Um homem negro, cantor lírico, ocupava o banco do motorista de seu carro da marca Jeep, considerada de alto padrão, quando um policial apontou uma arma para o seu rosto e ordenou que ele descesse do automóvel, com as mãos levantadas. Não houve esclarecimentos sobre o motivo da abordagem.
O tenor Jean William, 36, foi surpreendido nesta quinta-feira (27/1) ao ser abordado por PMs enquanto fazia a travessia de balsa entre Santos e Guarujá, no litoral paulista. O caso já está na Ouvidoria da Polícia de São Paulo. As informações são da coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo
"Que risco eu estava representando de dentro do meu carro, parado numa balsa, olhando pro mar, para que ele apontasse a arma daquela forma? Eu não entendo", afirmou o cantor.
O policial, que estava acompanhado de outro fardado, teria perguntado a William, aos gritos, se o carro era dele, se já tinha sido preso e se levava drogas. Em seguida, o interior do veículo foi revistado. "Eles mal tocaram no carro. Abriram o porta-malas e só viram duas cadeiras de praia", afirma o tenor.
Jean chegou a ser questionado se "tinha feito alguma coisa diferente" enquanto transitava pela região e explicou que, minutos antes de embarcar na balsa, precisou desviar de um caminhão na estrada. Um dos PMs teria respondido que poderia ser esse "o motivo de ter vindo uma denúncia", segundo William.
"Além do medo, tem o constrangimento. Tinham vários carros na bolsa, tinha gente filmando. Nos primeiros minutos fui tratado como um bandido", afirma.
"Não estou questionando o trabalho da polícia, mas a abordagem que eu sofri e o histórico [de outros casos semelhantes]. É uma humilhação. O fato de você ser quem você é não é suficiente para ter um carro daquele padrão, por causa da cor da sua pele", segue.
Após denunciar o caso nas redes sociais, Jean William foi procurado na noite desta quinta pelo ouvidor da Polícia de São Paulo, Elizeu Soares Lopes, que pediu mais informações.
O tenor afirma que essa foi a segunda vez em que passou por uma abordagem policial sem saber o motivo. A primeira, conta, ocorreu na cidade de Sertãozinho, no interior de São Paulo, anos atrás, quando estava acompanhado do sua madrinha e também precisou descer de seu veículo para ser revistado. "Por que um indivíduo preto não pode dirigir um carro bom?", questiona.