Opinião

Como funciona o modelo de gestão de partnership?

Autor

  • Marilza Tânia Ponte Muniz Feitosa

    é advogada pós-graduada em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas sócia fundadora do escritório Marilza Muniz Advocacia com atuação em Direito Societário contratos assessoria jurídica para startups e compliance presidente da Comissão de Direito Empresarial da OAB Subsecção Sobral profissional de compliance anticorrupção CPC- A certificada pelo LEC Certification Board e FGV.

6 de dezembro de 2022, 6h06

O modelo de gestão de partnership (do português "parceria") é uma boa maneira para uma startup, que sofre com a forte concorrência das grandes empresas, reter novos talentos e crescer no mercado.

Por meio de um plano estruturado, é possível que os colaboradores se tornem sócios da empresa ao qual trabalham. A ideia é abrir oportunidades para que os melhores colaboradores se transformem em sócios do negócio e desconsiderem outras propostas de trabalho.

Porém, ainda que possa parecer uma prática de alto valor para qualquer empresa, é importante mencionar que se trata de um projeto extremamente estratégico, com alto impacto em todo o negócio. Por isso, existe o momento adequado para avaliar e implantar essa estrutura.

1. O que é partnership?
Dentro do ambiente corporativo, representa um modelo de gestão baseado na meritocracia, por meio do qual funcionários se tornam parceiros ou sócios do negócio.

O objetivo é dar oportunidade aos melhores colaboradores se tornarem acionistas do negócio. Assim, eles podem ser remunerados não apenas pelo trabalho, mas também pelos resultados da empresa. Com isso, espera-se que a empresa tenha mais resultados na captação, retenção e performance dos profissionais envolvidos.

Nesse contexto, se o colaborador acredita no sucesso da empresa, oferecer a ele a oportunidade de se tornar sócio é uma estratégia vantajosa para ambas as partes.

Dessa forma, a startup consegue manter seus talentos e o colaborador é elevado à condição de sócio e passa a se dedicar mais na expectativa de crescer com a empresa.

2. Como funciona o modelo de partnership?
Partnership é um modelo mais complexo que os demais e para que o modelo tenha sucesso, é preciso ter muita atenção. Por isso, é importante destacar alguns pontos:

  • O partnership só se aplica aos colaboradores

No modelo tradicional de sociedade, nada impede que qualquer pessoa com o devido investimento em mãos se interesse por comprar uma parte das ações da empresa, mesmo que ela não conheça previamente nenhum de seus sócios.

Isso, porém, não acontece no partnership, nesta que provavelmente é a maior diferença em relação aos modelos societários tradicionais. O partnership é destinado apenas a quem já trabalha naquela empresa.

Este ponto é importante, inclusive, para a avaliação dos sócios em relação ao possível ingresso de um colaborador como novo sócio por meio do modelo de partnership, já que o profissional deve demonstrar seu comprometimento e desejo de realmente ajudar a empresa a crescer.

  • É fundamental que o interessado esteja alinhado com a cultura da empresa

Em um cenário ideal, todos os colaboradores de uma empresa precisam estar alinhados com a cultura organizacional. Dessa maneira, é fundamental a observância à missão, à visão e aos valores da empresa, o que tende a manter a equipe engajada e em busca do mesmo propósito.

Quando falamos em partnership, o alinhamento com a cultura da empresa torna-se ainda mais importante. Afinal de contas, aquela pessoa passará a ser, de fato, sócia daquele negócio, ou seja, terá uma voz ainda mais ativa em sua continuidade.

Por isso, é de extrema relevância que o interessado já tenha demonstrado no seu dia a dia a sua apreciação pela cultura organizacional. Dessa forma, as chances de eventuais desalinhamentos serão amenizadas.

  • A participação societária no partnership costuma equivaler a um percentual pequeno

Quando nos referimos ao modelo tradicional de sociedade, é comum pensarmos na aquisição de grandes cotas acionárias. O futuro sócio investe um determinado valor e, a partir de então, passa a ser dono de, por exemplo, 25% das ações daquela empresa.

Porém, no partnership, as coisas são mais distantes. Embora não haja uma regra propriamente dita, geralmente se fala em pequenas participações acionárias, como 0,5%, por exemplo.

Ainda que o percentual não costume ser tão grande, é importante considerar que o crescimento da empresa tende a resultar na valorização das cotas e, consequentemente, em lucros para os acionistas, ainda que estejam no modelo de partnership.

3. Em quais empresas eu posso usar o partnership?
O sistema de partnership pode fazer sentido para qualquer empresa com expectativa de os colaboradores se tornem sócios do negócio. Ocorre que, algumas empresas possuem mais praticidade com esse modelo, são elas:

  • Startups e empresas de alto potencial de crescimento:

Nas startups, o modelo de partnership faz bastante sentido quando se pensa em viabilizar, através da obtenção futura de cotas da sociedade, a contratação de colaboradores que possuem uma expectativa salarial mais alta do que a empresa tem capacidade de pagar.

