Portugal pode ser ponte em diálogo entre Brasil e Europa, diz Gilmar
1 de fevereiro de 2022, 19h18
Em 2022, ano do bicentenário da independência, o Brasil tem a oportunidade de refletir sobre os rumos de sua política externa a fim de buscar reinserção no mundo, em um contexto transformado pela pandemia e pela revolução tecnológica. E, nesse movimento, Portugal pode ser a porta de entrada para o país nas negociações com as nações europeias.

Carlos Moura/STF
A avaliação foi feita pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, no webinário de abertura do ciclo Independência com Integração, realizado nesta terça-feira (1º/2) pelo Poder360 em parceria com o Fórum de Integração Brasil e Europa (Fibe) e com apoio do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e da ConJur.
"Temos que ganhar a consciência do papel do Brasil no mundo. Nós somos um país-continente e temos um belíssimo legado de cultura portuguesa, que, ao contrário do que alguns veiculam, nos enche de orgulho. A colonização portuguesa permitiu esse Brasil uno, que nos propicia orgulho e riqueza", afirmou o ministro.
"Por outro lado, devemos ter consciência do nosso papel na América do Sul, daí a importância do Mercosul. Temos uma plataforma cultural comum com os europeus, e Portugal é essa ponte que podemos ter para um diálogo mais profícuo com a Europa", destacou.
O ministro ressaltou ainda a importância do fortalecimento de laços com a comunidade de língua portuguesa.
"Também não devemos perder de perspectiva o mundo lusófono como um todo. Recentemente, foi assinado o Acordo sobre a Mobilidade [entre os Estados-Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]. Oxalá isso seja ratificado no Congresso Nacional e que daí resulte uma maior integração. Tenho a impressão de que no plano da academia e da atividade industrial já há um grande esforço nesse sentido", concluiu.
Representante de Portugal no debate, o pesquisador Bernardo Ivo Cruz, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, também exaltou a integração, mas lançou um olhar crítico sobre a postura do Brasil em relação ao mundo.
"O Brasil é um grande mercado, um grande país, mas muito centrado sobre si próprio, não culturalmente, mas economicamente. A capacidade de exportação do país está aquém do seu potencial. A questão, porém, não é jurídica, mas de modelo fiscal, de impostos. É mais fácil exportar de Lisboa para a Lituânia, por exemplo, do que para o Brasil", explicou.
Para o pesquisador, o país resolveria esse entrave se olhasse mais para o mercado externo em vez de se concentrar na economia interna, "que é muito rica, mas limitada".
"Há muito ainda para abrir, permitir o acesso a serviços e empresas estrangeiras. Há muito a ganhar também com a integração aos grandes movimentos tecnológicos e científicos. Na pandemia, não houve grande cooperação entre os Estados, mas todo mundo partilhou informação e pesquisa, permitindo avançar muito mais depressa em relação às vacinas. Isso é um bom exemplo do que pode acontecer em outros casos", disse.
Convidado para falar sobre o aspecto histórico das relações entre os dois países, especialmente em relação à abertura dos portos às nações amigas — episódio ocorrido em 1808 e tido como inaugural no processo de independência do Brasil —, o professor emérito da PUC-RJ Ilmar Mattos também ressaltou a importância do intercâmbio com outras nações, Portugal à frente.
"A abertura dos portos abriu a possibilidade de discutir as trocas com outras regiões do planeta, particularmente com o mundo do atlântico. Hoje, reconheço que é fundamental aprofundarmos a relação com Portugal, não só na economia, mas também na cultura. Nesse sentido, as datas comemorativas tiram do limbo certas questões que são fundamentais, em um mundo que está em permanente mudança", observou o professor.
Veja abaixo a íntegra do debate:
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