Assimetria prejudica mercado para jovens advogados no Mercosul
29 de novembro de 2023, 18h03
Promovido nesta terça-feira (28/11), segundo dia da 24ª Conferência Nacional da Advocacia Brasileira, o Encontro da Jovem Advocacia do Mercosul abordou os desafios — como a dificuldade para captar clientes e a baixa qualidade do ensino — encarados pelos iniciantes na profissão nos quatro países do Cone Sul: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.

“É preciso nunca desistir de lutar e de combater o bom combate e a boa causa”, afirmou a ex-presidente da OAB-RS e Medalha Ruy Barbosa Cléa Carpi, que integrou a mesa de discussões no Expominas, em Belo Horizonte.
Já o presidente da Federação Argentina do Colégio de Advogados (Faca), José Luís Lassale, observou que “a escolha da profissão deve ser feita por vocação e para cumprir uma função social, que não deve ser meramente comercial ou pela comodidade de cumprir seis horas de um trabalho burocrático”. Aos advogados experientes, porém, cabe “deixar para os jovens a advocacia com que nós sonhamos”, segundo o argentino.
O relator da mesa e presidente do Conselho de Colégios e Ordens de Advogados do Mercosul (Coadem), José Augusto de Noronha, citou como entrave à empregabilidade dos jovens advogados a assimetria entre as legislações e os colegiados de entidades das nações que compõem o Mercosul, bloco econômico e político que tem 32 anos.
Uniformização
Em concordância com Noronha, o vice-presidente do Colégio de Advogados de San Nicolás (em Buenos Aires, na Argentina), Ricardo de Felipe, afirmou que “é necessário harmonizar as legislações dos quatro países, criando uma normativa que reúna a atividade profissional dentro do âmbito do Mercosul”.
“Somos povos ‘hermanos’, e isso não é pouco”, reforçou o conselheiro vitalício do Coadem na Argentina Carlos Andreucci, que contou ter recebido o seu diploma aos 22 anos de idade, às vésperas do golpe militar em seu país.
“É preciso ser tolerante. Escutar o outro não é fácil. Nossos países atravessaram os mesmos problemas trazidos pela pandemia da Covid-19 e abrimos uma janela grande, aprendendo a despachar dentro de nossos próprios escritórios. O que nos falta é debater sobre um plano igualitário entre os países”, defendeu o membro honorário vitalício da OAB Roberto Busato.
Para a advogada Fernanda Valério, as dificuldades no momento de entrar no mercado de trabalho puderam ser observadas na própria conferência, em que os jovens advogados tiveram de dividir a atenção entre ouvir as palestras, fazer anotações e responder aos clientes por WhatsApp. “Mais do que aquele que já está mais estabilizado e que deixou outro advogado no seu escritório, ou que está vendo as palestras pelas gravações”, comparou a advogada.
Representantes da advocacia estrangeira no Uruguai, Patrícia Mendes e Noeme Vaz Zeballos discorreram sobre a dificuldade de captar clientes por meio das redes sociais e os desafios trazidos pela tecnologia. “Vamos ter de desenvolver novas habilidades de comunicação e aparatos para nos comunicarmos com outros clientes”, destacou Zeballos.
No encerramento dos debates, a presidente da Comissão de Compliance e Anticorrupção Empresarial da OAB-PR, Mariana Keppen, disse que, para advogados em início de carreira, o setor de compliance das empresas representa uma alternativa promissora. “É algo novo, que ainda não se aprende na faculdade, mas oferece um mercado em crescimento, com necessidade crescente de novos profissionais.”
Promovida pelo Conselho Federal da OAB e pela seccional mineira da Ordem, a conferência tem como tema “Constituição, Democracia e Liberdades”. Até esta quarta-feira (29/11), serão 50 painéis com temas variados, especialmente sobre questões atuais do país. Ao longo do evento, a OAB estima receber cerca de 400 palestrantes e 20 mil profissionais.
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