Opinião

Pensionistas de servidores públicos falecidos após a EC 41/2003: direito constitucional à paridade

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  • é presidente do Conselho de Administração do Instituto de Olinprev (mandato 2022-2027) especialista em Direito Administrativo pela Faculdade de Direito do Recife MBA em Gestão Pública na FCAP/UPE especialista em Direito Tributário pelo Ibet bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco procurador municipal de Olinda (PE) advogado com registro na OAB-PE vice-presidente da Comissão Estadual de Precatórios Judiciais da OAB-PE advogado da Associação dos Membros do Ministério Público de Pernambuco atuando na defesa dos promotores e procuradores de Justiça ex-membro da Comissão Nacional de Direito Administrativo do Conselho Federal da OAB (2022-2024) ex-conselheiro estadual da OAB-PE e ex-presidente da Comissão Estadual de Direito Administrativo da OAB-PE.

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9 de maio de 2025, 9h17

Este artigo examina, sob a ótica constitucional, a situação jurídica dos pensionistas de servidores públicos falecidos após a promulgação da Emenda Constitucional nº 41/2003, demonstrando que, em determinadas hipóteses excepcionais, tais beneficiários fazem jus à paridade com os servidores da ativa, ainda que o instituidor da pensão tenha falecido após o ano de 2003.

A análise percorre os conceitos fundamentais de paridade e integralidade, as transformações legislativas promovidas pelas Emendas Constitucionais nº 20/1998, 41/2003 e 47/2005, e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, com destaque para o Tema 396 da repercussão geral.

Conceito e distinção entre paridade e integralidade

No âmbito do regime próprio de previdência social dos servidores públicos, os institutos da integralidade e da paridade sempre foram garantias de estabilidade econômica na inatividade.

A integralidade consiste no direito de o servidor receber, ao se aposentar, proventos correspondentes à totalidade da última remuneração no cargo efetivo.

Já a paridade, por sua vez, assegura que tais proventos – bem como as pensões deles decorrentes – sejam reajustados na mesma proporção e na mesma data dos reajustes concedidos aos servidores em atividade.

Além disso, a paridade garante o direito à incorporação de vantagens e gratificações concedidas aos servidores em atividade, desde que extensíveis de forma geral. Trata-se de um direito dinâmico, que abrange não apenas os reajustes salariais, mas também novas gratificações ou qualquer outra vantagem remuneratória atribuída aos ocupantes do cargo efetivo correspondente. Isso assegura que aposentados e pensionistas não fiquem em desvantagem remuneratória em relação aos ativos.

Enquanto a integralidade diz respeito ao valor inicial dos proventos, a paridade versa sobre sua atualização ao longo do tempo. Ambos os direitos estão interligados, mas são juridicamente autônomos, aplicando-se a diferentes momentos da relação previdenciária.

Reformas previdenciárias promovidas pelas ECs nº 20/1998, nº 41/2003 e nº 47/2005

A Emenda Constitucional nº 20, de 1998, inaugurou a primeira grande reforma previdenciária do serviço público após a promulgação da Constituição de 1988. Instituiu idade mínima para aposentadoria, reforçou o caráter contributivo do regime próprio dos servidores públicos e manteve como regra geral a integralidade e a paridade, desde que atendidos requisitos de idade, tempo de contribuição, tempo de serviço público e no cargo.

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A Emenda Constitucional nº 41, de 2003, promoveu uma reestruturação profunda. Estabeleceu como regra geral o cálculo dos proventos pela média das contribuições e passou a adotar reajustes baseados na preservação do valor real. A paridade e a integralidade foram preservadas apenas para aqueles servidores que se aposentassem pelas regras de transição (artigos 2º, 3º e 6º). Além disso, instituiu a contribuição previdenciária para os inativos e pensionistas, com incidência exclusiva sobre a parcela dos proventos ou pensões que ultrapasse o limite máximo do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) — atualmente fixado em R$ 8.157,41.

