Contratações públicas

Maioria dos Tribunais de Contas do país não atingem requisitos básicos de transparência

Autor

25 de julho de 2021, 9h13

Os Tribunais de Contas de apenas cinco estados atendem a condições básicas de transparência nas informações fornecidas ao público, e somente seis estados prestam essas informações atendendo a metade dos requisitos de qualidade propostos.

Reprodução
Apenas 15% dos Tribunais de Contas do país respeitam os requisitos de transparência

Reprodução

Esse foi o resultado do relatório "Índices de Transparência e de Qualidade de Informações sobre Contratações Públicas dos Tribunais de Contas", apresentado pela Transparência Brasil.

A organização averiguou a transparência e qualidade dos dados dos Tribunais de Contas em contratos de alimentação escolar. A oferta refeições na rede pública de ensino é uma importante política pública, que movimenta bilhões de reais e é frequentemente alvo de acusações de fraudes e corrupção.

Segundo o relatório, foram detectadas dificuldades no cumprimento de determinações básicas da Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011), como os prazos para resposta às solicitações. Quanto ao conteúdo dessas respostas, o cenário se mostra igualmente preocupante: apenas seis dos Tribunais efetivamente concederam a informação de maneira organizada e razoavelmente completa.

Índice de Transparência
O Índice de Transparência avaliou as condições da transparência ativa e passiva dos Tribunais de Contas, com base em dois índices. O primeiro avalia as condições gerais de transparência de cada TC, e o segundo a completude e qualidade das informações prestadas.

As conclusões alcançadas pelo índice foram consideradas preocupantes pela organização. De um universo de 32 TCs avaliados, apenas cinco deles — aproximadamente 15% — foram capazes de atender a todas as condições básicas de transparência. Obtiveram pontuação menor que 50, não atendendo nem a metade dos critérios, 31% dos TCs.

A pesquisa revelou que apenas 28% dos tribunais publicam as informações contratuais em transparência ativa e apresentam dados em formato aberto e legível por máquinas. Ao verificar quantos dos TCs permitem que se filtrem as informações para encontrar somente os contratos e licitações referentes à alimentação escolar, o percentual caiu para 19%.

O TCE-RS atingiu a nota máxima no Índice de Transparência. A corte demonstrou dispor de uma ampla base de informações para todo o processo de compra pública, desde a fase licitatória até os pagamentos, passando também pela contratação. Além disso, os dados são disponibilizados de forma estruturada, o que permite a conexão entre eles através de identificadores únicos para cada processo de compra.

Os TCs do estado de Pernambuco e dos municípios de Goiás também possuem dados estruturados de forma a permitir uma análise precisa do processo de compras pelos municípios.

Mas na última posição do ranking, os TCE-AP e TCE-AL atenderam somente ao critério mais básico: a disponibilidade de meio para envio de solicitação de acesso à informação. No caso do TCE-AP, a resposta ultrapassou o prazo previsto pela LAI em cerca de 30 dias, e a informação solicitada não foi concedida. Já para o pedido enviado ao TCE-AL, não houve sequer resposta.

Qualidade de informações
No quesito qualidade da informação prestada, 81% dos TCs analisados obtiveram pontuação inferior a 50 (de um máximo de 100). Dentre estes, houve sete casos em que os tribunais não pontuaram, ou seja, não disponibilizaram nenhuma das informações solicitadas de maneira organizada.

A organização conseguiu determinar os principais problemas quanto à qualidade das informações fornecidas pelos tribunais: inconsistência no preenchimento dos dados nos sistemas; ausência de informações de grande parte dos jurisdicionados; falta de estruturação dos dados em transparência ativa; predominância de formatos fechados; e impossibilidade de processamento por máquina.

Segundo os dados coletados, em 40% dos TCs, a informação sobre licitações e contratos de merenda disponibilizada cobria menos de 80% dos municípios jurisdicionados. "Como resultado, há um verdadeiro apagão de dados desse tipo sobre uma parcela significativa de municípios", diz o relatório

A maior parte dos dados avaliados só pôde ser obtida mediante pedido de acesso e em 13% dos pedidos, a informação foi concedida por meio de documentos em formato PDF, ainda que todos os pedidos de informação destacassem a necessidade de concessão da informação estruturada e em formato aberto. A organização considera que o uso de documentos fechados representam um grande entrave para a compreensão das informações mais relevantes para a fiscalização.

Conclusões
A Transparência Brasil concluiu que é comum que os órgãos públicos não publiquem as informações de maneira organizada, atualizada e completa. No país não existem padrões nacionais mínimos na apresentação dos dados contratuais, que possibilitem sua comparação.

"Isso impõe enormes empecilhos e impede que a população saiba, por exemplo, qual cidade gasta mais com alimentação escolar, ou qual município tem o melhor custo benefício na aquisição de merenda. Reduz-se drasticamente a capacidade da própria gestão pública de avaliar a legalidade e a efetividade da implementação da política pública de alimentação escolar", escreveu o relatório.

Por fim, foram apontadas algumas recomendações aos tribunais de contas: estruturação de dados e adoção de padrões de contratos abertos; exigência de prestação de informações atualizadas e corretas por estados e municípios; publicação de dados abertos e atualizados do processo de contratação para promover o controle social em compras públicas; e respeitar a Lei de Acesso à Informação.

Clique aqui para ler o relatório

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!