"Eu já sabia?"

Surpresa para uns, normal para outros: advogados explicam vitória de Vanzolini

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26 de novembro de 2021, 20h16

A advogada criminalista Patricia Vanzolini foi eleita presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de São Paulo, em uma eleição acirrada em que ela terminou com 67.395 votos (36,05%), enquanto o segundo colocado e atual presidente da Ordem paulista, Caio Augusto Silva dos Santos, teve 61.196 (32,73%).

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Patricia Vanzolini superou previsões e foi eleita a nova presidente da OAB-SP
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Tradicionalmente, a situação costuma vencer os pleitos das seccionais. Por isso, à primeira vista, a vitória de Vanzolini pode surpreender. Mas os envolvidos em sua campanha já tinham o resultado como esperado.

Em 2018, ano das últimas eleições da entidade, Patricia foi vice do advogado Leonardo Sica, quando ficaram em 3º lugar, com 16% dos votos. A princípio, Sica seria novamente candidato da chapa "Muda OAB-SP", apoiada pelo Instituto Movimento 133; mas uma inversão publicamente de última hora acabou sendo feita, e a criminalista passou a encabeçar a chapa.

Essa mudança foi vista como decisiva para a vitória do grupo sobre a atual gestão, conforme explicaram os advogados ouvidos pela ConJur. A insatisfação com a atuação do atual presidente, especialmente durante a epidemia de Covid-19, também foi apontada como uma razão para que a vitória da oposição não tenha sido uma grande surpresa.

A advogada Mariana Lacerda, coordenadora de comunicação do Instituto Movimento 133, contou que o instituto foi formado a partir das movimentações da campanha de 2018. "Quando começamos a pensar propostas efetivas para a advocacia, desaguamos na participação eleitoral deste grupo com o Leonardo Sica encabeçando o projeto. Após as eleições, permanecemos na atuação pela advocacia: fizemos vários projetos de lei, brigamos pela eleição online e avançamos em várias pautas, qualificando o debate na advocacia por meio de vários eventos", explicou.

Durante esse tempo, de acordo com a advogada, o grupo trabalhou no acolhimento dos advogados banidos da OAB ou perseguidos pela gestão por serem dissidentes ou opositores. Dessa forma, entende que a chapa chegou à eleição atual com muito respaldo e não recebeu a vitória como surpresa. "Tínhamos trabalhado e sabíamos da desmobilização da atual gestão, que não foi boa. Assim, havia o sentimento de que a vitória era muito possível."

O fato de hoje as mulheres serem maioria na OAB também explica a mudança nos rumos de uma eleição sempre dominada por homens, destacou Lacerda. "Nossos anseios e nossas dificuldades não vinham sendo endereçadas da melhor forma. A pressão por uma gestão feminina já foi imensa na eleição passada, mas, em 2018, não havia nenhuma mulher que tivesse um histórico eleitoral com articulação possível para uma campanha de sucesso."

"Este ano, não só a Patricia já vinha com musculatura própria da sua atuação na eleição de 2018, como a oposição renovada trouxe a campanha forte da Dora Cavalcanti, que também exerceu pressão para essa troca de cadeiras no M133 e para a Patricia tomar a frente do projeto, com o Leonardo cedendo à presidência", concluiu.

Cecília Mello, desembargadora federal aposentada e advogada criminalista, que será conselheira estadual na nova gestão, disse que a chapa acreditava nas chances de vitória e que a alteração da popularidade não aconteceu no curso da votação. "A mudança mais significativa, na minha opinião, ocorreu no momento que Leonardo Sica desistiu de ser candidato a presidente para que Patricia ocupasse a cabeça da chapa. Ela, por sua vez, deixou claro que não era uma candidatura independente, mas dos dois e de todos os integrantes da chapa. Isso foi uma demonstração de que a candidatura não era um projeto pessoal, mas uma proposta de grupo, uma proposta democrática. Aí foi a grande diferença. Some-se a isso o trabalho árduo de todos os colaboradores", completou a advogada.

Membro da chapa de Vanzolini, Alberto Zacharias Toron, advogado e doutor em Direito Penal, será conselheiro federal e destaca que havia muita vontade de ganhar e muita determinação para que isso acontecesse, mas ninguém previa a vitória, dado o provável favoritismo da situação.

Para ele, a grande mudança se deve ao fato de que Patricia é uma grande candidata, professora consagrada e com propostas consistentes, dando um novo colorido à disputa. "Além disso, havia muita insatisfação dos advogados com o presidente Caio, que brigou com muita gente, enquanto a ideia da nova gestão é que não haverá inimigos e de trabalhar em conjunto com toda a classe", ressaltou.

Paula Sion, advogada criminalista e conselheira da Comissão de Prerrogativas da OAB-SP, concorda que houve um grande desgaste da situação, que inclusive culminou com a dissidência de figuras chaves da atual gestão, tais como Lazara Carvalho, que acabou saindo candidata a vice-presidente pela chapa de Dora Cavalcanti, e Ana Amélia Camargos, dentre tantos outros nomes importantes, como o da própria tesoureira Raquel Preto.

Além disso, houve insatisfação com os rumos da entidade nos últimos anos, com a perda de seu protagonismo e relevância para a advocacia e que se traduz na enorme abstenção na votação, segundo Sion. Ela também elencou como fator importante para a vitória da oposição o distanciamento da classe com relação a sua própria entidade, o silenciamento da OAB paulista em relação a temas importantes da sociedade, e a quebra do compromisso firmado de não reeleição pelo atual presidente.

"Por fim, não posso deixar de mencionar que São Paulo preferiu não aderir à modernidade e à votação online que teriam tornado o processo ainda mais democrático. A meu ver, todos esses pontos foram fundamentais para o resultado das eleições."

Segundo Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado criminalista apoiador da chapa, era esperada a pequena diferença entre os grupos mais votados; porém, Vanzolini teve, no final, um desempenho muito bom no interior do estado.

Viviane Girardi, presidente da Associação dos Advogados de São Paulo (Aasp), avalia que o resultado da eleição não foi uma surpresa, embora a chapa da situação tenha sido sempre apontada como favorita ao longo do processo eleitoral.

"O fato de duas mulheres encabeçarem chapas diferentes da oposição já era um indicativo do desejo por uma maior diversidade e ampliação da representação de mulheres na seccional. A vitória da Patrícia e a boa votação da candidata Dora Cavalcanti revelam que advogados e advogadas de fato queriam mudanças de rumo. Este sentimento decorre da minha experiência à frente da Aasp, onde esse mesmo fenômeno também ocorreu."

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