Laços históricos: um prêmio para construir o futuro Brasil-Europa
11 de junho de 2025, 13h19
*Uma homenagem ao Dia de Portugal e ao da Imigração Portuguesa no Brasil

Dizem que os portugueses chegaram ao Brasil em 1500, mas talvez seja mais verdadeiro dizer que nunca mais saíram. Mais de 700 mil portugueses [1] continuam a viver no Brasil, mas mesmo os que já fizeram o caminho de volta ficaram no idioma, no modo de contar histórias, no cheiro do café passado devagar, na escadaria da igreja ao domingo, no gosto por mesas longas e nas conversas que começam com saudade e terminam em projetos. E se porventura alguém se esquece disso, basta olhar em volta para perceber que a herança não está no passado, mas naquilo que seguimos sendo.
Hoje, há mais de 500 mil brasileiros [2] vivendo em Portugal. Estudantes que cruzaram o oceano com mais perguntas do que respostas. Professores que traduzem o mundo com sotaques entrelaçados. Trabalhadores que acordam cedo e dormem tarde para sustentar não só famílias, mas esperanças. São muitos, são diversos — e são também pontes. Vivas, resilientes, pulsantes. Pontes entre dois mundos que se reconhecem no espelho da história, mesmo quando fingem não se ver.
Foi para honrar essa presença cotidiana — e para lembrar que conhecimento também é travessia — que nasceu o Prémio Fibe [3], do Fórum de Integração Brasil Europa. Um prêmio que não deseja apenas premiar. Deseja provocar encontros, construir caminhos, dar lugar às vozes que nem sempre cabem nas molduras tradicionais da academia. Porque o saber, quando se transforma em ponte, deixa de ser privilégio e passa a ser bem comum.
Este ano, o prêmio se alarga. Como os rios quando são alimentados por muitas fontes, alarga-se pelas parcerias — como a da Almedina, presente desde o início, ou das embaixadas de Portugal e do Brasil. Mas alarga-se, sobretudo, pela escuta. Uma escuta voltada à imigração brasileira em Portugal. Não para romantizar o que é difícil, mas para dar nome às dores e, quem sabe, às soluções. Para reconhecer que o idioma que nos une às vezes também nos separa. E que há quem lute todos os dias para provar que seu português é tão legítimo quanto qualquer outro.
Os estudos premiados serão aqueles que souberem olhar para o mar entre continentes não como fronteira, mas como caminho. Se as ideias viajarem, se os textos forem lidos, debatidos, transformados em políticas, então terá valido a travessia.
É verdade: ainda há dificuldades. A ciência nem sempre é democrática. A produção acadêmica continua sendo, muitas vezes, privilégio dos que podem pagar por ela, dos que têm autorização para circular, dos que já nasceram com voz. Mas também é verdade que há quem insista. Insista que a ciência deve ser acessível, plural, generosa. Que o conhecimento deve servir para aproximar – não para separar.
É isso que o Prémio Fibe celebra: o poder do saber partilhado. Da escuta atenta. Da curiosidade sem fronteiras. Porque no fim — ou, talvez, no início — o que nos liga é menos a história de um império e mais os encontros possíveis entre pessoas que decidiram atravessar. Mares, muros, medos. Para construir algo novo.
Se neste 10 de junho celebramos Camões, celebramos também aqueles que, como ele, foram emigrantes. Navegantes das comunidades de língua portuguesa. Tradutores de mundos. Celebramos os que chegaram, os que ficaram, os que partiram e os que estão voltando. Celebramos, sobretudo, a ideia de que Brasil e Portugal, separados por um oceano, estão unidos por algo maior: a vontade de seguir conversando.
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[1] Números do Portal Diplomático de Portugal
[2] Dados do Itamaraty
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