Opinião

Será que as pessoas são segregadas por política e religião?

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27 de junho de 2022, 19h24

Em The Righteous Mind (why good people are divided by politics and religion), Jonathan Haidt, filósofo e psicólogo moral (social), professor na New York University, autor desse livro com recente tradução para a língua portuguesa, de nome A mente moralista, por que pessoas boas são segregadas por política e religião, aborda um tema atual e intrigante, que nos proporciona uma reflexão sobre a intensa polarização que vivemos, onde as crenças e a moralidade de cada grupo social se sobrepõem muitas vezes ao bom senso.

As ideias apresentadas partem da divisão política nos Estados Unidos e se aplicam para diversos países, a exemplo do Brasil. Por óbvio, os conflitos entre grupos não são novidades. O problema é quando fazemos julgamentos de forma intuitiva e não de modo racional, e só em seguida buscamos as evidências. Sem dúvida, com fanáticos não há debates. Como cuidar desses problemas que afligem desde as sociedades mais evoluídas até aquelas mais incipientes?

De forma contundente, Haidt assegura que somos capazes de mentir e trapacear com frequência de modo tão eficaz, que convencemos até a nós mesmos. Ele acredita que o raciocínio vem para justificar as nossas emoções, levando a qualquer conclusão que queiramos desde que respondamos positivamente à pergunta: "Posso acreditar nisso?". Basta aparecer uma única evidência em seu favor que intuitivamente acreditamos. Já há, de acordo com o autor, um pressuposto em que alguém acredita, e a partir dele é construído o raciocínio.

A psicologia moral é a área que estuda como são articulados, em termos psicológicos, os nossos valores, e Haidt demonstra que há uma preocupação muito maior em parecermos ser bons do que efetivamente sermos. A moral em nossa sociedade pode ser manipulada, assim como os argumentos que interessam são selecionados para que as evidências a nosso favor sejam usadas para o convencimento daquilo que defendemos e acreditamos. Desse jeito fica quase impossível saber o que é certo ou errado, pois a intuição moral, conforme assegura o autor, parece vir antes do raciocínio crítico.

O funcionamento das mentes morais de forma diferente tem impedido o diálogo sem que haja polêmica, e isso faz Haidt crer que a psicologia moral humana tende a parecer mais ao modelo proposto por David Hume  razão escrava das paixões  do que ao modelo racionalista de Immanuel Kant  a lei moral dentro de mim.

Sem dúvida, as predileções ideológicas não devem fazer parte de um mundo meramente argumentativo, o qual muitas vezes segue o poder dominante naquele momento e se afasta da coerência.

A cooperação humana em sociedade vai além da genética, de modo que formamos identidades grupais por meio da cultura, da religião e da ideologia política. Na verdade, as crenças têm a finalidade de nos identificar ao grupo e trazer reputação. O autor acredita que somente com o exercício da empatia pode haver uma comunicação transformadora, e quem sabe até questionadora de nossas próprias convicções.

Ainda que as propostas do autor venham a ser consideradas insuficientes, o essencial da obra é manter vivo um tema antigo que permeia a sociabilidade humana, a qual necessita melhor compreender-se, até porque a superação dos nossos instintos é o caminho para que a afeição às paixões (cegas) não seja o empecilho para um verdadeiro debate de ideias e projetos para o país. Talvez assim as pessoas não sejam mais segregadas por política e religião, e sim unidas por um sentimento comum para garantir a todos políticas públicas aptas a realizar os direitos tão arduamente conquistados, inclusive o de votar e ser votado.

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