Índice de corrupção não pode ser levado a sério sem metodologia clara, diz Bruno Dantas
11 de fevereiro de 2025, 16h55
O ministro Bruno Dantas, ex-presidente do Tribunal de Contas da União, afirmou nesta terça-feira (11/2) que a pesquisa da Transparência Internacional sobre o “índice de percepção da corrupção” no Brasil só poderia ser levada a sério se tivesse uma metodologia clara.

Ex-presidente do TCU, ministro Bruno Dantas disse que índices só podem ser levados a sério quando há metodologia clara
“No TCU, que tem a função constitucional de realizar auditorias segundo métricas e critérios reconhecidos internacionalmente, nós sabemos que um índice só pode ser levado a sério se a sua metodologia for sólida e conhecida”, disse ele à revista eletrônica Consultor Jurídico.
O ministro também questionou a falta de transparência de dados como a quantidade de entrevistados no levantamento. Segundo a ONG, o índice mede a impressão de “especialistas” e “empresários” sobre a percepção do nível de corrupção no setor público. Não diz, no entanto, quem foi ouvido, quantas pessoas foram entrevistadas e quem elas representam.
“Qual a amostra? Como ela foi selecionada? Que métodos estatísticos foram aplicados? Quem elaborou e que perguntas foram formuladas? A entrevista foi aplicada em todas as regiões do Brasil?”, questionou Dantas.
O ministro também comentou o levantamento em entrevista à CNN. Disse não duvidar que a corrupção possa ter aumentado. Qualquer indicativo, sobre o tema, no entanto, deve ter como base um “índice sério”, e não um “pitaco”.
“Eu não duvido que a corrupção possa ter aumentado. Mas a diferença entre um mero pitaco e um índice sério é a existência de metodologia clara, robusta e neutra que permita ao autor da pesquisa escapar do seu viés pessoal. Há dezenas de técnicas estatísticas para isso, pena que a Transparência Internacional não tenha sido transparente.”
Segundo o levantamento da Transparência Internacional divulgado nesta terça, o Brasil caiu da 104ª posição para a 107ª no índice de percepção da corrupção. O ranking leva em conta 180 países.
Sem ‘base concreta’
Mais cedo nesta terça, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, também questionou a conclusão do levantamento. À ConJur, ele afirmou que o índice “não tem base concreta” e tenta politizar um tema técnico.
“A Polícia Federal tem trabalhado muito. A CGU também. E os resultados são claros e palpáveis. Vide apreensões de bens e valores do crime organizado (muitos casos envolvendo corrupção), operações contra corrupção em Tribunais de Justiça, emendas, corrupção eleitoral etc.”, afirmou.
“Não posso concordar com a avaliação feita, que não tem base concreta alguma e parece querer partidarizar politicamente um tema técnico”, disse.
A Transparência Internacional é uma entidade privada fundada na Alemanha nos anos 1990, e que chegou ao Brasil a reboque da “lava jato”. Seu levantamento funciona como uma espécie de compilado de opiniões “do setor privado e de especialistas”, sem dizer quem foi ouvido.
Também não há no estudo uma parte específica para tratar da metodologia de forma detalhada. A entidade só informa que o cálculo é feito “usando 13 fontes de dados diferentes de 12 diferentes instituições”.
Uma nota metodológica divulgada pela Transparência Internacional diz que o índice de percepção da corrupção leva em conta a soma de oito indicadores. O Brasil teria ido particularmente mal em índices como o “Executive Opinion Survey”, feito pelo Fórum Econômico Mundial, e o “World Competitiveness Rank”, do Instituto Internacional de Administração e Desenvolvimento, na Suíça. São pesquisas com questões abertas, com perguntas como “Existe corrupção em seu país?”.
Clique aqui para ler a íntegra do levantamento
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