Schindler brasileiro

Celso de Mello lembra homenageado com Dia da Lembrança do Holocausto

 

31 de julho de 2024, 9h41

Em um texto de 2007, o então ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello homenageou o diplomata Luiz Martins de Souza Dantas, que salvou muitos judeus do nazismo na década de 1940.

Luiz Martins de Souza Dantas ao lado de Getúlio Vargas

Luiz Martins de Souza Dantas ao lado de Getúlio Vargas

A homenagem foi feita por ocasião da eleição do maior brasileiro de todos os tempos — honraria que coube a Getúlio Vargas, conforme entrevista da Folha de S.Paulo feita com 200 personalidades brasileiras.

Souza Dantas era embaixador brasileiro na França e desafiou a ditadura do Estado Novo ao conceder vistos de entrada para o Brasil para representantes das minorias perseguidas pela ditadura de Adolf Hitler.

Nesta terça-feira (30/7), o presidente Lula sancionou a lei que institui o Dia Nacional da Lembrança do Holocausto, a ser comemorado anualmente em 16 de abril. A data foi escolhida por ser o dia de morte de Souza Dantas.

Lembre o texto de Celso de Mello sobre Souza Dantas:

EMBAIXADOR LUIZ MARTINS DE SOUZA DANTASUM GRANDE BRASILEIRO

Dentre os muitos brasileiros ilustres, destaco a figura notável de LUIZ MARTINS DE SOUZA DANTAS (1876-1954), cuja atuação pessoal, como Embaixador do Brasil na França, especialmente durante o período de ocupação nazista, salvou a vida de muitas centenas de pessoas (como judeus, homossexuais e comunistas), vítimas do horror indescritível que a Alemanha nazista, em um tempo sombrio e de repugnante torpeza humana, fez recair sobre a Humanidade.

O Embaixador SOUZA DANTAS, agindo contra expressas instruções do governo autocrático de Getúlio Vargas, desafiando a ditadura do Estado Novo, concedeu, na década de 1940, vistos de entrada no Brasil e de saída da Europa às minorias perseguidas, notadamente aos judeus, o que significou, para eles, a diferença fundamental entre a vida e a morte.

Por tal motivo, o Embaixador SOUZA DANTAS — cuja memória deve ser reverenciada pelos brasileiros — obteve o reconhecimento, que lhe foi conferido pelo povo de Israel, de ‘Justo entre as Nações’.

A milenar sabedoria judaica proclama — tal como registra o Talmud — que aquele que salva uma vida salva toda a Humanidade. Foi o que fez o Embaixador SOUZA DANTAS, que agiu com elevado espírito de solidariedade humana e de absoluto despreendimento pessoal.

Ao proteger as vítimas indefesas da perseguição nazista, fazendo-o com risco à sua própria vida e ao seu alto cargo diplomático, o Embaixador SOUZA DANTAS ouviu o grito de multidões desesperadas pelos abusos de um regime sinistro, amparou-as em um tempo de horror, garantiu-lhes a segurança da liberdade, proporcionou-lhes a certeza da sobrevivência e assegurou-lhes proteção contra um sistema de poder totalitário.

Por todas essas razões, destaco, entre as grandes figuras históricas do Brasil, a pessoa do Embaixador LUIZ MARTINS DE SOUZA DANTAS, que deve merecer um lugar de honra e de respeito na memória de todos os brasileiros.

Brasília, 30/03/2007.

CELSO DE MELLO

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!