Diálogos mostram paralelismo da 'lava jato' brasileira com a peruana
9 de novembro de 2024, 12h27
Elementos tornados públicos por meio da “vaza jato” indicam que as mesmas ilegalidades perpetradas por autoridades brasileiras no comando da “lava jato” foram igualmente praticadas no Peru.

Peru passou por processo paralelo à “lava jato” brasileiro e abastecido por ela, como mostram diálogos
Esse paralelismo está sendo descoberto agora pela sociedade peruana, graças aos diálogos que mostram como procuradores brasileiros usavam de informações obtidas ilicitamente na Suíça para abastecer a procuradoria peruana.
Segundo o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, o material repassado era obtido com o procurador suíço Stefan Lenz e servia para embasar investigações e pedidos de prisões temporárias e preventivas.
O Prerrogativas entregou a jornalistas peruanos diálogos da “vaza jato” que mostram como Vladimir Aras, responsável pelo Departamento de Recuperação de ativos e cooperação internacional, órgão do Ministério da Justiça, alertou Deltan sobre a ilegalidade desse procedimento.
Deltan Dallagnol respondeu com naturalidade, dizendo: “Concordo. Não usaria para prova em denúncia, regra geral. Vamos usar para cautelar”.
Ao que Vladimir Aras rebate: “Não dá para esperar chegar [pelo canal oficial]? Prudente como uma pomba; esperto como uma serpente”.
Como conclusão, Marco Aurélio afirma que Deltan demonstrou saber que agia às margens da lei. Há ainda outros diálogos entre Dallagnol e o ex-Juiz Sérgio Moro que demonstram que o então magistrado também conhecia essas ilegalidades na obtenção das provas.
Autoridades peruanas
A relação espúria e clandestina também se estendeu aos mesmos membros da “lava jato” e as autoridades peruanas, que formaram um novo grupo que enviou delegações ao Brasil para obtenção de informações por fora dos canais oficiais desde 2015.
Essas visitas envolviam inclusive jantares pagos pelas autoridades brasileiras, segundo as conversas via aplicativo de mensagens Telegram.
O Procurador-Geral do Peru chegou a pedir aos procuradores brasileiros que não respondessem a um pedido de informações encaminhado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada no Congresso do país estrangeiro. E esse pedido foi acatado.
Revela-se, portanto, um ecossistema em que os membros “lava jato” recebiam ilicitamente informações secretas de Stefan Lenz, então Procurador suíço, e retroalimentavam outros países, como o Peru.
Chama atenção o fato de as mesmas autoridades peruanas terem contratado Stefan Lenz como consultor, exatamente para buscar fugir das ilegalidades que levaram à anulação do conjunto probatório.
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