Através disso, as empresas vinculam uma fatia da sociedade no futuro – que se espera que vá valer mais com a dedicação de todos os envolvidos – de maneira que consiga engajar colaboradores no processo de aceleração da empresa.

  • Empresas de prestação de serviços

Para as empresas de serviço, o modelo de partnership também é muito favorável. O modelo entende que quanto mais a empresa crescer, mais vai fazer sentido ter novos sócios para liderarem e se responsabilizarem por áreas complexas do negócio.

  • Grandes empresas

Por fim, as grandes empresas também adotam modelos de partnership. Isso se deve ao fato de já possuírem maturidade de gestão o suficiente para criarem um modelo que possa ser um atrativo para reter e engajar as melhores pessoas envolvidas com o negócio.

Algumas companhias já nascem aderindo ao partnership, enquanto outras o fazem enquanto amadurecem administrativamente. Existem, ainda, aquelas que nunca se voltam para o partnership. Isso não é um defeito, nem uma qualidade, mas sim uma escolha feita estrategicamente: o partnership apresenta vantagens e desvantagens, como qualquer outro modelo, e deve ser implementado sabiamente para trazer os resultados desejados.

4. Quais são as vantagens do modelo de partnership?
Na teoria, os benefícios para implantação de um modelo de partnership são inúmeros. O grande desafio, no entanto, é a empresa construir um modelo personalizado e assertivo para que a empresa não acabe se prejudicando.

O principal benefício é a cultura e gestão de pessoas da empresa. Certamente todos os processos serão potencializados se o colaborador, independente da área, tempo ou função puder, algum dia, conforme o seu crescimento, passar a fazer parte da estrutura societária da empresa.

Outro ponto importante é que a empresa ganha muito engajamento, produtividade e amplia muito a sua capacidade de geração de resultado quando possui colaboradores com interesse direto na geração de lucros da companhia.

5. Quais os cuidados antes de aderir ao modelo de partnership?
O processo de implementar o modelo partnership não é simples e deve ser feito com atenção e tempo pela empresa. Não se trata de um projeto a ser inserido com muita velocidade. São necessárias muitas reflexões e atividades para que seja concluído da melhor forma.

  • A empresa precisa ter estratégia

Não é possível construir o programa se a empresa não tiver clareza da sua visão, missão e valores — e também se não souber seus objetivos e qual o plano de crescimento. Sem essa clareza, não tem como saber quais profissionais vão fazer sentido para o programa — e também como ele deverá funcionar.

  • A empresa precisa ter uma cultura já definida

O programa de partnership é o "último nível" de maturidade do ambiente de pessoas em uma empresa. Sendo assim, é imprescindível que existam valores claros, uma cultura que esteja conectada à estratégia — para que, desta forma, o programa performe conforme os objetivos do negócio.

  • É necessário ter clareza da estrutura de pessoas

Um dos pontos importantes para o modelo de partnership é entender quem poderá fazer parte dele. Neste sentido, a empresa precisa ter a clareza da sua estrutura de pessoas e de como os colaboradores crescem nela.

  • O financeiro precisa estar estruturado

É impossível trazer novos sócios para o negócio se a empresa não tiver uma estrutura financeira clara e gerencial. Assim, é preciso saber o lucro, as projeções financeiras e também o valuation do negócio. Sem isso, não é possível dividir, doar ou vender cotas para colaboradores.

Além disso, ao iniciar o negócio, o empreendedor deve assumir uma posição profissional e garantir, em conjunto com seu sócio ou sócios, que os deveres e responsabilidades de cada um sejam detalhados em um contrato formal. Esse documento deverá conter explicitamente a divisão de trabalho, a quantidade de capital que cada um contribuirá, o que cada um possui, como as decisões serão tomadas, como os lucros serão compartilhados, entre outros tópicos essenciais a fim de evitar futuros conflitos e desentendimentos.


Referências

GEORGE EICH, Partnership: o que é, alinhamento, engajamento e resultados. Disponível em: https://coblue.com.br/blog/partnership/. Acesso em 11 nov 2022.

JOÃO GOBIRA, Gestão de negócios: você sabe o que é partnership? Disponível em: https://www.startse.com/noticia/empreendedores/gestao/gestao-de-negocios-voce-sabe-o-que-e-partnership/. Acesso em 14 nov 2022.

LUCIANNE CANTO, Partnership: conheça as suas vantagens. Disponível em: https://4cinco.com/partnership/. Acesso em 11 nov 2022.

MARCELO ALMEIDA, Descubra o que é partnership e se o modelo funcionaria em sua empresa. Disponível em: https://www.whow.com.br/descubra-partnership-modelo-funcionaria-empresa/. Acesso em 11 nov 2022.

Autores

  • é advogada inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil, pós-graduanda em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, presidente da Comissão de Direito Empresarial da OAB Subsecção Sobral e profissional de Compliance Anticorrupção CPC pela LEC e FGV.

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