Consultor Jurídico

Advogados desistem de batalha contra advocacia eletrônica nos EUA

26 de outubro de 2015, 8h52

Por João Ozorio de Melo

imprimir

Nos últimos anos, seccionais da American Bar Association (ABA) em oito estados nos EUA perderam batalhas judiciais contra a LegalZoom, a empresa que vende modelos de petições e outros documentos jurídicos, além de alguns serviços de advocacia online. O único estado que manteve a disputa foi Carolina do Norte, onde a seccional da ABA conseguiu bloquear o registro da empresa.

Em abril deste ano, a LegalZoom moveu uma ação antitruste contra a seccional desse estado, pedindo indenização por danos no valor de US$ 10,5 milhões. Na semana passada, a seccional desistiu da disputa e entrou em acordo com a LegalZoom, que poderá agora funcionar normalmente no estado.

A ação se baseou em uma decisão da Suprema Corte dos EUA, tomada no início do ano, contra o conselho de dentistas do estado. Em 2006, o conselho conseguiu tirar do mercado pequenos negócios de branqueamento de dentes, operados por não dentistas — e que, no caso, faziam concorrência com dentistas, que ofereciam o mesmo serviço.

Foi movida uma ação antitruste contra o conselho de dentistas, que chegou à Suprema Corte. A decisão foi a de que o conselho teria de ser ativamente supervisionado pelo estado, para poder reivindicar imunidade antitruste.

A seccional da ABA no estado chegou finalmente à conclusão que iria perder a ação movida contra ela pela LegalZoom, porque a Suprema Corte iria, se o processo chegasse até lá, tomar a mesma decisão. E preferiu fazer um acordo com a LegalZoom para encerrar o processo.

A seccional conseguiu negociar alguns termos para minimizar a perda. Entre eles, o de que todos os documentos jurídicos que a LegalZoom vender online serão cuidadosamente examinados por advogados do estado. A LegalZoom também concordou em informar seus clientes que os documentos vendidos online não substituem os serviços jurídicos prestados por advogados.

Em troca, a seccional vai apoiar um projeto de lei, já em andamento no Legislativo estadual, que visa esclarecer a definição de “serviço jurídico não autorizado”, que permite várias interpretações e que foi usada pela seccional para bloquear as atividades da empresa no estado.

As partes também concordaram em apoiar uma legislação que permita a existência de websites que oferecem assistência jurídica interativa, desde que respeitem os termos básicos do acordo, segundo o Jornal da ABA e a revista Forbes.

Crescimento
A LegalZoom teve um crescimento significativo (receitas de US$ 200 milhões em 2012) em poucos anos por duas razões. Uma,  a empresa explorou um mercado negligenciado pela advocacia americana, o de baixa e média renda. Trouxe para o mercado jurídico a velha proposta comercial do “faça você mesmo”, por um custo muito baixo.

Outra, os advogados americanos, durante alguns anos, achava que a LegalZoom (como outras empresas semelhantes) não iria prosperar; e não tentaram “cortar o mal pela raiz” — isto é, bloquear suas atividades antes da LegalZoom se tornar uma organização forte.

Ultimamente, a LegalZoom vem ampliando suas atividades. Passou a oferecer consultas e outros serviços jurídicos prestados por um mix de advogados e não advogados. E criou uma espécie de seguro-advocacia, chamado personal legal plans, no estilo do seguro-saúde. Tem planos de pagamentos mensais de US$ 14,95, US$ 17 e US$ 29,95, que podem cobrir necessidades jurídicas dos clientes, se elas acontecerem.