Opinião

O que nos separa de Stanford: quando vamos começar?

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  • é advogado diretor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) mestre e doutor em Direito pela PUC-SP pesquisador 2 do CNPq e titular da Academia Paulista de Letras Jurídicas.

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25 de setembro de 2024, 6h08

Em novembro de 2016, durante uma missão acadêmica na Universidade de Stanford, na Califórnia, fui recebido pelo professor James (Jim) Cavallaro, que também fazia parte da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

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O campus era impressionante, mas o que mais surpreendeu foi o modelo de sustentabilidade financeira da universidade. Cavallaro revelou que Stanford havia captado US$ 1 bilhão em projetos de pesquisa e extensão naquele ano, algo inimaginável no contexto brasileiro. Ao final, ele nos lançou uma pergunta: Quando o Brasil irá começar?

Desde então, essa pergunta tem me inquietado. No Brasil, o ensino não é uma prioridade nacional. Professores são mal remunerados, e muitos conteúdos estão sendo digitalizados para reduzir custos. A maioria das universidades privadas contrata professores sem perspectiva de carreira, enquanto as públicas oferecem “carreira”, ou seja, estabilidade, mas sem remuneração adequada devido à falta de orçamento. Hoje, não raramente, o educador precisa de outro emprego para complementar sua renda.

Esse cenário desestimula as novas gerações a seguir a carreira docente, e o resultado é um número cada vez menor de profissionais qualificados e vocacionados para o ensino superior. Além disso, os funcionários administrativos, essenciais para o funcionamento das instituições, são frequentemente invisíveis e os últimos a serem beneficiados pelos resultados econômicos.

As universidades privadas e comunitárias enfrentam dificuldades para captar alunos em um mercado competitivo, precisando se posicionar por preço ou qualidade. O vestibular, que já foi um processo seletivo sério, tornou-se uma formalidade sem sentido evidenciando que o modelo atual de universidade no Brasil está claramente falido e precisa de mudanças urgentes.

Captação de projetos de pesquisa

Para transformar esse cenário, é fundamental entender que alunos não são números, e professores estão exaustos após tantas tentativas frustradas de mudança provocando a perda de talentos científicos para outros países devido à falta de perspectivas no Brasil.

É necessário criar um fluxo eficiente de captação de projetos de pesquisa e extensão, indo além dos editais públicos, e envolvendo professores, alunos e funcionários administrativos.

Esse modelo, presente nas melhores universidades do mundo, como Stanford, cria um círculo virtuoso: professores e funcionários têm melhor qualidade de vida, alunos se tornam bolsistas de projetos, e o engajamento na vida acadêmica faz sentido para todos. A pesquisa deve partir da universidade para as empresas, em vez de a universidade se isolar, ou esperar passivamente por editais ou parcerias.

Spacca

Cavallaro explicou que, em Stanford, é comum ir até as empresas para identificar suas necessidades e propor soluções. Esse modelo de proatividade gera projetos financiados, elimina custos da universidade e garante sua sustentabilidade, além de impactar positivamente na remuneração de professores, funcionários e na oferta de bolsas estudantis.

Um modelo de universidade baseado na captação de projetos pode motivar todos os envolvidos, melhorar a qualidade de vida de quem trabalha na educação e tornar o ensino mais relevante para os alunos. Isso traria um impacto acadêmico, econômico e social significativo, além de aumentar a visibilidade das universidades brasileiras no cenário nacional e internacional.

A questão que permanece é: quando vamos começar?

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  • é advogado, diretor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), mestre e doutor em Direito pela PUC-SP, pesquisador 2 do CNPq e titular da Academia Paulista de Letras Jurídicas.

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