Porta giratória

Consultoria que empregou Moro recebeu R$ 40 milhões de empresas alvos da "lava jato"

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21 de janeiro de 2022, 9h35

A consultoria Alvarez & Marsal, para a qual Sergio Moro foi trabalhar depois que deixou o governo Bolsonaro, informou ao Tribunal de Contas da União que 75% de todos os honorários que recebe no Brasil são provenientes de empresas investigadas pela "lava jato".

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Segundo reportagem da revista Veja, nos últimos anos a consultoria recebeu quase R$ 42,5 milhões de empresas pilhadas pela atuação de Sergio Moro e do Ministério Público Federal: R$ 1 milhão por mês da Odebrecht e da Atvos (antiga Odebrecht Agroindustrial); R$ 150 mil da Galvão Engenharia; R$ 115 mil do Estaleiro Enseada (que tem como sócias Odebrecht, OAS e UTC); e R$ 97 mil da OAS.

O TCU recebeu essas informações no bojo da investigação da atuação de Moro: suas decisões, como juiz, ajudaram a colocar as empresas em situação financeira delicada; alguns anos depois, ele passou a trabalhar na consultoria responsável pela condução de várias dessas recuperações judiciais.

Segundo a revista Veja, no entanto, a Alvarez & Marsal não quer informar ao TCU quanto pagou a Moro no período em que ele trabalhou lá. A consultoria teria dito que não considera o TCU o órgão competente para investigar uma relação privada.

Publicamente, a empresa garante que Moro nunca trabalhou diretamente para nenhuma das empresas que ajudou a afundar. Já Sergio Moro, quando questionado, desconversa e diz que vai divulgar as informações sobre sua remuneração "no momento oportuno".

Investigação no TCU
A pedido do subprocurador Lucas Rocha Furtado, o TCU abriu procedimento para investigar a ida de Moro para a Alvarez & Marsal. O conflito ético é evidente, mas o TCU investiga também se houve proveito econômico.

Em dezembro do ano passado, o ministro Bruno Dantas ordenou que a consultoria revele quanto pagou ao ex-juiz quando ele deixou a empresa. Também mandou a empresa apresentar todos os processos de recuperação em que atuou no período da "lava jato", para que seja possível acompanhar a evolução dos negócios. O ministro garantiu ao MP junto ao TCU acesso integral aos contratos.

A investigação acabou atiçando amigos do ex-magistrado. O procurador Júlio Marcelo de Oliveira, fã declarado de Moro, pediu para participar do processo como custos legis, colocando em xeque a atuação de Lucas Furtado. Bruno Dantas negou o pedido. "Enfatizo que simpatia pessoal ou convergência ideológica não se confundem com interesse público", ressaltou na decisão.

Também saiu em defesa de Moro o senador Alessandro Vieira, do Cidadania (partido que está negociando formar uma federação com o Podemos de Moro). Vieira fez uma representação contra Bruno Dantas por suposto abuso de autoridade, mas sem qualquer legitimidade: os crimes de abuso são de ação penal pública incondicionada, ou seja, só o Ministério Público poderia denunciá-los.

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