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E foi ministrada a primeira aula em metaverso! Agora vai!

2 de junho de 2022, 8h00

Por Redação ConJur

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Spacca
Há dias escrevi sobre um evento de Mato Grosso em que se dizia, na reportagem do jornal, que avatares de juízes, advogados, universitários e comunicadores flutuavam pelo saguão de palestras. Lindo isso.

Mas agora o ensino jurídico entra nessa. Claro. Como o ensino jurídico — que vai tão bem no Brasil — poderia ficar de fora desse novo "paradigma" (sic)? A reportagem mostra o avatar abaixo:

Reprodução

 

A aula teria sido de direito penal. Bom, não briguem com o mensageiro. O jornal publicou.

Minha pergunta: no que o metaverso pode melhorar o combalido ensino? Ou isso é só para "lacrar"?

Um país em que o ensino jurídico produz alunos e bacharéis que odeiam a Constituição, no que um avatar ajuda?

E em um país em que parcela considerável da comunidade jurídica diz que "existem direitos demais". Já escrevi sobre isso aqui na ConJur e há elementos que apontam para o percentual de 60%. Fossem médicos e rejeitariam antibióticos.

Pelo metaverso, o professor fica escondido atrás do avatar? O avatar faz algo de diferente do que diz o professor? Um velho PowerPoint não faz o mesmo trabalho?

Por que temos essa necessidade de transformar tudo em espetáculo? O repórter não consegue falar da enchente sem estar dentro… da água. O pão vai amentar… e lá está o repórter vestido de padeiro. Agora juízes querem desenhar as sentenças com visual law. E professores pós-modernos agora querem tornar as aulas atrativas. Pois é. Tik, tok…!

Tudo isso mais parece uma cortina de fumaça. Apenas a ponta do iceberg. Visual law e, agora, metaverso e quejandos, são as coisas que excitam boa parte da comunidade jurídica. Eis o "novo". Lá vem o "novo". Vamos todos aderir. Vamos desenhar as sentenças. Vamos ministrar as aulas por metaverso. Agora vai! Legal design para que se "possa melhor entender, de forma facilitada, o direito". Por aí. Legal! Leio também que nas redes circulam "mentores" de advocacia. Tem um que dá curso de como ser mentor. Genial. O Brasil se supera a cada dia. Logo aparecerão empresas como a que contratou a carreira de Gusttavo Lima… para gerir a carreira de advogados. Ups. Dei a ideia.

Enquanto isso… que tal deixarmos a ficção e os avatares de lado e olhar para o que acontece no direito? Lembro que, em 1991, em congresso no Rio de Janeiro, eu fazia uma metaforização do direito e da ficção do combate ao crime na cidade, que agora pode ser estendida à nossa pós-modernidade (sic) avatarística. Dizia eu:

" – O professor está na sala de aula ensinando direito penal [que coincidência, não? Hoje é com avatar]; lá fora ocorre um tiroteio que dura minutos; e o professor não perde a fleuma: continua a ensinar o conceito de rixa, dizendo aos alunos: "rixa exige o 'dolus rixandi'".

Fecham-se as cortinas.

O cometa está aí e os avatares ensinam direito. E os embargos… Ah, os embargos…!

O Brasil não consegue se olhar no espelho, mesmo.

Num país que nunca aprendeu conceitos básicos como o de princípio, de positivismo jurídico, que fala sobre Kelsen em 30 segundos chamando-o de exegeta, que não sabe (porque não se ensina) a diferença entre direito-moral (para ser generoso na crítica), agora querem superar essa (de)formação capenga com robozinhos e atalhos anti-epistêmicos. E metaverso. Imitando o que fazem os bancos e as empresas.

Como se o judiciário fornecesse "produtos". E como se o ensino jurídico fosse mercadoria.

Em breve um avatar atenderá o advogado, enquanto o juiz estará na sua casa ou no seu gabinete; e o robô do WhatsApp fará a audiência-despacho do pobre do causídico.

"Aqui é o assistente virtual Dr. Legal. Digite sua opção…. Desculpe, não entendi sua solicitação. Digite 1, 2 ou 3…"

Já não haverá congressos de direito; haverá feiras de tecnologia. Com avatares flutuando. E, quem sabe, com duplas sertanejas. Gusttavo Lima pago por prefeituras — eis uma boa sugestão!

Eis o "novo". Lá vem o "novo", como denunciava Brecht, o Bertoldo. Saudemos o Deus ex-machina.