House of Cards

"Lava jato" usou juízes como lobistas para tentar chegar em Rosa Weber

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22 de fevereiro de 2021, 10h35

Para conseguir decisões favoráveis, a autointitulada "força-tarefa da lava jato" em Curitiba fez de tudo: tentou enquadrar magistrados pela imprensa e por organizações parceiras, como a Transparência Internacional; investigou clandestinamente membros do Judiciário junto com a Receita Federal; e tentou até se aproximar de ministros da Suprema Corte por meio de juízes para transformá-los em lobistas. 

Nelson Jr./SCO/STF
Procuradores tentaram se aproximar de Weber por meio de juízes lobistas

Em 2016, a ministra Rosa Weber assumiu a relatoria de um caso envolvendo o ex-presidente Lula. À época, a defesa do petista questionava o fato de haver simultaneamente duas ações sobre o caso do tríplex, uma correndo em Curitiba e tocada pelo Ministério Público Federal, outra em São Paulo, apurada pelo Ministério Público estadual. 

Puxados por Januário Paludo, um dos mais agressivos integrantes do pelotão de fuzilamento da "lava jato" paranaense, foi lançado o plano: era preciso chegar em Rosa Weber para tentar influenciar o Supremo a manter o processo de Lula no Paraná. 

O caminho era acionar Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba; o então juiz Sergio Moro, que foi assessor de Weber; e Rachid — provavelmente Rachid de Oliveira, assessor de Edson Fachin. Os três, por sua vez, tentariam falar com um juiz auxiliar que atuava com a ministra, identificado no diálogo apenas como "Mateus". 

O MPF sabia o itinerário de seus parceiros. Paludo diz a Dallagnol que é fácil encontrar Rachid no portão de embarque para Brasília por volta das 9h da manhã. 

A conversa mostra o caráter adaptativo dos procuradores, já que em outro momento, conforme noticiado pela ConJur no começo de fevereiro, eles tentaram coagir a ministra do STF, se valendo da imprensa para isso. 

Na ocasião, um dos integrantes do MPF se mostrou contrariado porque o ex-presidente Lula iria despachar com Weber (o que jamais aconteceu). O problema, disse Roberson Henrique Pozzobon, é que a ministra "não tem a menor noção do caso". 

Suscita-se acionar a procuradoria-geral da República, o que foi descartado com uma arma muito melhor para "neutralizar o inimigo": o juiz Sergio Moro. "A simples publicidade vai colocá-la na parede", arremata Deltan Dallagnol. 

Josegrei
Essa não é a primeira vez que o juiz Josegrei aparece nas conversas. Conforme mostrou a ConJur em 5 de fevereiro, o magistrado era um dos preferidos do MPF, junto com Moro. Dallagnol chegou a dar a entender que o melhor momento de buscar decisões favoráveis era quando o Josegrei estivesse atuando.

Em diálogo de junho de 2015, o juiz havia citado contas não comprovadas para ordenar a prisão do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Ao determinar a preventiva de Cerveró, escreveu que o acusado "provavelmente mantém depósito em contas offshore fora do país". Admitiu que não havia nenhuma prova da existência dessas contas, mas justifica que elas "ainda não foram possíveis de ser identificadas e rastreadas".

Em agosto de 2016, Dallagnol volta a defender Josegrei conforme mostram diálogos divulgados recentemente. À época, o procurador estava preocupado com a saída do juiz Sérgio Moro do comando da 13ª Vara Federal de Curitiba no final daquele ano. Dallagnol disse que o grupo de procuradores precisava "trabalhar com o nome do Josegrei". 

Josegrei foi juiz da operação "carne fraca", investigação de março de 2017 contra frigoríficos que teve 38 mandados prisões e 77 conduções coercitivas. Um escândalo internacional com prejuízos estimados em US$ 2,7 bilhões. A intervenção de Josegrei no mercado reduziu a presença brasileira no mercado internacional.

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