Opinião

"Crescimento" perdeu seu significado no nosso debate político

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17 de maio de 2022, 9h01

O Brasil pode passar por mais esta eleição submetido ao debate proposto pelos candidatos ou inovar, cobrando dessa turma uma discussão madura sobre os pontos que realmente interessam. E um deles é o crescimento econômico. Se é que dá para falar em crescimento quando se vê o que aprontamos. Entre 2013 e 2021, o Produto Interno Bruto brasileiro cresceu 1,2% acumulado. Dá uma média anual de 0,16%. Como a população cresce num ritmo quatro vezes maior, não se trata de um crescimento desprezível. Trata-se de um empobrecimento assustador.

Para efeito de comparação, a média anual de crescimento do PIB na Espanha foi seis vezes maior que a nossa; nos Estados Unidos, 12; no Chile, 15; na Índia, 35; e, na China, 42. De uma lista com 184 países, apenas 20 se saíram pior do que o Brasil nos últimos oito anos. É o caso da República Dominicana, que cresceu 0,1% em média ao ano, e de outras 19 nações cujas economias encolheram, como Angola, Líbano e Venezuela. Os outros 163 países cresceram mais do que o Brasil, dos quais 115 num ritmo médio anual ao menos 12 vezes maior.

Imagine uma família brasileira com renda mensal de R$ 10 mil em 2013, reajustada pela variação média anual do PIB. Desprezada a inflação, ela estaria ganhando ao final do ano passado R$ 10.120. Uma família americana com a mesma renda em 2013, e reajustada pelo mesmo critério, receberia R$ 11.740 em dezembro de 2021 —já uma família indiana, R$ 15.330.

Um crescimento baixo como o registrado no Brasil nos últimos oito anos inviabiliza qualquer projeto de investimento. Os candidatos podem prometer qualquer coisa: ferrovias, hidrovias, metrô em todas as grandes cidades, escolas em tempo integral, mais policiamento. Tudo vira conversa mole porque não há dinheiro para nada.

Se assusta olhar pelo retrovisor, a taxa de crescimento de 0,16% projeta um futuro sombrio, do qual precisamos escapar. Nesse ritmo, só conseguiríamos dobrar nosso PIB no ano 2484 — daqui a 462 anos.

Para dar uma ideia do absurdo, vamos voltar no tempo. E voltar os mesmos 462 anos. Chegaríamos em 1560, no Brasil colônia de Mem de Sá. Pense no governador-geral declarando que o nosso PIB só dobraria em 2022.

Nenhum país admirável do mundo vive esse desafio. Se crescer no ritmo dos últimos oito anos, a Alemanha precisará de 65 anos para dobrar o PIB. Os Estados Unidos dobrarão em 36, o Chile em 29, a Índia em 13 e a China em 11. Seria difícil festejar a duplicação junto com os EUA? Não. Bastaria crescer 2% ao ano. Para comemorar a duplicação junto com a China, 6,5%.

Na segunda metade do século 19, o Brasil cresceu num ritmo modesto de 1,5% ao ano. Mas triplicou o ritmo na primeira metade do século 20. Entre 1950 e 1980, chegamos a uma média anual admirável, de 7,4%. Daí vieram a década perdida dos anos 1980 e um ensaio de recuperação, que atingiu o melhor momento entre 2001 e 2010, com média anual de 3,7%.

O crescimento médio anual do PIB no mundo, nos últimos oito anos, foi de 2,5%. E o Brasil não vai tirar o atraso andando na média mundial. Temos que correr mais, como fazem muitos emergentes. A Indonésia, por exemplo, cresceu em média 4% ao ano. Infelizmente, o discurso político transformou "crescimento" numa palavra sem significado.

O desafio de 2022 é dar a ela um sentido prático, que começa com a retomada das reformas e passa por uma pauta séria: busca de produtividade, abertura da economia, aumento da presença no comércio internacional, combate à instabilidade jurídica, respeito aos contratos, investimento em tecnologia. Num ambiente hostil, o mercado se retrai, os planos de investimento são adiados e o PIB fica como está — condenando as pessoas ao atraso.

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