EUA concluem hoje eleições mais radicais das últimas décadas
5 de novembro de 2024, 9h53
Até o final das eleições norte-americanas, nesta terça-feira (5/11), ninguém se arrisca a dizer quem vai ganhar a disputa pela Casa Branca, entre a candidata democrata Kamala Harris e o candidato republicano Donald Trump. Até os videntes estão calados.
A única coisa certa é que, para os eleitores do vencedor será a glória; para os eleitores do perdedor, será o “fim do mundo” — um resultado totalmente inaceitável, tal o nível de radicalização que tomou conta do país, em uma corrida eleitoral praticamente empatada. Pedidos de residência no Canadá devem sobrecarregar o website da imigração do vizinho do Norte.
A agonia, provavelmente, vai se estender por mais um dia ou dois para contagem dos votos. Talvez mais um dia ou dois para recontagem — que é automática onde a diferença for pequena (0,5% do total dos votos). Ou a pedido do candidato perdedor, em alguns estados. E, provavelmente, mais um dia ou dois para confirmação dos resultados pelas comissões eleitorais dos estados.
Na verdade, os resultados das eleições presidenciais são previsíveis em 43 estados dos EUA e no Distrito de Colúmbia. Nas regiões eleitorais consideradas “estados azuis sólidos (blue states), os candidatos democratas sempre ganham; nas consideradas “estados vermelhos sólidos” (red states), os republicanos vencem todas as eleições.
Mas existem os “estados-pêndulo” (swing states) — os que pendem para um lado ou para outro em cada eleição e, normalmente, não se sabe quem seus eleitores vão eleger. Isso acontece por causa da quantidade de eleitores independentes (que não são democratas, nem republicanos, e que se guiam por condições do momento).
Neste ano, apenas sete swing states vão decidir a eleição presidencial nos EUA: Arizona (que elege 11 delegados para o Colégio Eleitoral), Carolina do Norte (16 delegados), Michigan (15), Nevada (6), Pensilvânia (19) e Wisconsin (10). Os dois candidatos concentraram a maior parte de suas campanhas na Pensilvânia em razão dos 19 delegados do estado.
Ou seja, esses estados elegem 93 delegados (chamados também de eleitores, o que faz sentido porque são eles que elegem o presidente no final das contas). E eles representam um pouco mais de um terço (34,4%) dos 270 delegados que um candidato precisa para se tornar presidente via Colégio Eleitoral.
Eleições para o Senado e a Suprema Corte
Embora a disputa pela Presidência tenha deixado os eleitores com os nervos à flor da pele, as eleições para Congresso — acima de tudo para o Senado — são as que mais preocupam a comunidade jurídica e os eleitores nos EUA.
A causa da preocupação é óbvia: o partido que tiver maioria no Senado confirma — ou bloqueia — indicações de juízes, pelo presidente, para o cargo de ministro da Suprema Corte.
Os prognósticos não são alentadores para os democratas, que hoje têm maioria no Senado (51 democratas, 49 republicanos), além de um presidente democrata. De acordo com a organização FiveThirtyeigth, o mais consultado pelos órgãos de imprensa em questões eleitorais, há uma probabilidade de 92% de os republicanos reconquistarem a maioria na Casa — e apenas de 8% de os democratas mantê-la.
Há dois cenários para essa situação — uma das quais aterroriza os democratas. Se o Partido Republicano reconquistar a maioria no Senado e Donald Trump for o presidente eleito, a Suprema Corte dos EUA deverá ser solidamente republicana por por ao menos três décadas.
Hoje, a maioria republicana na Suprema Corte é de 6 a 3. Com maioria no Senado e Trump na presidência, os ministros conservadores Clarence Thomas (76) e Samuel Alito (74) irão se aposentar e substituídos por juízes na faixa etária dos 50 anos — o que manterá a maioria de 6 a 3 por muitos anos.
Depois deles, na sequência etária, vem a ministra liberal Sonia Sotomayor (70). Se a ministra, com problemas de saúde, tiver de se retirar, Trump irá nomear mais um ministro, passando a maioria conservadora-republicana para 7 a 2 — um desastre total para os democratas do país.
A ministra tem resistido a insistentes pedidos de democratas para se aposentar durante o governo Biden. Os democratas receiam que ela repita a história da mais famosa e cultuada ministra das últimas décadas — a de Ruth Bader Ginsburg. A ministra recusou pedidos para se aposentar e morreu, aos 87 anos, semanas antes das eleições. Eleito, Trump nomeou a conservadora Amy Barrett para seu lugar.
O outro cenário é o da possibilidade de se ter maioria no Senado de um partido e presidente de outro partido. Nesse caso, a nomeação de ministros para a Suprema Corte será bastante conturbada, porque a oposição fará tudo para bloquear qualquer indicação do presidente para o cargo.
Eleições para a Câmara dos Deputados
A conquista da maioria da Câmara dos Deputados, hoje sob comando do Partido Republicano, tem um possível efeito eleitoral, se os dois partidos terminarem empatados no número de delegados para o Colégio Eleitoral (269, cada um; 538 no total). Se isso acontecer, a votação para escolher o eleito passará, então, para os 538 deputados federais. Quem tiver maioria na casa, elege o presidente.
Se um partido vencer a trinca (trifecta, como é chamada nos EUA) Presidência, Senado e Câmara dos Deputados, os vitoriosos poderão fazer o que lhes dar na telha para impor sua vontade ao país — desde que a votação não exija pelo menos dois terços dos votos e mais aprovações dos estados, como é o caso de emendas constitucionais.
O Partido Republicano já imaginou o que fará. Entre outras coisas, banir o aborto em todo o país, renovar a lei que expandiu cortes no imposto de renda em favor de grandes empresas, milionários e bilionários, aprovar leis e medidas para conter ao máximo a imigração e providenciar fundos para Trump deportar milhões de imigrantes ilegais — e acabar a construção do muro de Trump na fronteira como o México.
Se um partido tiver um presidente e o outro tiver maioria na Câmara e no Senado, haverá uma caça às bruxas: os deputados da oposição vão buscar razões para propor e aprovar o impeachment do presidente e os senadores vão julgar e condenar o presidente, que terá de deixar o cargo.
Por exemplo, se a democrata Kamala Harris ganhar a Presidência e o Partido Republicano a maioria nas duas Casas, a primeira mulher a ser eleita presidente dos EUA poderá ser afastada por meio de um processo de impeachment.
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