se os recursos liberados pela redução dos compulsórios fossem efetivamente destinados a incrementar a oferta de crédito, o que, como dito, não ocorreu.
Ora, isto é uma completa distorção do discurso do Banco Central, cujos caciques até a semana passada alardeavam aos quatro ventos que os juros – pela lei da oferta e da procura – iriam despencar com a redução dos compulsórios.
Mas, sabendo-se que no Brasil as ovelhas estão aos cuidados dos lobos, é de se desconfiar que toda esta engenharia tinha por objetivo apenas isto mesmo: garantir lucros ainda maiores aos bancos, que este ano já ganharam muito com a desvalorização cambial.
E o confirmador desta tese é o próprio mercado: as ações de bancos, com a redução dos compulsórios, passaram a assumir a preferência nas posições das carteiras de investimento e a previsão mais conservadora é a de que valorizem 33% nos próximos 12 meses, em razão dos ganhos elevados que já estão desfrutando sob patrocínio do Banco Central.
Queda substancial dos juros? A longo prazo, talvez…
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