Crime e castigo

Após 15 anos, pelotão de fuzilamento volta ao cenário da pena de morte nos EUA

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7 de março de 2025, 9h58

A lei da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, é “boazinha” para os prisioneiros no corredor da morte, com data marcada para morrer. Eles podem escolher o método de execução de sua pena de morte em um menu com três opções: injeção letal, fuzilamento ou cadeira elétrica. Caso o prisioneiro se recuse a eleger alguma delas, será eletrocutado.

Brad Sigmon, 67, escolheu ser executado por um pelotão de fuzilamento, de acordo com seu advogado, Gerald “Bo” King. Assim, Sigmon será executado nesta sexta-feira (7/3), mais ou menos ao pôr do sol, por um pelotão de fuzilamento de três atiradores — a não ser que alguma coisa de última hora atrapalhe o programa.

pelotão de fuzilamento

O método de fuzilamento voltou por causa de uma decisão do Tribunal Superior da Carolina do Sul, em 2024

O prisioneiro será levado à câmara da morte e amarrado a uma cadeira de metal. Terá a oportunidade de proferir suas últimas palavras, em frente a uma pequena audiência em uma sala contígua, com uma ampla janela de vidro. Será encapuzado e um alvo será colocado em seu peito, em uma posição aproximada do coração.

A ordem de “preparar, apontar, fogo” será dada, e os três atiradores, por trás de uma parede com abertura para seus rifles e uma boa visão, a 4,6 metros de distância, abrirão fogo ao mesmo tempo — todos com balas normais, projetadas para estilhaçar com o impacto em seu peito.

Antigamente, os pelotões de fuzilamento eram formados por um grupo maior de atiradores, mas apenas o rifle de um deles tinha bala normal — os demais tinham balas de festim, de modo que ninguém sabia exatamente quem matou o prisioneiro.

De acordo com o advogado, ele e seu cliente não tinham informações adequadas sobre os métodos de execução disponíveis. Assim, Sigmon escolheu o do fuzilamento por eliminação. Corriam informações no corredor da morte sobre o método torturante das injeções letais. E “Sigmon não queria sofrer ao ser cozinhado vivo pela eletricidade”.

Com a escolha de Sigmon, os Estados Unidos trazem de volta o pelotão de fuzilamento ao cenário das execuções da pena de morte. Esse método estava fora de uso havia 15 anos. Desde 1977, apenas três execuções por fuzilamento ocorreram no país, todas no estado de Utah.

O método de fuzilamento voltou graças a uma decisão do Tribunal Superior da Carolina do Sul, em 2024. A corte decidiu que a execução da pena de morte por pelotão de fuzilamento não é uma “punição cruel e incomum”, proibida pela 8ª Emenda da Constituição dos EUA — tal como a injeção letal e a cadeira elétrica.

Crime e castigo

O réu foi condenado à pena de morte em 2001, pelo assassinato dos pais de sua ex-namorada. De acordo com os autos, ele espancou o casal com um taco de beisebol até a morte por tentarem impedir seu plano: sequestrar a namorada, passar um fim de semana romântico com ela e, então, matá-la e se matar.

Ele teria feito uma declaração à polícia, comum em crimes passionais: “Se ela não vai ficar comigo, não vai ficar com ninguém”. Chegou a sequestrá-la, Mas, quando se dirigia ao local planejado para o fim de semana “romântico”, ela pulou do carro em movimento e correu por sua vida. Ele não a encontrou.

A defesa atual do réu lutou pela comutação da pena para prisão perpétua, mesmo que sem direito à liberdade condicional. O advogado Gerald “Bo” King argumentou que, no julgamento do réu, em 2001, sua defesa, à época, deixou de apresentar provas cruciais ao júri, incluindo provas de danos cerebrais, doenças mentais e traumas na infância.

Há uma última esperança, no entanto. O advogado pediu ao governador da Carolina do Sul para comutar sua pena, com as alegações de que seu cliente é um prisioneiro modelo, que tem a confiança dos carcereiros, trabalha todos os dias e que cometeu os crimes depois de sucumbir a uma doença mental grave.

Porém, governadores da Carolina do Sul, um estado republicano, nunca concederam clemência a condenados à pena de morte, desde que essa punição foi restituída, há 49 anos.

Em 20 de janeiro deste ano, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva restaurando a pena de morte nos Estados Unidos para réus condenados pela Justiça Federal. A ordem visa especificamente aos réus condenados por crimes hediondos, por homicídio de autoridades policiais, bem como por crimes praticados por imigrantes ilegais no país.

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