Opinião

O que 'Lupin' nos ensina sobre compliance?

Autor

  • Thaís Moura Carreira

    é pós-graduada em Direito Privado Patrimonial pela PUC/RJ mestranda em Direito Constitucional pela Universidade Federal Fluminense autora do artigo “Inteligência artificial e Robotic Process Automation e suas aplicabilidades ao universo jurídico” publicado no livro “Direito Exponencial: o papel das novas tecnologias no jurídico do futuro” e profissional da área de compliance do escritório Queiroz Galvão S.A.

25 de junho de 2021, 10h36

Talvez você já tenha ouvido falar sobre "Lupin", título da Netflix mais assistido no serviço de streaming, entre filmes e séries, no primeiro trimestre deste ano. A série se passa na belíssima Paris e conta a história de Assane Diop, um homem que tenta se vingar de uma família rica por injustiças cometidas contra seu pai, anos antes.

Mas o que você talvez não tenha percebido é que é possível relacionar a série a programas de compliance. Apesar do contexto de roubo e alguns métodos não tão ortodoxos utilizados pelo protagonista, alguns trechos nos trazem bons insights sobre gestão de riscos, due diligence, denúncias, investigações e melhoria contínua.

Assane, inspirado em Arsène Lupin, está sempre a frente dos demais, estuda e planeja suas ações com antecedência, mitigando e gerenciando os riscos de suas atitudes. Ele nunca é pego desprevenido. Assim como Assane, os profissionais das áreas de compliance devem estar sempre atentos aos riscos a que as organizações estão sujeitas, traçando planos de ação consistentes, preocupando-se em atualizá-los e em revisitar a matriz de riscos, para que nunca sejam surpreendidos.

Os processos de due diligence, às vezes menosprezados ou mal compreendidos, na verdade são peças importantes para conhecer melhor seus parceiros de negócio e se preparar para a construção de relações comerciais. O segredo para o sucesso das ações de Assane, por mais que fictícias e, em alguns momentos, ilegais, encontra-se exatamente no processo de due diligence que ele realiza com primazia, tanto com relação à família Pellegrini quanto com relação aos policiais e demais envolvidos.

Um bom programa de compliance é aquele que atende e se adapta a tamanho, contexto, ramo, valores e costumes de uma empresa. É também aquele que está em constante mudança e que é capaz de ser criativo e cativar as pessoas por sua irreverência e companheirismo. Diop, assim como políticas de compliance, precisa se adaptar às situações que tem pela frente, por isso adequa sua aparência e discurso e jamais perde sua veia inovadora e surpreendente.

Já com relação aos conflitos de interesse, esses estão presentes na série em diversos momentos e são ponto-chave para que a corrupção dure por tantos anos, sem que punições ocorram. São as influências e o abuso de poder que baseiam um sistema corrompido e que causam mal e destruição de vidas que nunca deveriam estar envolvidas em situação tão repugnante, como acontece com Babakar, Assane, Raoul e Claire.  

Investigar os indícios de ilegalidade sem alterar o curso e o procedimento investigatório de acordo com o cargo do investigado, além de ser uma demonstração clara da liberdade e independência, é a atitude que faz a diferença no combate à corrupção. Youssef Guedira, policial atento e subestimado, persistente e obstinado, é um exemplo de profissional nesse quesito.

Novos episódios de "Lupin" ainda estão por vir, certamente recheados de emoção e de reflexões sobre as consequências da corrupção para a nossa sociedade. Mas, enquanto isso não acontece, nos resta incorporar a criatividade de Assane, a paciência de Claire, a coragem de Fabienne Beriot e a persistência de Guedira contra a imoralidade das nossas famílias Pellegrini, que, infelizmente, ainda existem no mundo real.

Autores

  • é pós-graduada em Direito Privado Patrimonial pela PUC/RJ, mestranda em Direito Constitucional pela Universidade Federal Fluminense, autora do artigo “Inteligência artificial e Robotic Process Automation e suas aplicabilidades ao universo jurídico”, publicado no livro “Direito Exponencial: o papel das novas tecnologias no jurídico do futuro”, e profissional da área de compliance do escritório Queiroz Galvão S.A.

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