Consultor Jurídico

Judiciário em San Francisco proíbe funcionários de usar roupas informais

24 de fevereiro de 2014, 20h37

Por João Ozorio de Melo

imprimir

Uma discussão antiga no Brasil chegou às ruas e praças de San Francisco, na Califórnia. Os funcionários dos tribunais da cidade realizaram uma marcha de protesto, que terminou na praça principal do “Civic Center”, porque o Judiciário decidiu executar um “código de vestuário”, editado em 1996, mas que nunca foi realmente observado, de acordo com as emissoras de TV ABC e CBS e o jornal da ABA (American Bar Association).

O código determina que os funcionários dos tribunais devem “ter uma aparência profissional, em todos os momentos” que estiverem em serviço ou transitarem por qualquer tribunal. E proíbe, expressamente, o uso de qualquer tipo de roupa informal, não apenas de vestuário de praia ou de exercícios físicos.

Os funcionários receberam um comunicado por e-mail, em dezembro, informando que roupas informais não seriam mais toleradas nos tribunais. Como muitos funcionários não levaram o comunicado a sério, porque o código existe há anos, sem nunca ter sido observado, alguns foram mandados de volta para casa, ao chegar ao tribunal, para trocar de roupa. Outros voltaram da porta, com o recado de que perderiam o dia de trabalho.

A porta-voz de um tribunal superior em San Francisco, Anna Donlan, declarou que se criou uma cultura nos tribunais de que certos indivíduos, em certas circunstâncias, podem ir para o trabalho com vestuários “menos que profissionais, mas isso é inaceitável”. Segundo a porta-voz, hoje se vê funcionários em jeans, com agasalhos de moletom com capuz, e outros tipos de roupas informais.

Parte dos funcionários aceitaram as novas regras, que indicam aos homens um vestuário que, para completo, só dispensa o paletó. E, para as mulheres, vestidos ou saias e blusas formais. Mas, mesmo os que aceitaram as regras, reclamaram: “Agora ficou mais desconfortável para trabalhar e, principalmente, mais caro, porque vamos ter de comprar roupas adequadas para o tribunal”, disse uma funcionária às emissoras de TV.

Soou um tanto estranho que a ordem de execução estrita do código tenha sido dada em San Francisco, provavelmente a cidade mais liberal dos Estados Unidos, seguida de perto por Berkeley (cidade vizinha), Boston e Nova York. Mas o que importa, nessa história, foi a reação do diretor-executivo do principal tribunal da cidade, Michael Yuen.

“O Judiciário é uma instituição conservadora por sua natureza, que sempre espera que as pessoas se vistam apropriadamente. Tenho visto pessoas com todos os tipos de roupas esportivas. Isso não é uma academia de ginástica, é um tribunal”, afirmou.

Os funcionários, por sua vez, se declararam frustrados porque, do outro lado da rua, as empresas de alta tecnologia dispensam, há muito tempo, trajes formais. Aliás, San Francisco é a principal cidade do Vale do Silício, onde se instalaram a maioria das grandes empresas de tecnologia do país que, da mesma forma, permitem o uso de vestuário informal no trabalho.

Recentemente, no Rio de Janeiro, o Tribunal de Justiça atendeu a um pedido da seccional fluminense da OAB e liberou os advogados de vestirem paletó e gravata nos fóruns do estado até o fim do verão, em 21 de março. A medida não vale, porém, para participação em audiências e para o exercício profissional perante o 2º grau, “ocasiões em que o uso de terno e gravata se mostram indispensáveis”, diz o aviso emitido pela presidência da corte estadual.