Aliança com Bretas

Ex-governador Pezão diz que criminalista lhe avisou que seria preso 15 dias antes

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9 de junho de 2021, 18h51

O ex-governador Luiz Fernando Pezão  (MDB-RJ) afirmou que o advogado criminalista Nythalmar Dias Ferreira Filho o avisou com antecedência que ele seria preso e lhe ofereceu ajuda no processo.

Fernando Frazão/Agência Brasil
Pezão disse que condenação do juiz Marcelo Bretas não apontou onde está o dinheiro que ele teria recebido ilegalmente
Fernando Frazão/Agência Brasil

"Ele me falou 15 dias antes de eu ser preso que eu seria preso. Não dei importância nenhuma porque achei que ele estava vendendo ideia, como uma função que aparecia no Palácio (Guanabara) lá e falando que tinha esse contato, que fazia e acontecia. Era coisa que mais aparecia e ele falou: 'Você vai ser preso dentro de 15 dias. E o doutor [o juiz Marcelo] Bretas não tem dúvida, ele tem certeza que você é sócio de uma empresa de pavimentação em Piraí'. Eu dei uma risada e falei assim: 'se o motivo é esse, eu não vou ser preso, porque eu não sou sócio, tenho certeza da minha vida e de tudo'. Fiquei tranquilo e 15 dias depois fui preso. Eu não dei importância e agora vejo que ele tinha contato", disse Pezão ao jornal O Dia.

Pezão foi preso preventivamente no fim de novembro de 2018, quando ainda era governador, a mando do ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça. No pedido de prisão, a Procuradoria-Geral da República argumentou que o esquema de corrupção estruturado pelo ex-governador Sérgio Cabral (MDB-RJ) foi mantido por Pezão e seguia ativo. Solto, o governador poderia dificultar ainda mais a recuperação dos R$ 39 milhões que supostamente recebeu de propina, disse a PGR.

O ex-governador também disse ao jornal que Nythalmar o procurou dizendo que poderia ajudar no processo e pediu para ser contratado como seu advogado.

"Ele só falou que tinha como me ajudar e pediu que eu contratasse os serviços dele. Eu falei que já tinha advogado, meu advogado é até uma pessoa que virou meu amigo, porque eu não tinha dinheiro para pagar grandes escritórios e que eu não ia mudar de advogado, ainda mais por um motivo daquele, que eu tinha certeza que não tinha cometido (o crime). Eu jamais tive qualquer empresa", declarou Pezão.

De acordo com Nythalmar Dias Ferreira Filho, o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, negociou penas, orientou advogados e combinou estratégias com o Ministério Público. 

Na última sexta-feira (4/6), Bretas condenou Pezão a quase 99 anos de reclusão, pelos crimes de corrupção passiva e ativa, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

O ex-governador do Rio disse que desconhece os valores mencionados pelo juiz na sentença e que não recebeu o dinheiro citado na condenação.

"Eu estou totalmente perplexo com tudo isso. Ele coloca que eu recebi quatro mesadas de R$ 150 mil, mas como é que eu vou responder a um negócio desses? Quando fui prestar depoimento, falei que nunca recebi. Eram palavras de delatores do grupo do Sérgio (Cabral), e o Sérgio falando de mim. Só tem a minha vida, o Coaf, a Receita Federal. Como que você esconde mais de R$ 10 milhões? Eu não sei como, eu não conheço doleiro. Você pode pegar o processo inteiro, pode pegar minha vida, o meu telefone e não tem nenhuma ligação de dinheiro algum para mim. Será que eu sou o cara mais esperto do mundo, que consegue esconder o que eles falam, R$ 39 milhões, e ninguém consegue achar nenhum centavo?", questionou Pezão.

Medidas contra Bretas
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil apresentou, nesta segunda-feira (7/6), à corregedora nacional de Justiça, Maria Thereza Rocha de Assis Moura, reclamação disciplinar contra o juiz Marcelo Bretas. A OAB pede o afastamento do juiz responsável pelos processos da franquia lavajatista no estado até o julgamento do caso.

O advogado Luis Eduardo Salles Nobre pediu que o Ministério Público Eleitoral investigue se Marcelo Bretas interferiu nas eleições ao governo e à prefeitura da capital em 2018 e 2020, respectivamente. Se for o caso, o advogado pede a anulação das disputas.

Em acordo de delação premiada firmado com a Procuradoria-Geral da República, Nythalmar Dias Ferreira Filho afirma que Bretas atuou para que Wilson Witzel (PSC) fosse eleito governador do Rio em 2018, informa a revista Veja

Às vésperas do primeiro turno, conta o criminalista, o juiz vazou depoimento em que Alexandre Pinto, ex-secretário de Obras da prefeitura do Rio na gestão Eduardo Paes (PSD), acusava o então candidato ao governo de envolvimento em fraude a licitações e recebimento de propina. Nythalmar diz ter ouvido do próprio Marcelo Bretas que ele não gostava do ex-prefeito e que "foi importante que a população fluminense soubesse quem era Eduardo Paes antes da eleição".

Segundo o advogado, no segundo turno, Paes, em busca de uma trégua, se comprometeu a nomear uma irmã do juiz para uma secretaria, se fosse eleito. Depois de Witzel ganhar as eleições, ele, Eduardo Paes e Bretas firmaram um acordo informal, narra Nythalmar. O ex-prefeito assegurou que abandonaria a política "em troca de não ser perseguido" (o que não aconteceu, pois foi novamente eleito prefeito do Rio em 2020). Já Witzel nomeou Marcilene Cristina Bretas, irmã do juiz, para um cargo na Controladoria-Geral do Estado do Rio. À Veja, Bretas negou as acusações.

Salles Nobre pede que o MPE investigue os fatos narrados por Nythalmar, visando à possibilidade de anulação das eleições de 2018 e 2020, se o órgão verificar que os políticos foram favorecidos.

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