Opinião

As práticas ESG e as instituições de ensino no Brasil

Autores

27 de novembro de 2021, 9h13

Representantes de quase 200 países estiveram reunidos na COP26 objetivando acelerar a ação em direção aos objetivos do Acordo de Paris e da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

Cada vez mais, os países discutem a importância de preservar o ambiente para mantermos boas condições de vida e produção no futuro. A cada ano, mais pesquisas são feitas e mais especialistas chamam a atenção para o tema.

Mudanças climáticas, crise hídrica, desastres ambientais como o de Brumadinho e Mariana têm influenciado significativamente tanto as agendas políticas e institucionais em escala global quanto o debate público. Organizações do terceiro setor, governos, cientistas, empresas e atores sociais estão discutindo como enfrentar a atual crise hídrica, mitigar seus efeitos e se adaptar às mudanças climáticas. O reconhecimento da natureza política dessa crise climática e ambiental e das profundas contradições e desigualdades que a caracterizam está finalmente emergindo no debate nacional.

Assim como no mundo corporativo, nas universidades o assunto sustentabilidade também se tornou indispensável devido ao contexto das relações entre homem e meio ambiente. Lembrando que os jovens de hoje serão os futuros tomadores de decisão do mundo, independentemente da profissão escolhida. Cabe às escolas, em sua totalidade, desenvolver um conjunto de práticas e ensinamentos focados na questão do desenvolvimento sustentável do planeta, com base no conceito ESG (environmental, social and corporate governance).

As universidades historicamente encabeçam ações de mudança econômica e social, sendo lógico, portanto, supor que estariam na vanguarda do atual movimento crescente chamado ESG para incluir questões ambientais, sociais e de governança na sua gestão. Contudo, não é o que se vê na prática. Poucas faculdades e universidades possuem uma organização sistematizada de atuação em questões socioambientais, em que pese serem grandes geradoras de impacto ambiental.

Existem várias explicações para o motivo pelo qual os gestores educacionais estão atrasados na governança socioambiental, desde o próprio desconhecimento e engajamento dos gestores educacionais, falta de consenso da necessidade ou não de investimento, diferenças de opinião sobre a melhor forma de impactar fatores socioambientais, confusão/ceticismo sobre os retornos de investimentos tradicionais versus "investimentos ESG", mito de que a sustentabilidade é restrita às empresas grandes e cheias de dinheiro e, principalmente, a própria inércia e a visão tradicionalista que impedem pensar fora da caixa e em um mundo melhor.

No entanto, cuidar do meio ambiente, ter responsabilidade social e adotar melhores práticas de governança, além de ser obrigação das empresas, passou a ser uma necessidade mercadológica. As novas gerações de alunos, com poder discricionário de escolha, estão começando a olhar para as companhias e verificando seus projetos sociais, se são neutras ou positivas em termos ambientais, se possuem código de conduta, compliance, entre outros fatores englobados na ESG.

No mais, segundo estudo realizado pelo The Boston Consulting Group, as companhias que têm boas práticas nesse campo apresentam resultados melhores ao longo do tempo, assim como no Brasil a B3 Bolsa de Valores comprova que aquelas listadas em "índices verdes" tem melhores resultados, trazendo, por óbvio, mais capital dos investidores.

Não há mais como fingir que a temática está fora do contexto das instituições de ensino. Os gestores educacionais passaram a ser obrigados a ter uma base substancial de conhecimento a respeito do que é o ESG pela compreensão dos riscos ambientais, sociais e de governança, sendo essencial o desenvolvimento de uma metodologia e estratégias de trabalho para todas as áreas de uma instituição de ensino.

Escolas que não integrarem ESG à cultura de sua organização podem não sobreviver. A transformação do país pela educação significa também transformar por meio da sustentabilidade, da sociedade e da governança.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!