17.3.2002

Primeira Leitura: FHC articula no exterior em busca de prestígio.

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17 de março de 2002, 8h12

O presente e o futuro

Enquanto mantém um olho no imbróglio em Brasília, onde um PFL conflagrado ameaça o Planalto na votação da CPMF na Câmara, FHC vai articular, com o presidente chileno, Ricardo Lagos, as agendas e os pontos de vista para as discussões da Alca e do acordo Mercosul-União Européia.

Multilateralismo

Depois de visitar o Chile, de segunda a quarta, FHC vai a Monterrey, no México, para a Conferência Internacional sobre o Financiamento ao Desenvolvimento, que vai debater os meios e fontes de recursos para se atingir os objetivos da Declaração do Milênio, da ONU. O documento consagra metas econômico-sociais para a comunidade internacional, entre as quais a de redução da pobreza absoluta pela metade até o ano de 2015.

Bolsões

Se depender de um plano estruturado e consistente de apoio dos EUA à América Latina, a região continuará abrigando parte dessa pobreza por muito tempo. O presidente George W. Bush vai se encontrar nos próximos dias com os presidentes dos países centro-americanos e do Peru, Colômbia, Equador e Bolívia, e deve surgir de mãos vazias. Na pauta, entre outros temas, a renovação da Lei de Preferência para o Comércio Andino (ATPA).

Poucas chances

Assinada em 1991, a ATPA – que expirou em dezembro – livra de tarifas de importação produtos típicos da economia dos países que tentam convencer os agricultores a trocar as plantações de coca por outras culturas. Sem a renovação da ATPA, esses produtos, como os aspargos peruanos, têm as exportações para os EUA derrubadas por causa das tarifas. Em tempo de protecionismo, o pedido não deve ser atendido.

Vai demorar

É pouco provável que o governo Bush anuncie alguma medida prática de imediato. A visita a Lima, no sábado, deve se limitar a uma declaração protocolar de apoio à democracia. Em El Salvador, o presidente norte-americano vai discutir com os líderes centro-americanos a retomada das negociações de um tratado de livre comércio.

Livre comércio

Enquanto isso, Brasil e Chile conversam. Além dos acordos em negociação nas áreas de seguridade social e saúde, cooperação científica, postal, espacial e nuclear, FHC quer retomar com Ricardo Lagos o entendimento para que os dois países reativem um acordo de cooperação econômica e voltem a adotar medidas de liberalização comercial, principalmente no setor automotivo.

Quotas

Essa prática de liberalização está estagnada desde que o Chile não renovou as quotas de importação de caminhões e ônibus brasileiros. Outro assunto em discussão é o corredor de saída para o Pacífico que ligaria Corumbá, no Brasil, a Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e a Arica, na costa chilena.

Em duas frentes

Lagos vai informar FHC sobre as negociações do Chile com a União Européia para fechar, provavelmente até o início de maio, um acordo bilateral de comércio. O Chile também negocia, mas com dificuldades por conta das últimas medidas protecionistas do governo Bush (aço, agricultura etc), um acordo bilateral de comércio com os EUA.

Assim falou. Alberto Goldman

“Estão usando a CPMF como instrumento de chantagem, mas não compete apenas a nós garantir a estabilidade econômica.”

Do vice-presidente do PSDB e deputado federal, lembrando que o PFL sempre foi aliado do Planalto nessa tarefa.

Tudo é história

Em junho de 1995, cinco meses depois de tomar posse em seu primeiro mandato, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse ao jornal italiano La Repubblica que governar o Brasil estava sendo mais fácil do que havia imaginado. Acabou lamentando a frase: sete anos mais tarde, goste-se ou não do que o presidente fez, é evidente o quanto a relativa estabilidade desse período com o PFL na chamada base aliada lhe custou em paciência, costura política, habilidade, arranjos. Governar o Brasil é, na verdade, muito difícil…

Revista Consultor Jurídico, 17 de março de 2002.

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