Luto na política

OAB paulista divulga nota em que lamenta morte de Leonel Brizola

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22 de junho de 2004, 16h36

A seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil divulgou, nesta terça-feira (22/6), nota oficial em que lamenta a morte d e Leonel Brizola, ex-governador do Rio de Janeiro. Brizola morreu nesta segunda-feira de infarto decorrente de complicações infecciosas.

Na nota, assinada pelo presidente da seccional Luiz Flávio Borges D´Urso, a OAB-SP registra que “o Brasil perde uma liderança, a quem a democracia brasileira muito deve”. A entidade destaca o papel de Brizola no movimento das Diretas Já e na redemocratização do país.

O documento registra que o político fará falta ao país “pela sua postura de político independente e ético, pela sua dedicação incansável à causa da democracia, pela coerência às suas convicções, acertadas ou não, pela lisura de sua vida pública, pela defesa que fez dos direitos humanos e pela herança política que deixa ao povo brasileiro”.

Leia a nota oficial

Com a morte do ex-governador Leonel Brizola, o Brasil perde uma liderança, a quem a democracia brasileira muito deve. Em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, percebendo a proximidade de um golpe de Estado, com a decisão do Congresso de considerar vago o cargo de presidente e diante de um possível impedimento à posse do vice-presidente João Goulart, em viagem oficial pela China, Brizola lançou uma proclamação denunciando o golpe e incitando o povo a defender a legalidade. O movimento legalista cresceu em todo o país e Goulart assumiu. Também na sua volta do exílio, Brizola trabalhou incessantemente pelas Diretas Já e pela redemocratização do País. Outra contribuição de Brizola à consolidação do Estado Democrático de Direito ocorreu em 1982, quando foi para a imprensa internacional denunciar uma tentativa de fraudar a apuração de votos nas eleições do Estado do Rio de Janeiro, na qual foi candidato vitorioso. Ao desmascarar o episódio, que ficou conhecido como operação Proconsult, ajudou o Brasil a dar mais um passo importante para acabar com tentativas de fraude nas eleições nacionais, em um país com um longo histórico de desrespeito à vontade do eleitor brasileiro.

Polêmico e crítico – até dos aliados – Leonel Brizola sempre teve grande preocupação em respeitar o interesse público, porque sempre esteve identificado com as causas populares. Dizia que jamais deixaria de dialogar com qualquer tipo de autoridade, pelo dever de colaborar com o interesse público, porque buscar o entendimento e trabalhar em conjunto, mesmo com adversários, era como entendia que estaria servindo à nação e ao povo brasileiro, que sempre deveria estar acima dos governantes.

Brizola se autodenominava um “enfrentador de crises e de poderosos”, mas os críticos o apontavam como “caudilho” e “populista”. Pode ter sido os dois, mas também tinha grande lucidez ao avaliar, acertadamente, que os grandes valores do país, hoje, não estão mais dentro dos partidos políticos, mas nos setores organizados da sociedade civil.

Leonel Brizola fará falta ao Brasil, pela sua postura de político independente e ético, pela sua dedicação incansável à causa da democracia, pela coerência às suas convicções, acertadas ou não, pela lisura de sua vida pública, pela defesa que fez dos direitos humanos e pela herança política que deixa ao povo brasileiro.

São Paulo, 22 de junho de 2004

Luiz Flávio Borges D´Urso

Presidente da OAB-SP

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