Nome aos bois

Políticos, policiais, servidores e ruralistas lideraram atos golpistas pró-Bolsonaro

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16 de novembro de 2022, 9h43

Policiais, ex-policiais, servidores públicos, fazendeiros, empresários do agronegócio e donos de estande de tiros estão entre os líderes e financiadores dos atos golpistas que questionaram os resultados das eleições neste mês.

Reprodução/Facebook
Reprodução/FacebookBloqueio de rodovia questionando resultado das eleições em Mato Grosso do Sul

As informações constam de relatórios, obtidos pelo jornalista Fausto Macedo, do Estadão, elaborados pelas Polícias Militar, Civil e Federal, além dos Ministérios Públicos dos estados, e entregues ao Supremo Tribunal Federal.

Os documentos, produzidos por ordem do ministro Alexandre de Moraes, apontam quem são os donos dos veículos usados para bloquear vias e os responsáveis por alugar banheiros químicos e carros de som. Segundo o Estadão, os investigadores também pesquisaram dados em redes sociais, nas quais pessoas se identificavam como lideranças dos protestos.

Bolsonaristas estão reunidos há semanas em frente a quartéis e em outros pontos estratégicos protestando contra a vitória de Lula nas eleições do dia 30 de outubro. Os atos têm caráter golpista, pois pedem a intervenção das Forças Armadas para impedir a posse de candidato eleito em votação sem indício de irregularidade, atentando contra o processo democrático.

Veja quem são as lideranças apontadas em cada estado:

Acre: dois fazendeiros locais, Jorge José de Moura, o "rei da soja", e Henrique Luis Cardoso Neto. As manifestações no estado pediam intervenção das Forças Armadas contra o resultado das eleições.

Ceará: neste estado, a investigação não identificou lideranças locais, mas apenas alguns proprietários de carros presentes nas manifestações: o empresário Eládio Pinheiro Canto, o policial penal Abrahao Vinicius Batista Possidonio, o sargento do PM Anderson Alves Pontes Garcias e as empresas Lucky Aviamentos e Viva Agrícola.

Espírito Santo: em São Mateus, a PF identificou como possíveis organizadores comerciantes locais, caminhoneiros e uma ex-PM; em Linhares, comerciantes e empresários locais teriam organizado o protesto, com apoio dos caminhoneiros e participação de Wanderson de Paula, candidato a vereador pelo Cidadania em 2020.

Em Guarapari, uma das lideranças seria Ticiani Rossi, candidata a deputada estadual na última eleição. Ao Estadão, ela negou ter participado de qualquer ato.

Também foram apontados como possíveis líderes o caminhoneiro Thiago Queiroz Rodriguez, o candidato a governador em 2020 Cláudio Paiva (PRTB) e o instrutor de tiro Flávio Silva Polonini.

Goiás: em Goianésia, caminhoneiros e moradores, ligados ao agronegócio, são apontados como lideranças; em particular, o advogado e candidato a vereador em 2020 Jamil El Hosni (PL), e o presidente da Comissão Provisória Municipal do PL, Rafael Luiz Ottoni Peixoto. Ao Estadão, El Hosni negou participação nos protestos.

Em São Miguel do Araguaia, foram citados dois empresários, Tales Cardoso Machad e Pedro Sanches Roja Neto; o ex-veredor Leoardo Rodrigues de Jesus Soares; o candidato derrotado a prefeito Sandro Lopes (PRTB); e o ruralista Hernani José Alves.

Maranhão: neste estado, um investigador de polícia, Marcelo Thadeu Penha Cardoso, ex-candidato a deputado estadual, e Claudio Rogerio Silva Raposo, também candidato a deputado estadual, foram apontados como organizadores de manifestações feitas em frente a um quartel em São Luís.

Mato Grosso do Sul: foram identificadas sete lideranças dos protestos: a médica Sirlei Faustino Ratier; a servidora da Câmara Municipal de Campo Grande Juliana Caloso Pontes; o comerciante Julio Augusto Gomes Nunes; o agricultor Germano Francisco Bellan; o ex-prefeito de Costa Rica Waldeli dos Santos Rosa; e os pecuaristas Rene Miranda Alves e Renato Nascimento Oliveira, conhecido como Renato Merem.

Minas Gerais: Cristiano Rodrigues dos Reis, um dos líderes do Movimento Direita BH, e Esdras Jonatas dos Santos, comerciante, foram citados como organizadores de manifestações em Minas Gerais.

Paraná: a PM do Paraná apontou o empresário Valmor Geronimo Ferro como liderança de Curitiba. Em Cianorte, José Antonio Rosolen e Robson Leandro Calistro teriam "ascendência sobre as decisões dos manifestantes". Claudia Varella Costa Pernomian é citada por discursar em atos.

Em Foz do Iguaçu, o candidato a deputado estadual Raniero Alberton Marchioro (PTB) é citado, assim como João Bosco de Oliveira Melo.

Rio Grande do Sul: o policial militar aposentado Vilmar Luis Vicinieski, o coordenador do movimento Direita RS Ezequiel Vargas, o deputado federal eleito Tenente Coronel Zucco (Republicanos) e a agente penitenciária Mariana Lescano foram apontados como organizadores e incentivadores dos atos golpistas.

O policial civil e vereador na cidade de Dom Pedrito, Patrício Jardim Antunes (PP), o comissário de Polícia Thiago Teixeira Raldi e o delegado Heliomar Athaydes Franco foram citados no relatório devido a "intensa atividade" na divulgação e participação nos atos.

Santa Catarina: na cidade de São Miguel do Oeste, onde cidadãos cantaram o hino nacional fazendo a saudação nazista, foram apontados como lideranças Wuillian Lanza, Odair Breier, Valnir Camilo Scharnoski, Rodrigo Cadoré, Itamar Schons e Vanirto José Conrad.

Em Canoinhas, o dono de uma produtora de erv mate, Luis Cesar Fuck, foi apontado como financiador dos atos; e Francisco Dalmora Burgardt, o Chicão Caminhoneiro, chegou a se apresentar em entrevista a rádio local como porta-voz do movimento golpista.

André Júnior Bello, Oelivir José Luzzi e Everton Marques seriam organizadores do bloqueio na rodovia SC-355 no perímetro urbano de Fraiburgo, segundo a Polícia Civil.

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