alcance de fake news

De olho na eleição, TSE é tranquilizado por WhatsApp e põe Telegram na mira

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2 de fevereiro de 2022, 10h09

Nos planos do Tribunal Superior Eleitoral para as eleições de 2022, a ideia de reduzir o potencial de viralizar mentiras tem papel fundamental para evitar descrédito e ameaças à legitimidade do processo eleitoral. Nesse cenário, a corte tem atuado com o WhatsApp como grande aliado e o Telegram, como principal preocupação.

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WhatsApp é parceiro do TSE no enfrentamento à desinformação eleitoral
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Mais do que as tradicionais redes sociais, os aplicativos de mensagem instantânea são, hoje, o principal meio pelo qual o cidadão brasileiro recebe informações. Uma pesquisa de 2019 feita pela Câmara dos Deputados identificou que 79% dos entrevistados disseram receber notícias pelo WhatsApp.

Por isso, membros do TSE receberam com preocupação a informação de que o WhatsApp poderia derrubar limites de mensagens enviadas. É essa limitação que reduz drasticamente o potencial de impulsionar fake news eleitorais.

A hipótese foi revelada por reportagem do jornal O Globo em janeiro. Uma nova funcionalidade foi apresentada a setores estratégicos brasileiros e permitiria reunir diversos grupos em comunidades. Assim, os administradores delas operariam "grupos de grupos", com maior alcance.

Atualmente, o aplicativo limita grupos e listas de transmissão a 256 pessoas. Conteúdos marcados como frequentemente encaminhados só podem ser repassados a uma pessoa por vez. Há a possibilidade de denunciar mensagens específicas, para análise de moderadores.

Esse cenário levou o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, a marcar uma reunião com o head internacional do WhatsApp, Will Cathcart. No que definiu como uma "conversa construtiva", disse que recebeu esclarecimentos e a informação de que nenhuma alteração seria feita antes das eleições no Brasil.

"Nós acreditamos firmemente em proteger a privacidade das conversas das pessoas, e acreditamos em mudanças cuidadosas como limites para o encaminhamento de mensagens, que desencorajam a desinformação ao mesmo tempo que respeitam a privacidade. Nós manteremos as medidas efetivas que tomamos e não estamos planejando nenhuma mudança significativa para o WhatsApp no Brasil durante o período eleitoral”, afirmou o head do app.

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TSE tem buscado contato com o Telegram para pedir cooperação em período eleitoral
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O risco Telegram
O WhatsApp faz parte do rol de empresas que integram o programa de combate à desinformação do TSE, ao lado de Facebook, Instagram, Twitter, Youtube, Google e Tik Tok. O Telegram não está nesse grupo e é um grande ponto de preocupação para a Justiça Eleitoral.

Concorrente direto do WhatsApp, o aplicativo de mensagens não tem representação no Brasil, o que constitui uma brecha relevante, como já mostrou a ConJur. Os controles são ínfimos. Cada grupo pode ter até 200 mil membros e não há limites para compartilhamento de mensagens e de listas de transmissões.

Em dezembro de 2021, o TSE confirmou que o ministro Barroso enviou ofício ao diretor executivo do Telegram, Pavel Durov, solicitando uma reunião para discutir formas de cooperação com a Justiça Eleitoral. Não há notícia de que o pedido tenha dado resultado.

Na terça-feira, sem citar o app, Barroso defendeu que as plataformas que queiram operar no Brasil devem estar sujeitas à legislação brasileira e às autoridades judiciais do país.

"Nenhuma mídia social pode, impunemente, se transformar em espaço mafisoso onde circule pedofilia, venda de armas, de drogas, de notas falsas ou de campanhas de ataques contra a democracia, como foi divulgado pela imprensa nacional", afirmou.

No Telegram, o presidenciável com mais inscritos em seus canais é Jair Bolsonaro. São mais de 1 milhão. Na última semana, em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada ele classificou como "covardia o que estão tentando fazer" com o aplicativo no Brasil e afirmou que "a gente está tratando disso".

Sem representação no Brasil, não há muito que a Justiça Eleitoral possa fazer para alcançar diretamente o Telegram — a não ser bloqueá-lo, uma hipótese que, longe de ser ideal, tem sido ventilada no debate público sobre o tema.

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"Nenhuma mídia social pode, impunemente, se transformar em espaço mafisoso", criticou o ministro Luís Roberto Barroso
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Saídas possíveis?
O Congresso Nacional também pode entrar na discussão. Está em tramitação o Projeto de Lei 2.630/2020, chamado PL das Fake News, o único que se aproxima do que o ministro Barroso defende sobre o tema. Em novembro de 2021, o relator, deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) apresentou substitutivo em que ampliou o alcance da norma.

O parágrafo 2º do artigo 1º do PL agora diz que a lei "aplica-se, inclusive, aos provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada sediados no exterior, desde que ofertem serviço ao público brasileiro ou que pelo menos uma integrante do mesmo grupo econômico possua estabelecimento no Brasil".

Enquanto isso, o TSE se planejou para combater o uso de disparos em massa para influenciar as eleições. Não a toa, esse potencial foi muito bem explorado pelo presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, por meio do que um inquérito em tramitação no Supremo Tribunal Federal identificou como "gabinete do ódio".

O próprio TSE, ao julgar o caso em 2021, concluiu por maioria que a campanha bolsonarista usou disparos em massa para promover desinformação contra adversários políticos, embora a falta de provas da gravidade e influência disso no resultado tenha levado à absolvição da chapa Bolsonaro-Mourão.

Na ocasião, o ministro Alexandre de Moraes, que presidirá o TSE durante as eleições, avisou que "se houver repetição do que foi feito em 2018, o registro será cassado e as pessoas que assim fizerem irão para cadeia". Em dezembro, a corte aprovou resolução que oficialmente veda o uso de disparos em massa.

Texto alterado às 11h13 para acréscimo de informação.

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