A Emenda Constitucional nº 47, de 2005, por sua vez, surgiu com o propósito de tornar menos gravosas as alterações promovidas pela EC 41/2003. Criou uma nova regra de transição (artigo 3º), permitindo que servidores que ingressaram no serviço público até 16 de dezembro de 1998 e cumprissem certos requisitos (tempo de contribuição, efetivo exercício, carreira e idade ajustada) se aposentassem com proventos integrais e com direito à paridade. Mais que isso, através do parágrafo único, do artigo 3º, conferiu aos pensionistas o direito à paridade, ainda que o instituidor da pensão viesse a falecer após o advento da reforma constitucional de 2003, desde que observados alguns requisitos.

Exceções que garantem paridade e integralidade

Desde a EC 41/2003, a regra geral é a ausência de paridade e integralidade, com aposentadorias calculadas por média e reajustadas segundo índices definidos em lei. Todavia, há hipóteses excepcionais em que essas garantias subsistem:

1. Os servidores que se aposentaram com fundamento no artigo 6º da EC 41/2003 e que preencheram todos os requisitos exigidos, mantêm o direito à integralidade e à paridade.

2. Os servidores aposentados com base no artigo 3º da EC 47/2005 também preservam esses direitos. São aqueles que ingressaram no serviço público até 16/12/1998, com 35 anos de contribuição (homem) ou 30 (mulher), 25 anos de efetivo exercício no serviço público, 15 anos na carreira e cinco no cargo.

3. De especial interesse para este estudo: os pensionistas de servidores que se aposentaram com base no artigo 3º da EC 47/2005 também fazem jus à paridade. O parágrafo único desse artigo expressamente estende o mesmo critério de revisão dos proventos do servidor falecido à pensão dele decorrente, garantindo ao beneficiário o mesmo regime de reajuste por paridade constitucional.

Essa última afirmação foi consagrada pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 603.580/RJ, Tema 396 da Repercussão Geral. O STF fixou a tese de que os pensionistas de servidores falecidos após a EC 41/2003 têm direito à paridade caso o instituidor da pensão tenha se aposentado nos termos do artigo 3º da EC 47/2005. Ressalte-se, porém, que não há direito à integralidade nos casos de pensão, salvo disposição específica, pois trata-se de cálculo inicial do benefício.

Portanto, para esses casos, ainda que o instituidor da pensão tenha falecido após 2003, o respectivo pensionista terá direito à paridade constitucional.

Considerações finais

O reconhecimento do direito à paridade por pensionistas de servidores falecidos após 2003 – desde que o servidor tenha se aposentado pelas regras específicas da EC 47/2005 — ainda é tema que suscita dúvidas, sobretudo entre os beneficiários que, muitas vezes, não são informados sobre esse direito ou têm seu reconhecimento negado pela administração pública. A aplicação das regras de transição (EC 41 e 47) exige análise cuidadosa das normas constitucionais e da jurisprudência consolidada.

Diante da relevância e complexidade desse tema, torna-se prudente que os interessados estejam atentos aos fundamentos legais que regem sua pensão, especialmente no tocante à possibilidade de revisão com base na paridade. Em muitos casos, a segurança jurídica desses direitos só é plenamente alcançada com o devido conhecimento técnico das normas constitucionais e dos precedentes vinculantes aplicáveis.

A correta interpretação das normas constitucionais, especialmente em matéria de transição previdenciária, pode ser decisiva para garantir o exercício pleno dos direitos dos pensionistas. O direito à paridade, embora excepcionado pelas reformas, continua perfeitamente vigente em situações específicas e, quando reconhecido, representa uma reparação devida e, em algumas vezes, um incremento bastante significativo no seu patrimônio.

Autores

  • é presidente do Conselho de Administração do Instituto de Olinprev (mandato 2022-2027), especialista em Direito Administrativo pela Faculdade de Direito do Recife, MBA em Gestão Pública na FCAP/UPE, especialista em Direito Tributário pelo Ibet, bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco, procurador municipal de Olinda (PE), advogado com registro na OAB-PE, vice-presidente da Comissão Estadual de Precatórios Judiciais da OAB-PE, advogado da Associação dos Membros do Ministério Público de Pernambuco, atuando na defesa dos promotores e procuradores de Justiça, ex-membro da Comissão Nacional de Direito Administrativo do Conselho Federal da OAB (2022-2024), ex-conselheiro estadual da OAB-PE e ex-presidente da Comissão Estadual de Direito Administrativo da OAB-PE.

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