Morre Roberto Müller Filho, referência histórica do jornalismo brasileiro
5 de junho de 2024, 15h51
Era uma segunda-feira. 14 de maio de 1984. A notícia da morte de Pedro Nava, médico e escritor extraordinário, correu as redações de jornais, revistas e emissoras brasileiras. Como de costume, com versões desencontradas. No caso de Nava, com uma agravante.

Roberto Müller Filho trabalhou na Gazeta Mercantil e na Folha de S.Paulo
Pouquíssimos sabiam da sua homossexualidade. Acreditar que o escritor dera um tiro na cabeça, num banco de praça, porque fora chantageado por um garoto de programa, com quem mantinha um caso secreto parecia, naquele momento, absurdo.
Mas era verdade (clique aqui para ler o texto da jornalista Cíntia Alves, do Jornal GGN, a respeito).
Quem nunca teve que decidir entre o dever e a compaixão, como ocorre com diretores de jornais, não imagina o quanto pesa essa responsabilidade, quase sempre solitária.
À frente de um dos mais importantes jornais da história da imprensa brasileira, a Gazeta Mercantil, o jornalista Roberto Müller Filho, não hesitou. Passou a mão no telefone e propôs aos diretores dos grandes veículos de comunicação poupar Nava — um homem intrinsecamente bom — da notícia desairosa. O que implicava esconder o suicídio e o seu motivo miserável. O pacto foi obedecido por todos. Mais tarde, muitos se arrependeriam dessa traição ao leitor.
Respeito em primeiro lugar
Mas Roberto Müller era assim. Sempre colocou o respeito ao ser humano em primeiro lugar. Evitava sensacionalismos a qualquer custo. Sabia ser severo e sereno. Não perdia a ternura nem nos momentos mais tumultuados dos “fechamentos” (minutos que antecedem o envio dos jornais impressos para a gráfica). Quem trabalhou com ele sabe disso.
E, nesta terça-feira (4/6), foi a vez de Müller. Ele morreu, aos 82 anos, em São Paulo, e está sendo velado nesta quarta-feira (5/6), no bairro do Morumbi, na capital paulista.
Natural de Ribeirão Preto (SP), o jornalista por anos chefiou a redação da Gazeta Mercantil, foi editor de Economia da Folha de S.Paulo e passo pelas TVs Globo, Cultura e Bandeirantes.
Em 1987, Müller Filho recebeu, nos Estados Unidos, o Maria Moors Cabot, prêmio de jornalismo internacional mais antigo do mundo.
Sua história foi biografada por Maria Helena Tachinardi em 2010, no livro Roberto Müller Filho: Intuição, Política e Jornal. Ele deixa um filho e uma filha que militam na advocacia criminal: Carlo Frederico Müller e Ilana Müller, da banca Müller e Müller Advogados Associados.
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