Luto em Brasília

Morre o jornalista e escritor Jaime Sautchuk, aos 67 anos

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15 de julho de 2021, 8h53

O jornalista, escritor e ambientalista Jaime Sautchuk morreu nesta quarta-feira (14/7), em Brasília, após sofrer uma parada cardíaca. Ele tinha 67 anos e deixa três filhos.

PCdoB
Como jornalista, trabalhou na BBC de Londres, nos jornais alternativos Opinião e Movimento, e nos tradicionais O Globo, Estadão, Folha de S.Paulo e Diário da Manhã, além da revista Veja.

Como escritor, publicou os livros Mitaí, A Luta Armada no Brasil entre os Anos 60 e 70 e Antologia Profética, este último uma biografia do escritor goiano Bernardo Élis. Na área de cinema, criou o Festival de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), na Cidade de Goiás.

Sautchuk nasceu em Santa Catarina, no município de Joaçaba, mas era goiano de coração, tendo morado grande parte de sua vida no estado. Atualmente, morava na cidade de Cristalina, região leste de Goiás, local onde mantinha uma reserva ambiental denominada Linda Serra dos Topázios. Foi pioneiro, em Brasília, no movimento pela preservação da Amazônia e do Cerrado.

Filho de ucranianos, Sautchuk militou no PCdoB desde que o partido foi institucionalizado, sem jamais confundir sua atuação política com a jornalística. Em nota, a seccional do Distrito Federal do partido manifestou pesar e solidariedade à família.

"Jaime Sautchuk lutou nos últimos temos contra os arbítrios do governo Bolsonaro e também contra graves problemas de saúde. Foi um jornalista corajoso e firme e contribuiu para veículos importantes como a BBC de Londres, para os jornais alternativos Opinião e Movimento e também para O Globo, Estadão, Folha, Veja e Diário da Manhã. Foi um dos primeiros jornalistas brasileiros a contar a história da Guerrilha do Araguaia. Sua vida também incluía a luta pela preservação da Amazônia e do Cerrado, pela Cultura e o Cinema. Vivemos tristes tempos em que perdemos tantos amigos e amigas, mas o legado de Jaime permanece."

Luciana Santos, presidente nacional do partido, destacou em outra nota que "o Brasil perdeu uma notável inteligência, uma destacada personalidade progressista e um militante da causa socialista".

Bartolomeu Rodrigues, jornalista, secretário de Cultura e Economia Criativa, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do DF e do comitê de imprensa do Palácio do Planalto, lembra do colega com carinho e admiração. "Jaime foi um ícone para uma geração como a minha, que ingressou no jornalismo nos anos de regime militar. Até pelo seu aspecto físico, que lembrava as figuras míticas dos revolucionários do século XX, ele era inspirador, de esperança, em torno de uma proposta socialista, de uma sociedade igualitária, fraterna, humanitária. Isso nos manteve unidos na luta sindical, na luta pela democracia e sobretudo por uma imprensa livre."

"Além disso, foi inspirador e pioneiro na defesa do meio ambiente, se tornando uma das primeiras pessoas a chamar atenção para o bioma do cerrado. A fazenda Serra Linda dos Topázio, de sua propriedade foi uma das primeiras Reservas Permanentes de Proteção criadas no país — o que mostra o pioneirismo do Jaime também nesse campo. E, claro, uma pessoa bem humorada, irônica, e grande apreciador das coisas boas da vida. Me ensinou, por exemplo, a apreciar uma boa pinga e contar boas histórias", rememora.

O jornalista Severino Goes, atual correspondente da ConJur em Brasília, também homenageou o colega. "Nunca tive o privilégio de trabalhar com Jaime Sautchuk, mas por sermos contemporâneos, e numa época em que o jornalismo em Brasília ainda vivia os estertores da ditadura militar, admirava seu trabalho como colega de profissão", conta. "Sempre acompanhei suas reportagens investigativas, tanto em jornais alternativos e de resistência como Movimento e Opinião, seja na Folha de S. Paulo, quando fazer jornalismo era arriscado."

"Lembro, particularmente, de uma de suas reportagens investigativas, quando foi preso pelo Exército ao entrar em um campo de experimentos na Serra do Cachimbo, no Pará, onde militares desenvolveram testes para um programa nuclear paralelo. O 'buraco do Cachimbo' foi fechado definitivamente no governo Collor, com o habitual estardalhaço do ex-presidente cassado."

O fotógrafo Orlando Brito, por sua vez, lembra de quando conheceu Sautchuk, na década de 70. "Conheci o querido Jaime Sautchuk quando ele chegou a Brasília, buscando colocação aqui na cidade. Eu já era um fotógrafo bem posto ali no grupo, e ele chegou novinho e foi conviver conosco, com Etevaldo, Laerte, Teixeirinha, com os bambambans da redação naquela época. E em pouco tempo ele virou um tremendo jornalista."

"Fiz com Jaime Sautchuk incontáveis, inumeráveis reportagens Brasil adentro. Sempre com aquele olhar preocupado com a questão ambiental e humanitária. Ele revelou-se uma grande figura e nos tornamos grandes amigos. Eu não tenho palavras para qualificar o sentimento da perda que eu tenho com a morte do Jaime. E tenho certeza que todas as pessoas que o conheceram têm o mesmo sentimento que eu", lamenta.

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