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Juiz reconhece discriminação por gênero em demissão de publicitários ingleses

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24 de julho de 2021, 9h35

Dois diretores criativos de uma grande agência publicitária de Londres, na Inglaterra, venceram um processo no qual alegavam discriminação por gênero em sua demissão. Eles questionaram a fala de uma diretora mulher em uma palestra, que afirmou que o programa de diversidade a ser adotado pela empresa pretendia "obliterar" a reputação da firma de ser um clubinho só para homens.

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DivulgaçãoSeriado Mad Men retrata agência de publicidade dominada por homens

Os dois, Chas Bayfield e Dave Jenner, trabalhavam na J Walter Thompson (JWT) e foram demitidos junto com outros três homens, em novembro de 2018, em uma tentativa de sanar a discrepância salarial dentro da empresa, conforme narra reportagem do The Guardian.

Na época, a JWT divulgou que os homens que trabalhavam lá ganhavam, em média, 44,7% a mais do que as mulheres. O diretor-executivo criativo da agência na época, Lucas Peon, descreveu a diferença como "muito, muito horrível". "Na Copa do Mundo de piores diferenças salariais, nós chegamos na final", afirmou.

Uma diretora criativa mulher foi então chamada para ajudar a empresa a se desvencilhar da imagem de "clube do bolinha de Knightsbrige" (uma região aristocrática de Londres), na qual "homens brancos heterossexuais fazem anúncios tradicionais" (a expressão usada foi 'above-the-line', que designa propagandas sem segmentação).

A diretora, Jo Wallace, que se identificou como uma mulher lésbica, convocou um seminário sobre diversidade, chamado "Crise: a mãe da mudança". Na conferência, ela disse: "Uma questão sobre a qual todos concordam é que a reputação que a JWT já mereceu — de estar cheia de ingleses homens, brancos e privilegiados — deve ser obliterada".

Depois disso, os dois diretores criativos, que são homens brancos heterossexuais, na faixa dos 50 anos de idade, expressaram preocupação com a manutenção de seus empregos.

Chas Bayfield enviou um e-mail para seu chefe dizendo: "Descobri recentemente que a JWT fez uma palestra na qual foi dito que pessoas brancas, heterossexuais e de classe média seriam obliteradas do departamento criativo. Muita gente está preocupada aqui embaixo."

O diretor-executivo criativo, Lucas Peon, e a diretora de recursos humanos da empresa, Emma Hoyle, chamaram Bayfield e Jenner para uma reunião para conversar sobre o assunto. Segundo o tribunal, Peon e Hoyle acharam que os publicitários estavam questionando a política de diversidade.

Dois dias depois da reunião, foi decidido que os homens seriam demitidos por redundância — o que normalmente ocorre depois da fusão ou compra de uma empresa por outra, mas, no caso analisado, foi justificado pela perda de negócios e faturamento.

Para o juiz trabalhista Mark Emery, que analisou o processo, os homens foram tratados de forma hostil, caracterizando "vitimização". "Tanto a sra. Hoyle quanto o sr. Peon estavam irritados desde o início da reunião, e a situação não melhorou. Eles subiram o tom, e os srs. Bayfield e Jenner foram obrigados a defender sua posição. As explicações que eles ofereceram não foram aceitas na época e seus pontos de vista foram menosprezados. Houve uma falha em aceitar que eles tivessem razão em suas preocupações com a apresentação. Seu ponto de vista foi julgado inaceitável."

O juiz Emery também considerou que a questão do sexo dos publicitários pesou na decisão de Lucas Peon de demiti-los, e que o mesmo não teria acontecido se tivessem sido mulheres que reclamaram da apresentação.

Por fim, o magistrado considerou ainda que não foram apresentadas alternativas à demissão por redundância, como por exemplo verificar se havia funcionários que se voluntariassem para a dispensa antes de decidir mandar os dois reclamantes embora (além dos outros três demitidos, mas esses fecharam um acordo extrajudicial com a empresa).

Assim, Bayfield e Jenner devem receber uma indenização da Wunderman Thompson (grupo que é dono da JWT) com base em discriminação por sexo, vitimização, assédio e demissão injusta.

Mas o juiz negou as alegações dos homens de que teriam sido discriminados também por sua idade, raça e orientação sexual, asseverando que esses fatores não tiveram qualquer influência na demissão. Também foi negada qualquer responsabilização pessoal de Lucas Peon e Emma Hoyle.

Clique aqui para ler a decisão (em inglês)

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