Dom e Bruno

Líder indígena relata a Barroso medo e ameaças após morte de Dom e Bruno

Autor

22 de junho de 2022, 10h56

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, recebeu nesta terça-feira (21/6) o líder indígena Beto Marubo, integrante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIJAVA), acompanhado da subprocuradora-geral da República Eliana Torelly, responsável pela câmara do Ministério Público Federal que cuida de temas indígenas.

Divulgação STF
Ministro Barroso em audiência com Beto Marubo, da Unijava Reprodução STF

Beto Marubo, que era amigo do indigenista Bruno Pereira – assassinado na região juntamente com o jornalista britânico Dom Philips –, relatou ao ministro ameaças, medo, apreensão e sensação de abandono na região do Vale do Javari (AM). Beto afirmou ainda que ele foi pessoalmente ameaçado, juntamente com o irmão Eliezio Marubo, o indigenista Orlando Possuelo e Francisco Cristóvão, da equipe técnica de indigenistas.

O indígena disse ao ministro que deixou o Vale do Javari por recomendação das autoridades de segurança locais, que apontaram riscos à vida dele. Ele afirmou que alguém anonimamente deixou um bilhete no escritório da área jurídico da UNIJAVA na cidade de Tabatinga (AM).

"Faço um apelo: nós perdemos um grande brasileiro (em relação a Bruno). Precisamos de intervenção agora no Vale do Javari", afirmou Beto Marubo ao ministro Barroso.

O ministro mostrou interesse em conhecer a realidade local para eventuais providências na ADPF 709, da qual é relator. "Estamos perdendo a soberania da Amazônia para o crime organizado", lamentou Barroso durante a conversa.

Beto Marubo relatou ao ministro problemas que a comunidade do Javari enfrenta atualmente. O primeiro é o abandono da região pelo Estado, com desmonte da Funai, assim como as constantes alegações das Forças Armadas de falta de recursos para operações necessárias e dificuldade da Polícia Federal em articular ações sem apoio das Forças Armadas. O segundo problema decorre da atuação das quadrilhas internacionais envolvendo brasileiros, peruanos e colombianos que exploram pesca ilegal (pirarucu e peixe liso, bem como de peixes ornamentais) e caça ilegal. Por fim, que o indigenista Bruno Pereira foi morto por ter feito o mapeamento essas atividades ilegais e da logística adotada pelos integrantes das quadrilhas e entregou ao MPF, além de ter dado ciência à Polícia Federal em Tabatinga.

Beto Marubo disse que, ao longo dos últimos anos, Bruno Pereira treinou os indígenas a usarem recursos e tecnologias atuais para poderem qualificar as informações, de forma técnica, sobre o aumento das invasões do território indígena Vale do Javari, constatando a atuação de quadrilhas organizadas em atividades ilícitas na região.

Ainda conforme Beto Marubo, há uma outra morte que pode estar associada ao crime envolvendo Bruno e Dom, a de Maxciel Pereira dos Santos em 2019. Ele chefiou, por cinco anos, o Serviço de Gestão Ambiental e Territorial da Coordenação Regional do Vale do Javari, e morreu com dois tiros na cabeça
em Tabatinga.

Para o líder indígena, não é possível determinar quem são os mandantes das mortes de Bruno e Dom – e eventualmente de Maxciel –, mas para ele é claro que o contexto está nessas quadrilhas internacionais que envolvem pesca e caça ilegal. "É preciso que se investigue essas quadrilhas, essa rede de criminosos, que protejam nossa terra", pediu Beto Marubo.

Segundo Beto Marubo, Bruno mais de uma vez comentou que a ADPF 709 havia trazido alento e visibilidade à causa, apesar da resistência da União em cumprir todas as determinações. Com informações da imprensa do STF.

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!