Brasil, China e Celac: aliança que redesenha o futuro da América Latina
4 de junho de 2025, 20h39
A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) vive, em 2025, um dos momentos mais relevantes desde sua criação. Na cúpula realizada em maio, que reuniu 33 países, o bloco consolidou seu protagonismo ao fortalecer a integração regional e ampliar sua influência no cenário internacional.

Um dos marcos desse encontro foi a adesão de Colômbia e Chile à Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), liderada pela China. Este movimento representa muito mais que um acordo econômico: é um reposicionamento estratégico da América Latina nas cadeias globais de valor, aproximando a região do eixo econômico asiático por meio de investimentos robustos em infraestrutura, logística e tecnologia.
A inauguração do Porto de Chancay, no Peru, sintetiza esse novo momento. Trata-se de um hub logístico capaz de reduzir significativamente custos e tempo de transporte entre a América do Sul e a China. Dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostram que os projetos vinculados ao BRI na região já superam US$ 25 bilhões, transformando a conectividade intercontinental em realidade.
Protagonismo do Brasil
O Brasil, por sua vez, retoma seu protagonismo regional e global. Na Celac, liderou articulações pela integração econômica e institucional da região. Além disso, sediará em 2025 dois eventos centrais para a geopolítica internacional: a cúpula dos Brics, no Rio de Janeiro, e a COP30, em Belém (Pará). Ambos reforçam o papel do Brasil na transição energética, na sustentabilidade e na construção de uma nova ordem econômica multipolar.
A relação Brasil-China se fortalece e evolui. Após celebrarem 50 anos de relações diplomáticas em 2024, os países consolidaram uma agenda robusta voltada para a neoindustrialização, segurança alimentar, mobilidade sustentável e inovação tecnológica. A visita do presidente Lula a Pequim, em maio de 2025, não deixou dúvidas de que essa parceria é estratégica e de longo prazo.
Outros mercados na China
O Brasil busca agora ir além das commodities. Empresas chinesas como BYD, com fábrica de veículos elétricos na Bahia; GWM, operando em Iracemápolis (SP); e GAC Motors, que anunciou uma nova unidade em Goiás, simbolizam essa transformação. São projetos que trazem tecnologia, criam empregos e consolidam o país como polo regional na indústria verde e na mobilidade elétrica.

Apesar da diversificação, o agronegócio segue como pilar essencial. Segundo o Ministério da Agricultura, 25% de tudo o que a China importa do setor agrícola vem do Brasil. A demanda crescente por produtos como soja, milho, carne, açúcar, café, gergelim e frutas não só fortalece a balança comercial, como também evidencia os desafios desse novo cenário.
O crescimento acelerado do consumo de café na China — hoje ultrapassando 300 milhões de consumidores, segundo a Associação da Indústria de Café da China — reflete bem esse fenômeno. Se, por um lado, impulsiona as exportações brasileiras, por outro, pode gerar pressão sobre os preços internos, ilustrando os efeitos colaterais da integração global.
Tarifaço vira oportunidade
A atual guerra tarifária entre Estados Unidos e China abre uma janela de oportunidade para a América Latina. A região se posiciona como fornecedora estratégica de alimentos, energia, biocombustíveis e até produtos industrializados, desde que supere seus tradicionais gargalos logísticos e institucionais.
Mas o maior desafio não é apenas físico, é jurídico. A falta de marcos regulatórios comuns, de segurança normativa e de mecanismos eficientes de resolução de disputas trava investimentos, eleva riscos e reduz competitividade. Relatório recente da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) alerta que essa fragilidade custa, em média, 1,5% do PIB da região anualmente.
Harmonia regional
Diante disso, o Brasil propôs, na cúpula da Celac, a criação de um Observatório Jurídico da Integração Regional. A proposta visa a harmonizar normas, proteger investimentos, criar padrões ambientais comuns e construir sistemas de arbitragem eficientes, com uso de inteligência artificial e processos digitalizados para reduzir custos e acelerar soluções de litígios.
A Celac em 2025 representa muito mais que um espaço diplomático. O fortalecimento dos laços com a China, a adesão de Chile e Colômbia ao BRI e o protagonismo renovado do Brasil apontam para um caminho claro e incontornável: sem integração jurídica, sem estabilidade normativa e sem segurança institucional, não há desenvolvimento sustentável possível.
A integração regional deixou de ser um ideal. Tornou-se uma necessidade estratégica, vital para que a América Latina transforme seu potencial em prosperidade, inovação, crescimento e, sobretudo, protagonismo no século 21.
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